Na última 5ª feira, 5 de fevereiro de 2015, Monsenhor Ágio Augusto
Moreira chegou aos 97 anos de idade. Fui visita-lo, e o encontrei
acamado, embora alegre e lúcido como sempre. Disse-me ele naquela
ocasião: “Não sei o porquê de Deus ter me dado vida tão longa. Mas desde algum tempo tomei uma decisão e venho cumprindo: tudo que sofro eu ofereço pelas almas do purgatório”. Esboçou um leve sorriso e acrescentou: “Sei que vou passar pelo purgatório quando morrer e tenho que fazer muitas amizades por lá...”.
Monsenhor Ágio é uma das personalidades mais marcantes do rico patrimônio humano do Cariri. Ele reside no bairro Belmonte, em Crato, numa casinha singela, de onde pode contemplar as encostas da Chapada do Araripe. Aliás, Araripe, na língua indígena, significa “Lugar onde nasce o sol”. Todos os dias o sol nasce por trás das encostas araripanas, um lugar de rara beleza... Colada a residência do Pe. Ágio fica a capelinha de Nossa Senhora das Graças, por ele construída com a ajuda do povo. Em frente, está localizada a Sociedade Lírica do Belmonte, mantenedora da
Orquestra Sinfônica Padre Davi Moreira. Atrás, em amplo terreno, o Governo do Ceará está concluindo uma grande construção: A Vila da Música do Cariri. Lá, em amplas salas, que serão dotadas de muitos instrumentos musicais, os pobres da redondeza continuarão aprendendo música e fazendo parte da única orquestra sinfônica rural do Brasil.

Sacerdote piedoso, simples, despojado e humilde, Monsenhor Ágio está sempre de benquerença com os semelhantes e a vida. Sua fisionomia sempre risonha deixa transparecer a paz de espírito que leva na alma. Ele também recebeu do Governo do Ceará a Medalha da Abolição, a mais alta comenda do Estado, honraria conferida por seu trabalho como fundador e diretor da Sociedade Lírica do Belmonte, que beneficia cerca de 200 alunos, todos de origem humilde, a maioria filhos de agricultores. No Belmonte eles aprendem técnicas e teorias musicais, bem como a bibliografia dos grandes compositores do mundo.
Entre uma missa e outra, Monsenhor Ágio escreve livros. Já teve dez títulos publicados. No momento, está escrevendo mais dois: um sobre Dom Expedito Lopes, o bispo-mártir de Garanhuns (PE) e outro sobre a espiritualidade do Padre Cícero. Dom Expedito tinha particular afeição pelo Padre Ágio, a quem levou em diversas ocasiões durante as férias escolares do Seminário São José – aonde o Padre Ágio era professor – para auxiliá-lo tanto na Diocese de Oeiras (PI), como na Diocese de Garanhuns, onde Dom Expedito terminou sua profícua existência sendo assassinado pelo Padre Hosana Siqueira.
Padre Ágio, 97 anos de idade. Uma bênção para todo o abençoado Vale do Cariri!