Sentar o juízo e ficar só aqui escutando o ciciado das cigarras no escuro da floresta. Deixar de lado irreais preocupações desses tempos e permitir que a natureza converse consigo, decisão mais acertada, sem outra que seja senão deixar que as normas dos céus envolvam o chão neste momento. Ouvir o silêncio das horas lá de dentro dos sentidos atrás dos pensamentos, qual jeito de mergulhar nos sobressaltos e garrotear as ilusões. A gente com a gente mesma, pedaços iguais do mistério das horas em movimento. Nós, enfim, esses escravos senhores dos sóis, o que vem sendo assim desde sempre, quando ninguém seria capaz de aventurar a sorte na roleta dos destinos.
Enquanto isto, as portas do espaço se abrem às falas que
nascem dos ares em festa, dos bichos, das matas, do calor do meio dia, das
dores e das movimentações dos humanos cá de fora. Todos tendo uma razão parcial
de continuar, e continuar, senhores da indecisão. Águas incontidas nas
criaturas que percorrem o teto da vontade, instintos de viver solidão por vezes
preenchida de longas histórias esquecidas. Gotas suaves, pois, de tantas
alegrias atiradas às fogueiras do sonho, porém certas de um quase nada de saber
porquê.
Elas, as cigarras, são tais avisos da hora aos mistérios deste
sacrifício de tantos autores, sonoras parceiras do amor no coração, toques
intermitentes do ritmo e das cores, nisso tudo. Uns padecem horrores diante dos
passos que dão a caminho de depois; outros apenas dormem felizes ao prazer do
anonimato do que virá sem dúvida.
Senhores dos no entanto, sacodem assim os braços face aos
desejos por mais alimento e sofrem as dores do parto da indecisão, inocentes da
certeza e dos amores, puros e aparentemente libertos, vítimas das próprias
vilezas.
De entremeio, sabiás ponteiam a sinfonia do início de tarde
e trinam quais cigarras, numa composição inesquecível de viver a vontade imensa
de achar paz que em tudo existirá, afinal.