Mas as manhãs igualmente mostram faces radiosas de luz, aves que balbuciam a brisa nas árvores, marulhar dos riachos lá fora; nisso, no palpitar dos instantes, caixas e caixas do invisível percorrem o mar imenso do espaço das palavras e dos sentimentos; a largueza do vazio silencioso, contundente, revira o turbilhão das horas, enquanto a natureza todos conforta e domina. Saber-se existindo e sorver o momento, eis a razão principal de tudo quanto circula nos humanos por vezes alegres, cheios de vida, que saem aos dias frios envoltos no manto dourado que os aguarda. Com isso, em face das fragilidades que ainda cobrem o mais íntimo coração, percorrem as calçadas quase que cientes da Verdade, e mergulham o impossível à cata de pedras preciosas e paz; de alma larga, sentidos ligados aos motivos de pisar a lama desses pântanos, eles descobrem pouco a pouco serem coautores da Libertação que lhes espera logo ali adiante no abismo do Infinito.
(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).