(Excertos de um artigo publicado há 17 anos na revista A Província – nº 18, ano 2000)
O “ôba-ôba”
tão característico destes tempos medíocres, quando a maioria das
pessoas não tem profundidade em nenhum assunto; quando a televisão “faz a
cabeça” da massa ignara; nos obriga a ouvir, vez por outra, falar sobre
a “tradição republicana” de Crato. Não existe essa alardeada “tradição republicana em Crato”. É mera falácia!
O leitor me conceda só um tempinho, para eu justificar o meu pensamento. Começo por lembrar que o aniversário do golpe militar que
implantou a República – em 15 de novembro de 1889 – nunca foi
comemorado em Crato. Nesta cidade o povo comemora muitas datas: 7 de setembro, 21 de Junho, 1º de setembro (Nossa Senhora da Penha), 19 de março
(São José) festeja as datas de São Francisco, dentre outras. Agora,
“comemoração” no dia 15 de Novembro – data da “Proclamação da República”
– nunca se viu.
E por que isso acontece? Ora, o Crato, durante 149 anos (de 1740
quando foi fundado, a 1889, quando houve o golpe militar que empurrou
goela abaixo da população a forma de governo republicana) viveu sob a
Monarquia. Não se apaga facilmente um século e meio na vida de um povo.
Basta dizer que dos 70 anos que o comunismo dominou a Rússia com chicote
e baioneta não restou nada de concreto. Imagine 149 anos. Por isso, no
imaginário popular, persiste a ideia de que a Monarquia é algo de
elevado nível, respeitoso, honesto e bom.
Tanto isso é verdade que, ainda hoje, quando o povo reconhece numa
pessoa certos méritos ou qualidades acima do comum, costuma dar-lhe o
título de “Rei”. Por isso temos ou tivemos; “O Rei Pelé”, “O Rei Roberto Carlos”, “O Rei do Baião”, “O Príncipe dos Poetas Populares” (o repentista Pedro Bandeira) etc. E o que dizer dos concursos que se realizam para escolha da “Rainha do Colégio”, “Rainha da Exposição”? e de nomes de lojas como “O Rei da Feijoada”, “O Império das Tintas”? Ou nomes como “Rádio Princesa FM”, “Colégio Pequeno Príncipe”?
Portanto, é um mito sem consistência essa alardeada “tradição republicana”
de Crato. Precisamos ter coragem para proclamar isto, pois ela não
reflete a realidade. Ainda não se conseguiu sensibilizar as camadas
populares para comemorar, em Crato, o golpe militar que impôs no Brasil
essa fracassada República. Sempre foi assim. Vai ser assim, também, no
próximo dia 15 de novembro, quando o país vai parar – num feriado
nacional artificial e inútil – em comemoração à pseudo “Proclamação da
República”.
No duro – no duro mesmo – “República” para o povo é sinônimo de
"república de estudante", ou seja, uma casa bagunçada, desorganizada.
Ou serve para lembrar as notícias que vêm da Capital da República, a
triste Brasília, Capital Mundial da Corrupção. “República”
continua a ser, no imaginário popular, a lembrança da roubalheira, das
propinas pagas aos políticos, da incompetência, da demagogia, da falta
de segurança, da falência da saúde pública, da precariedade da educação
pública, das filas dos aposentados (expostos ao sol e à chuva) na fila
das calçadas dos Bancos para receber suas míseras aposentadorias, das
obras públicas inacabadas, da falta de respeito para com a população, do
grosso do noticiário que chega pela televisão aos nossos lares:
"Mensalão", "Petrolão", Lava Jato, Delação Premiada, malas com milhões
encontradas em apartamento...
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