Erivanda de Lima Medeiros
(1949-2019)
Carlos Rafael Dias
Os belíssimos e tocantes versos de Bertolt Brecht, que abrem a canção Sueño con serpientes, de Mercedes Sosa, bem que mereciam, em louvor a Erivanda, uma pequena adaptação:
Hay mujeres que luchan un día y son buenas
Hay otras que luchan un año y son mejores
Hay otras que luchan muchos años y son muy buenas
Pero hay las que luchan toda la vida
Esas son las imprescindibles
Erivanda se encaixa, com todas as letras e todas a lutas, na terceira categoria de mulheres, as que lutam por toda a vida. Por isso, são imprescindíveis.
Na sua transcendência, Erivanda não encontrou a paz na sua integralidade. Mas, isso, não lhe foi um demérito. Ao contrário, sua paz não dependia de seu próprio bem-estar ou de uma busca espiritual egocêntrica. Não se pode conceber a paz sem que a justiça seja respeitada enquanto um valor intrínseco ao ser humano.
Erivanda era um ser coletivo em todo os sentidos. Se fez povo e pelos mais humildes e necessitados ela empenhou sua vida e sua luta. Então, como ela poderia encontrar o nirvana neste mundo caótico em que vivemos?
Ontem, fui prestar-lhe uma última reverência e observando o pesar que se abatia sobre as pessoas que a estavam velando, confirmei o que sempre achava: a gente colhe o que planta, mas tem pessoas que são mais do que isso. Algumas são sementes. Erivanda, agora, é a própria colheita.
Erivanda, literalmente, uma veneranda mulher. Deixou um imenso e indelével legado que a fará sempre presente onde tiver uma injustiça a ser reparada.
Erivanda Marielle Margarida da Penha, presente!