Nós, entretanto, fazemos caso do pouco que nos cabe desses valores em movimento; corremos contra a fluidez dos episódios insistentes, lições continuadas de persistência; desejos de prosseguir além das barreiras do depois; só desejo, mera soma de fatores e fragilidades; nós, cavaleiros errantes do presente, sombras que deslizam apressadas na tela dos pensamentos. Às vezes pergunto o que restará dos fragmentos nas refeições de todo dia, quando nem de ontem nos lembraremos de mais?
Bom, mas insistem os pássaros a cantar, a flores a florir, o Sol a percorrer os céus; aonde dirigiremos tanta aflição de permanecer durante a faina do constante desaparecimento? Quantas músicas, livros, filmes, histórias, esperam de nós a compreensão, sabor e felicidade? Expedicionários do destino, pois, tangemos esses rebanhos das circunstâncias e sonhamos viver eternamente diante do fugidio que, esplendoroso, passa ritmado.
Ainda assim herdeiros da beleza universal que desfrutamos, no mistério do Paraíso das existências e usufruir do poder de ser infinito sem saber, à medida que interpretarmos o enigma da Consciência seremos parceiros fieis da Criação e tocaremos a valsa do instante, senhores de Si, porém que haverão de conhecer o segredo das virtudes logo ali nas dobras do caminho. Luzes em crescimento, nisso elaboramos a finalidade que nos traz aqui e alimenta, generosa, o jardim das nossas almas, filhos diletos do Amor maior.
(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).