O cardeal Claudio Hummes passou uma semana em Crato, hóspede de Dom Fernando Panico. Em entrevista exclusiva concedida à Assessoria de Comunicação da Diocese de Crato, o cardeal, que atuou por quatro anos no Vaticano como prefeito da Congregação para o Clero, fez uma avaliação da igreja no Pontificado Papa Francisco, de quem é amigo pessoal. Dom Claudio explicou como podemos fazer para ser uma igreja pobre para os pobres e como exercer o papel cristão na eleição que se aproxima. Tendo ainda vínculos diretos com o Vaticano também falou sobre o processo de Reabilitação do Pe. Cícero Romão Batista e deixou mensagem de felicitações pelo centenário de criação da Diocese de Crato.
Abaixo alguns tópicos das declarações do cardeal Cláudio Hummes:
Sobre uma Igreja pobre: Eu creio que é um grande desafio este e foi sempre o desafio da Igreja através dos tempos, sempre, porque o próprio Jesus Cristo nos indica este caminho de pobreza e também de amor aos pobres. Ele mesmo viveu, Jesus e os apóstolos viveram uma situação, assim, muito simples, muito austera, de poucos bens, enfim, era muito próxima sempre dos pobres, dos sofridos, dos doentes. Então esse foi sempre o ideal da Igreja! E o papa atual, o Papa Francisco, voltou isso com muita força – por isso ele também tomou Francisco por nome, exatamente, porque ele via a necessidade de a Igreja ser mais pobre – em termos também, digamos assim, do estilo de vida, dos meios com que trabalha, enfim, tudo aquilo que fosse ostentação de riqueza, etc. deveriam ser evitados.
Sobre as eleições de 2014 - A fé tem tudo a ver com a política, porque a política é o conviver socialmente; a política dirige e governa essa convivência. E a fé nos diz que nós devemos conviver como irmãos e não como adversários ou competidores; devemos evitar o clima de mera competição, para ver quem ganha mais, onde cada um quer subir à custa dos outros, onde cada um quer fazer o máximo de dinheiro pra si mesmo e não se interessam pelos que ficam prejudicados com essa mentalidade errada. Queremos um clima onde o evangelho possa servir de pârametro. O evangelho tem alguma coisa a ver com a sociedade, com a convivência social e, portanto, com a política, porque a política é que rege a convivência social.
Eleger bons governantes é muito importante. E depois ajudá-los a governar também. Acho que o povo tem que se manifestar mesmo. Quando as coisas não vão bem, o povo tem que se manifestar mesmo. (Os políticos) nós os pusemos no poder para servir, pra nos ajudar a viver socialmente, a viver bem, a viver em paz, a viver em fraternidade, a viver com menos desigualdade, com menos individualismo. A política não pode ser o inverso disso...
Então eu, realmente, acho que são momentos importantes, esses atuais, em que o povo tem que, de fato, pensar quando vai eleger pessoas que possam estar dispostas a estar a serviço e não ir para lá para encher de dinheiro os bolsos seus e de seus comparsas.
Sobre o Padre Cícero – O Padre Cícero é uma figura que se tornou até mesmo internacional, pouco a pouco. Hoje em dia existem estudos, até internacionais, sobre essa figura. Ele é um homem que, sobretudo, tem relação com aspecto religioso do povo. Ele foi o padre que sustentou a fé desse povo do sertão, aqui, por tantos anos durante a vida dele e até hoje. É um grande contributo, digamos assim; ele ajuda o povo a manter os valores religiosos, a manter a sua fé católica, enfim. Nesse sentido ele tem um enorme mérito, certamente. É claro, houve equívocos também durante a vida dele. Hoje ele é vítima de muitos equívocos, certamente. Mas hoje o que está se fazendo, o que está se procurando é que haja uma reabilitação canônica da figura dele dentro da igreja, porque ele sofreu algumas censuras naquela época da igreja, e o processo está agora em andamento, nós temos que esperar... E eu espero que se consiga essa reabilitação do Padre Cícero. E, depois, a gente vai ver. Agora a figura dele, os frutos estão aí, o povo que o ama imensamente, o considera um grande intercessor junto de Deus, um homem que cuidou dos pobres, enfim, e nesse sentido vamos ver se conseguimos, de fato, reabilitá-lo.
Mensagem para a Diocese de Crato – Eu desejo à Diocese de Crato todas as bênçãos de Deus, porque é no jubileu em que a gente volta a pensar em tudo o que ocorreu nesses cem anos, tanta gente que viveu a fé, que aqui deu tudo pelos outros, enfim, todo esse povo, como é que eles viveram a fé, essa história religiosa por tantos antepassados dessa geração que está aí, eles que começaram, mas também essa geração faz parte desse centenário. Então acho que a primeira coisa é agradecer a Deus e também pedir perdão pelos erros, os pecados que sempre existem, todos nós somos pecadores também. Então jubileu é sempre isso, agradecer tudo o que Deus fez e que as pessoas também fizeram de bem nesse mundo. Pedir perdão pelos erros que houve no meio do caminho e pedir para o futuro bênçãos, que Deus continue abençoando esse povo. É o que eu desejo muito, que esse povo sinta a presença de Deus, essa presença carinhosa de Deus, essa presença de um Deus que encoraja, um Deus que quer ajudar, quer ser solidário conosco. Que o povo viva isso com força nesse centenário. Aí terá força também para transmitir para as gerações futuras um exemplo de fé.
Reportagem: Patrícia Silva