Esse enigma frontal das espécies age incontinenti vidas a fio, horas sem conta, marcando o ritmo das contradições humanas. Ser ignoto, invade o firmamento das luas e logo desaparece feito ser fantástico das histórias em quadrinhos; ninguém viu, ninguém curtiu, apagou simplesmente e pronto. No entanto marca bem, deixando largos vincos nas lamas do passado, pedras, paus e instrumentos de ausências e solidão. Reúne e separa com extrema facilidade, pessoas, objetos e quejandos.
Contudo traz fortuna, poderes, fama, amores, prazeres, e nada pede, apenas transita pelos astros tal poder sem limites, divisor das águas do Paraíso e mutabilidade constante das civilizações. Tempo, que pare e devora seus próprios filhos, no que assim falavam os gregos de antigamente. Vaidade, vaidades, tudo sendo vaidade, avisava o Rei Salomão. Nisso vagam os sois pelos céus, trilho das certezas de que nunca existirá o pouso exclusivo da felicidade durante os séculos da matéria em decomposição, engano de tantos, que apresenta o desejo da fome a pretexto de tudo usufruir.
Bom, perante a insistente dominação do invisível desse ente poderoso, resta aceitar nascer vezes quantas até descobrir a razão do que haverá no transcorrer das gerações, já que um dia ver-se-ão face a face no seio do mistério, humildemente rendidos aos sonhos inesquecíveis da real condição deste chão dos infiéis e dos santos.
(Ilustração: A persistência da memória, Salvador Dali).