Na
última campanha para a presidência da República, Dilma Rousseff anda de
trem durante visita à ferrovia Transnordestina, em Paulistana, no Piauí
Em
Missão Velha (CE), trilhos empilhados enferrujam com a ação do tempo.
Em Salgueiro (PE), onde seria instalada a maior fábrica de dormentes da
América Latina, máquinas estão paradas.
Principal
obra de infraestrutura em andamento no Nordeste, a ferrovia
Transnordestina completa dez anos desde o início da sua construção com
53% da obra concluída e R$ 6,3 bilhões gastos em recursos federais.
Com
previsão de 1.753 quilômetros de extensão, a ferrovia foi projetada
para ligar o cerrado do Piauí aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE),
passando por regiões do sertão cearense e pernambucano.
A
obra foi lançada em julho de 2006 pelo então presidente Lula (PT),
poucos meses do início da campanha eleitoral que resultou na sua
reeleição, com a promessa de ser entregue três anos depois.
ontudo,
a construção chegou ao pico só em 2010, ano da primeira eleição da
presidente afastada Dilma Rousseff (PT), e desde então vem caminhando em
ritmo lento.
Ao todo, foram
assentados apenas 600 quilômetros de trilhos, segundo a concessionária
Transnordestina Logística, empresa da CSN (Companha Siderúrgica
Nacional) responsável pela obra.
Os trechos finalizados estão no entorno de Salgueiro (PE), mas não há trens operando em nenhum dos eixos.
Prefeito
da cidade, Marcones Libório de Sá lamenta o atraso: "A Transnordestina
veio com a promessa de transformar a economia de toda uma região, mas
frustrou a esperança da população".
A desmobilização dos canteiros trouxe como principal impacto o desemprego e a queda na venda do comércio.
A
ferrovia é considerada uma das obras mais importantes para o Nordeste
por ligar a nova fronteira agropecuária, que engloba áreas de cerrado de
Piauí, Maranhão, Bahia e Tocantins, aos maiores portos da região.
Esse corredor logístico reduziria em até 75% o custo do frete para o transporte das safras de soja, milho e algodão.
Além do agronegócio, a ferrovia também atenderia empresas de mineração.
Presidente
da Aprosoja (associação de produtores) no Piauí, Moisés Barjud vê a
obra como reflexo da ineficiência, além de refletir um hábito do setor
público de iniciar grandes obras e não terminá-las.
"Essa
é uma obra de impacto econômico e social fortíssimo. Não adianta ter
uma boa expectativa se a obra não termina. É preciso concluir."
O
custo total da Transnordestina também cresceu ao longo dos últimos de
anos. A ferrovia foi estimada em R$ 4,5 bilhões, mas o cronograma atual
prevê investimentos de ate R$ 8,2 bilhões.
Em
comunicado divulgado nesta sexta (5), a concessionária afirma que
investirá mais R$ 3,6 bilhões com recursos captados em contratos de uso
da malha da ferrovia.
A empresa
informa que o adiamento do cronograma das obras é resultado de "atraso
na liberação de recursos pelos órgãos federais".
Segundo
a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), os atrasos são
resultado da complexidade da obra, que teve entraves em questões como
desapropriações e financiamentos.
("Folha de S.Paulo", 06-08-2016)