De recolher pensamentos no decorrer do tempo e formar nova realidade por dentro, através das palavras que descem ao papel. São lembranças, emoções, sentimentos; retalhos da presença da gente com a gente mesma, num processo de contar o que se passou no tribunal da consciência. Às vezes, são duras penas, saudades, angústias, etc.; e doutras, alegrias, doces recordações, planejamentos e encontros consigo próprio, nessa jornada de viver e aperfeiçoar o sentido das horas no íntimo. Viram imagens mentais que as letras reúnem por meio do discurso e das falas escritas. Nisso, as previsões de um futuro que nascerá de nossos braços e que nem nós sabemos o quê ou quando virá.
Esse jornal que vem e vai no território interno das pessoas
serve de motivo a imaginar o ser que somos, longe, no entanto, da realidade
plena que todos buscam sem saber direito o que seja. Representa a produção de
significados de onde colhemos as experiências e transformamos no diálogo interno,
a fim de construir um eu melhorado, aprimorado, que, lá certa vez, fará de nós
alguém que venha merecer a vida de novos seres. Um processo de aperfeiçoamento
em que revisamos as atitudes e modos de plantar as sementes da evolução.
Escrever, pois, qual quem analisa a si e trabalha o ente que
ora seja na personalidade, no caráter, longe de poder esconder a verdadeira
natureza que já conhecemos agora. - Quem engana se engana, qual diz a sabedoria
do povo. Autoconhecimento, autocrítica, isso bem representa o instante atual de
todos, em fase contínua de revisão, nos textos que produz.
O que vejo de maior destaque nisto de mergulhar na alma e
desvendar seus mistérios demonstra que estamos onde precisamos estar e que
existe um itinerário a cumprir no decorrer de tudo. Nós conosco, nesta empreitada
rumo a níveis mais adiantados de perfeição. Limpar o ser que aqui vemos e
aspirar graus maiores de esperança e felicidade, à medida que pratiquemos as
virtudes adquiridas em cada existência. Nós, senhores da realização do Ser em
si mesmo. E as palavras a servir de instrumento a tais avaliações continuadas.
(Ilustração: O jardim das delícias terrenas, de Pieter Brueguel, o Velho).