Na próxima 4ª feira, 30 de maio, à noite, a população católica de Crato assistirá – na Praça da Sé – a tradicional solenidade de coroação de Nossa Senhora. Este ano será coroada a imagem histórica de Nossa Senhora da Penha. Abaixo a história desse patrimônio artístico-cultural-religioso da cidade de Crato.
Imagem de Nossa Senhora da Penha, escultura em madeira venerada como padroeira
dos cratenses de 1745 a 1938 (foto: Jackson Bantim)
"Esculpida em madeira, medindo 0,88m de altura, colocada sobre uma penha de 0,14m (figurando uma rocha) tudo talhado num mesmo tronco, a Virgem da Penha se apresenta segurando o Menino-Jesus no braço esquerdo e empunhando na destra um cetro. Sua fisionomia é serena e séria, o que lhe dá um porte majestoso e tranqüilo, de cativante simpatia. Esta imagem não se constitui somente numa valorosa relíquia, é também uma autêntica obra de arte". (LÓSSIO, Rubens Gondim. Artigo “Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira do Crato” Revista “Itaytera”, ano VI, nº VI, órgão do Instituto Cultural do Cariri. Tipografia A Ação, Crato (CE) 1961.).
A descrição acima sintetiza bem a segunda imagem venerada como padroeira dos cratenses, entre 1745 e 1938, durante quase dois séculos. Esta escultura foi doada à humilde capela da Missão do Miranda – origem da cidade de Crato – pelos frades capuchinhos do Convento da Penha de Recife, no ano 1745. Sobre ela existe boa documentação, como veremos a seguir.
Monsenhor Rubens Gondim Lóssio cita em seu trabalho um artigo da Revista Dom Vital (nº de agosto/setembro de 1955) sob o título “Resumo Histórico”, onde consta às páginas 7/8:
"Em 1733, o Prefeito da Missão (dos Capuchinhos de Recife), Frei Boaventura de Pontremoli, ampliou a antiga capela, resolvendo seu sucessor, Frei Carlos José de Spezia, em 1745, substituir a vetusta imagem dos franceses por uma nova estátua, feita em Gênova pelo escultor Maragnone que a modelou artisticamente sobre a primitiva, logo depois enviada para a Missão do Miranda no Crato". (grifo meu).
A imagem doada à Missão do Miranda em Crato havia chegado à cidade de Recife, no ano de 1641, tendo ali permanecido durante 104 anos. Monsenhor Rubens Lóssio reproduziu, ainda, textos de Frei Fidelis Maria de Primério (autor do livro Capuchinhos em Terra de Santa Cruz, nos séculos XVII, XVIII e XIX, editado em 1940). Infelizmente, Mons. Rubens não citou a editora, nem cidade onde este livro foi publicado. Abaixo, os dois textos transcritos:
"A versão geral acerca dessa prodigiosa imagem, é que ela foi trazida para Pernambuco por cinco missionários capuchinhos, que se dirigiam para a Guiné e foram, no litoral africano em 1641, atacados e presos pelos corsários holandeses, calvinistas que infestavam aquelas águas. Os missionários foram mui maltratados pelos corsários e, por fim, entregues aos holandeses que dominavam Pernambuco. Esta tradição geral, que bem desposa a história dos novos missionários, apresados nos galeões espanhóis, quando rumavam para a Guiné, explica-se facilmente porque os missionários puderam conservar consigo o precioso tesouro, que intentavam levar às tribos africanas, qual estrela de salvação, e ao invés veio para terras pernambucanas. Os corsários holandeses apresavam para levar à sede, Pernambuco: o interesse exigia-lhes que respeitassem a presa, ainda que não condissesse com suas crenças".
"A preciosa imagem de Nossa Senhora da Penha, que fora respeitada pelos próprios hereges, tornou-se a santa de preferência do povo pernambucano, que lhe ergueu um majestoso templo. O culto da mesma Senhora fez com que se obliterasse o título da Capela que a acolheu em 1641, a qual estava dedicada ao Divino Espírito Santo, e que passou a chamar-se “capela” e depois “igreja da Penha”. A pequena imagem dos franceses foi em 1745, por Frei Carlos de Spezia substituída pela atual, feita em Gênova, modelada pela antiga”. (...). “ Ora, esta substituição, como ficou demonstrada acima, deu-se com a remessa da imagem para a Missão do Miranda".
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael