Em dois casos, o BC informou que nenhum valor foi encontrado: Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia, e Valdir Lima Carreiro, presidente da Iesa
O Banco Central informou ontem ao juiz federal Sérgio Moro que apreendeu R$ 47,8 milhões depositados nas contas bancárias de 16 dirigentes e funcionários de empresas sob investigação na Operação Lava-Jato.
Em dois casos o BC informou que nenhum valor foi encontrado: Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia, e Valdir Lima Carreiro, presidente da Iesa. Na conta-corrente de Ildefonso Colares Filho, diretor-presidente da Construtora Queiroz Galvão, havia R$ 7.511.
Já o maior valor estava nas contas do vice-presidente da empreiteira Engevix, Gerson de Mello Almada: R$ 22,6 milhões.
O empreiteiro Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC Engenharia, mantinha R$ 10,2 milhões em depósitos.
Nas contas do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o BC bloqueou R$ 3,2 milhões. Na conta de sua empresa, a D3TM Consultoria, o valor de R$ 140 mil.
Uma das empresas do lobista Fernando Baiano, a Hawk Eyes Administração de Bens (“Olhos de Falcão”, do inglês), mantinha em suas contas R$ 6,5 milhões. Outra empresa de Baiano, a Technis, teve R$ 2 milhões bloqueados.
A documentação enviada pelo BC ao processo não permite concluir se as buscas continuam ou se esse é o resultado final da apuração da instituição bancária. Em ordens de bloqueio, o BC envia uma circular a todas as instituições, que fazem uma varredura em suas agências e informam os resultados de volta ao Judiciário.
O dinheiro bloqueado deverá ser depositado numa conta da Caixa Econômica Federal sob controle do juiz Moro, para eventuais ressarcimentos de danos causados ao erário.
O bloqueio não significa culpa antecipada dos investigados. Trata-se de uma medida de precaução tomada pelo juiz no decorrer do processo, até a decisão final, ainda sem data para ocorrer.
A ordem inicial do juiz era o bloqueio de até R$ 20 milhões por pessoa ou empresa da lista enviada ao BC.
A ordem do juiz não atingiu as contas das grandes empreiteiras investigadas no escândalo, como a OAS, a UTC, a Mendes Júnior e a Engevix, mas sim a de seus dirigentes e funcionários.
Os executivos tiveram prisão decretada na última sexta-feira (14), na deflagração de mais uma fase da Operação Lava-Jato, que investiga o pagamento de suborno na obtenção de contratos com a Petrobras. Parte deles já foi liberada.
Fernando Baiano foi preso na terça-feira (18), após dias foragido. Ele é suspeito de intermediar repasses de propina ao PMDB, o que o partido nega.
R$ 1,6 milhão
O ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, disse à Polícia Federal, em depoimento em Curitiba, que recebeu pelo menos R$ 1,6 milhão da empreiteira UTC Engenharia depois que deixou o cargo na estatal, em abril de 2012. Porém, negou ter recebido propinas.
Duque, que foi preso na última sexta-feira (14), na sétima fase da Operação Lava-Jato, afirmou que a remuneração deveu-se a uma consultoria: “auxiliou no processo para que ela (UTC) se capacitasse para participar como operadora” em determinada área de produção de energia, diz o inquérito.
Além disso, fechou um segundo contrato com a UTC, cujo valor não foi consignado no depoimento que ele prestou na última segunda-feira (17) ao delegado da PF Eduardo Mauat da Silva.
Em depoimentos anteriores, delatores disseram que a UTC Engenharia funcionava como a coordenadora de um “clube” de empreiteiras que fraudavam licitações e desviavam recursos da Petrobras.
O ex-diretor Duque, acusado por dois delatores de ter cobrado e recebido propina no exterior em troca de contratos na petroleira, demonstrou hesitação quando foi indagado pela PF se mantinha no exterior uma offshore chamada Drenos. Conforme os delatores, alguns dos pagamentos de propina ocorreram para essa empresa.
Duque negou ter recebido recursos ilegais no exterior mas, ao falar da offshore, disse que não se recordar desse nome “Drenos”.
O ex-diretor reconheceu que se tornou amigo e “criou uma ‘empatia’” com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, com o qual “passou a manter encontros com o mesmo sempre de cunho social, por ‘ser pessoa agradável para o convívio’”. Porém, negou ter orientado o executivo da Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça, a procurar Vaccari “para tratar de doações eleitorais”. Certa feita, disse Duque, ele e Augusto viajaram à Ásia para “visitar estaleiros, ver o que poderia ser trazido para o Brasil, estaleiros estrangeiros para se associarem com empresas brasileiras”.
Duque explicou que também manteve vários “encontros e jantares” em restaurantes em áreas nobres do Rio de Janeiro e São Paulo com o outro executivo da Toyo Setal, Júlio Camargo – que disse à PF, em delação premiada, que pagou Duque no exterior. O ex-diretor disse, porém, que nos encontros “não tinham assuntos específicos para tratar, eram apenas encontros sociais”.
Nos finais de ano, acrescentou Duque, Camargo costumava lhe enviar de presente “um panetone e bebidas”, cujos valores não foram citados.
Duque disse que seu braço direito na Petrobras, o gerente Pedro Barusco – que já reconheceu em delação premiada ter recebido US$ 100 milhões no exterior, valor que prometeu devolver à União como parte do acordo –, era sua “pessoa de confiança”. Duque disse que não sabia que Barusco mantinha depósitos no exterior.
O ex-diretor afirmou ainda que Paulo Roberto Costa deixou o cargo de diretor de Abastecimento da Petrobras após sofrer pressões – “foi instado a sair”–, mas não indicou nem o motivo nem quem o instou.
DIÁRIO DA MANHÃ
DA FOLHAPRESS, DE BRASÍLIA