Lá um dia, no entanto, inventariam de criar, juntar palavras e montar frases. Nos começos, em formas de barro, tabuinhas, tijolos largados nas encostas dos morros dessas ruínas que o povo gosta de visitar nas saídas que dão pelo mundo. Adiante, numas folhas de plantas aquáticas, nas bandas do Egito. Marcar, assinalar de imagens restos de troncos secos e trabalhar os papiros. Até que chineses inventaram o papel e os tipos móveis. Desde então resistem ao silêncio e querem fomentar noutros aqueles pensamentos velhos, aflitos, que sabiam perder no embate entre as ondas e os rochedos inanimados.
Virou isso de untar letras nessas máquinas sofisticadas e mexer a compreensão das outras criaturas, espécie de vontade petulante e figuras gráficas, as páginas luminosas de chegar aos outros mais distantes. Postulados volumosos enchem, pois, as estantes, bibliotecas inteiras, de volumes encaixotados debaixo de sete capas, livrarias, bancas, lixões, museus e revistas. Largos tetos formam a herança do que disseram as lâminas de escrever. Sonhos, profecias, valores filosóficos, tumultos históricos, memórias impacientes, construções monumentais de lendas de tudo quanto é autor, do zero ao infinito, horas a fio trazidas cá fora, do instinto de contar do desespero e passar o momento, e lembrar-se de guardar o mínimo das relíquias boas de viver e ter consciência disso. Enquanto letras existirem, ali de junto haverá escribas que lutarão aflitos na intenção de preservar o sangue que escorrer nas veias e invadem os pensamentos a escrever.