A
presidente afastada reconhece que não há mais nenhuma chance de
retornar ao cargo e quer que o processo de impeachment termine logo
Por Daniel Pereira Laryssa Borges
CLIMA DESFAVORÁVEL - O desabafo de Dilma Rousseff foi relatado pelo senador Renan Calheiros (Adriano Machado/Reuters)
Na
terça-feira passada, Michel Temer ofereceu um jantar no Palácio do
Jaburu aos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Rodrigo
Maia. Não havia uma pauta específica. O objetivo do presidente interino
era mostrar à imprensa uma situação de harmonia entre os chefes do
Executivo e do Legislativo, para contrastar com o clima beligerante no
governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Tudo correu conforme o
planejado, com uma revelação inesperada. Renan Calheiros disse a Temer
que a petista jogou a toalha e admitiu não ter mais chances de impedir a
aprovação do impeachment no Senado. Segundo o relato do senador, Dilma
desabafou nos seguintes termos: “Quero acabar logo com essa agonia”.
Calheiros
é a expressão mais viva do que se pode chamar de “político de
Brasília”. Isso significa que está sempre ao lado do poder. Há poucos
meses, estava empenhado em desalojar Temer da poderosa presidência do
PMDB e, se possível, deixá-lo distante da rampa do Palácio do Planalto.
Foi um dos generais da batalha de Dilma para barrar o impeachment. Sendo
um “político de Brasília”, Calheiros é um termômetro quase infalível
para detectar a temperatura do poder. Se conversa em tom de confidência
com Temer, por quem nunca nutriu grande simpatia, é sinal de que tem
certeza de que Dilma não conseguirá recuperar o mandato.
A
percepção do senador, no entanto, não é propriamente um privilégio. É
difícil encontrar em Brasília, mesmo dentro do PT, alguém que acredite
na volta de Dilma ao Palácio do Planalto, ainda que as pesquisas de
opinião mostrem que mais de 60% do eleitorado prefere a convocação de
novas eleições. A questão central é que Michel Temer, em apenas dois
meses de interinidade, conseguiu plantar um clima de estabilidade na
política e na economia, que favorece sua permanência no poder. Pelas
contas do senador Romero Jucá (PMDB-RR), demitido do Planejamento por
conspirar contra a Lava-Jato, 61 dos 81 senadores votarão a favor do
impeachment. Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, aposta que o número
pode chegar a 63 senadores, incluindo Calheiros.
É tamanha a
confiança que Geddel Vieira Lima, o ministro encarregado de negociar com
o Congresso, tirará nos próximos dias uma semana de férias. “A fatura
está liquidada”, reza o mantra da hora no PMDB. Temer, por via das
dúvidas, não descuida de usar a máquina pública para sacramentar sua
vitória. De olho nas ruas, sancionou reajustes salariais para servidores
públicos e anunciou a ampliação dos financiamentos da Caixa Econômica
Federal para a compra de imóveis. Num aceno aos congressistas, vetou
novos cortes no Orçamento da União e determinou que sejam nomeadas
imediatamente as pessoas indicadas por deputados e senadores de sua base
de apoio para ocupar cargos públicos. Na quarta-feira, o ministro
Geddel Vieira Lima recebeu Jovair Arantes (PTB-GO), relator da comissão
do impeachment na Câmara, para sacramentar a distribuição de cargos
federais em Goiás entre os parlamentares do estado.
Colaborou Marcelo Sakate