A disposição que persiste durante todo esse tempo, desde quando chegaram as primeiras manifestações carnavalescas na sociedade, significa o aspecto escuro da personalidade que vem à tona, lá onde conflitam negatividade e positividade. Símbolo da ilusão dos instintos, as festas carnavalescas caracterizam por demais a expansão do desejo e liberação de valores negativos da criatura humana. Espécie de catarse coletiva, os grupamentos sociais esbanjam descompromisso e despejam propensões ao lado sombrio que transportam, isso numa individualidade liberada a nível comunitário. Carregam consigo a dualidade característica da carne e, enquanto não a dominarem, se veem na condição de expandir sem censura, nem que seja nalguns dias do ano, a força negativa desses valores os quais defrontam durante meses.
Assim, as coletividades adotam comportamentos de
exteriorização de aspectos da personalidade individual que sejam vivenciados e presenciados
em grupo, na intenção de buscar saturação e expansão da presença da matéria na
própria constituição de si mesmo, mesmo que custe marcas profundas de dores e
irresponsabilidade.
Qual tudo, afinal, aquela festa, que denominaram o festival
da carne, também impõe condições de saturação ao espírito, que precisa vencer o
lado negativo de si e lá um dia conciliar respostas positivas durante o
processo da evolução das pessoas.
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Neste ano de 2022, perante o surto pandêmico de virose
mundial, as autoridades vêm tendo a orientação de evitar as práticas dessa
tradição, sobretudo no Brasil, país em que a festa possui maior manifestação. Dentre
as mudanças que aconteceram depois do aparecimento da pandemia do Covid-19, há
modificações em cheio no calendário turístico nacional e condiciona os costumes
em todo lugar. Desse modo, quase que por encanto, desaparecem os desfiles, as
fantasias, as festas de rua, de clubes, refreando viagens, gastos e lucros de
muitos, sobremodo nas grandes cidades.
Em situação imprevisível, a bem dizer, a humanidade
atravessa fase de reconsideração de um tanto dos costumes antes tradicionais das
coletividades; isso de suspender as festas do Carnaval, com ênfase nos países católicos,
é um exemplo, vez que ocorre quarenta dias antes da Semana Santa.
Daqui adiante, ao que indicam os novos comportamentos
praticados, existirá acontecimentos radicais dos modos e práticas sociais,
porquanto a Natureza determina, pois, maiores atenções aos excessos e
indiferenças que até recentemente pareciam fazer daquilo que dizia respeito ao desconhecimento
de suas leis as quais a Ciência ainda está longe de conhecê-las por inteiro.
(Ilustração: Brueguel, o Velho, A luta entre o Carnaval e a Quaresma).