Carlos Rafael Dias
Sou do tempo em que se assistia filmes, notadamente, em tela grande, no aconchego indefectível do escurinho das salas de cinema.
Na minha infância, tinham três cinemas em Crato, na emblemática e
cinematográfica região do Cariri Cearense: Cine Cassino, na praça Siqueira
Campos; Cine Moderno, no final do Calçadão da rua José Alencar, e o Cine da
Rádio Educadora, no bairro do Pimenta. Ia para todos, assiduamente, onde
assisti grandes clássicos da sétima arte, como Paixão de Cristo, Marcelino Pão
e Vinho, Ben-Hur, Os Dez Mandamentos, Help! (dos Beatles) e muitos filmes do
cinema tupiniquim, com destaque para a obra de Amácio Mazzaropi, que eu
adorava.
Ainda na adolescência, os cinemas cratenses fecharam todos, vitimados
pela popularização da TV e, depois, pelo aparecimento do videocassete. Mas a minha paixão pelo cinema tradicional
nunca arrefeceu.
Por essas épocas, fiquei sabendo que minha cidade, tal como a
Cataguases de Humberto Mauro, tinha uma tradição na produção de filmes. Soube
de tudo isso quando conheci Jackson de Oliveira Bantim, o Bola, no bojo dos
movimentos artísticos que se desenrolaram no Cariri no final dos anos 1970 e
início dos oitenta.
Soube dos filmes feitos pela rapaziada do Grupo de Arte Por Exemplo,
depois transformado no Movimento Nação Cariri: Rosemberg Cariry, Jefferson
Júnior, Luiz Carlos Salatiel, José Roberto França, Luiz José dos Santos,
Emerson Monteiro e o próprio Bola, dentre outros, que seguiam a estética do
Cinema Novo misturada com a Nouvelle Vague francesa.
Filmes documentários e de ficção, como A profana comédia, Terra
ardente, Patativa o poeta do povo,
Músicos camponeses, Dona Ciça do Barro Cru e O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto
foram algumas das películas rodadas na região.
Bola Bantim, juntamente com Rosemberg Cariry, foi um desses cineastas
que mantiveram essa tradição. Rosemberg, hoje um nome de destaque no cenário cinematográfico
nacional, e Bola militando, com todas as dificuldades interpostas, no cenário
nativo.
Entretanto, essa diferença de compasso territorial não tem sido um
obstáculo para que Bola Bantim seja um cineasta, assim como Rosemberg , de um
grande público e de uma grande obra.
Graças às novas mídias digitais, Bola vem conseguindo a proeza de ser
universal e de massa. O seu filme As sete almas vaqueiras, de 2008, atingiu, na data desta postagem, a
significativa marca de 66 mil acessos no You Tube.
Um marco para ser celebrado e para servir de estímulo aos novos
cineastas e videomakers que se estão iniciando nesta seara árida, porém mágica
da cinematografia.
Parabéns, Jackson “Bola” Bantim.