O passado não existe mais. O futuro ainda não chegou. Estamos exatamente na fronteira dos dois infinitos. Dois lados de uma única estação. Somos os heróis de nós mesmos a transportar este fardo de um lado a outro, e nem seguiremos juntos dele, porquanto haverá outros níveis de compreensão que precisamos conhecer. Restos das horas, isto é o que somos durante todo tempo. Ânsias, vontades, ausências, tudo, afinal, em uma só persistência de vencer a fuga dos momentos que escorrem pelos nossos dedos na direção do Infinito. Houvesse alternativas outras que não fossem deixar correr o rio do Tempo e seríamos os criadores da Natureza. No entanto cabe assistir esse fluir do movimento e admirar as possibilidades que pesam em nossas mãos. Enquanto que, mesmo assim, dispomos das razões de viver com intensidade o direito de investir nessa construção da consciência diante do fugidio. Trabalhar todos os meios de que dispomos a fim de encontrar a libertação da fragilidade humana. Quais destinados à preservação de nossas almas, relutamos em desaparecer, vez que inexiste tal perspectiva.
Sempre nos deparamos com este quadro a qualquer instante.
Ninguém significa inexistência. Dentro de toda pessoa viverá acesa a chama
perene na descoberta dos caminhos que levarão ao definitivo, fruto da condição
de todos, no senso da Eternidade. Detectores da verdade, seguiremos estradas
afora, artesões da nossa presença no trilho das leis definitivas. Este o condão
essencial do que somos, seres talhados ao crescimento e senhores, lá um dia, do
poder de partilhar diretamente dos segredos universais da Criação.
Essas aves da salvação, conduzimos a perfeição em forma
latente, força inesgotável da ciência e espíritos da imortalidade. Bem aqui,
por isso, trazemos a luz guardada em nossos corações, que brilharão aos céus no
tempo certo da plenitude, que ora trazemos em nós na forma de filhos diletos do
Infinito que aqui habitamos.
(Ilustração: O espelho infinito, de Yayoi Kasuma).