NE - A falência do sistema atinge todos os níveis
Condições precárias de funcionamento, ocasionadas pela falta de manutenção, são o principal problema. Conforme alguns artistas, a Secretaria de Cultura não tem o cuidado de solicitar a troca de transformadores da rede elétrica dos equipamentos junto à Coelce, o que ajudaria a evitar quedas de energia nos locais de espetáculos
Crato. Artistas e integrantes de grupos culturais deste município cobram da Secretaria Municipal de Cultura a recuperação de equipamentos para a realização de espetáculos, que, devido à falta de manutenção, estão inativos e dificultam a produção cultural local.
O teatro Salviano Arraes Saraiva, principal equipamento cultural do município, nunca possuiu sonorização e iluminação adequadas para as apresentações. A rede elétrica é deficitária e, atualmente, o local está interditado, aguardando que obras de recuperação sejam iniciadas.
Dois outros equipamentos, localizados no Largo da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), o Centro Cultural e a Galeria, também apresentam problemas. O auditório, cuja capacidade é insuficiente para receber maior público, não possui sistema de refrigeração, gerando grande insatisfação das pessoas que o frequentam.
A galeria, por sua vez, nada mais é do que um galpão espaçoso, utilizado de maneira esporádica devido à falta de estrutura. Quando há produções de maior porte, os organizadores das Mostras Culturais ou de espetáculos artísticos e de teatro é quem passam a deter da responsabilidade de criar o aporte necessário para garantir o bom resultado das apresentações.
Conforme alguns artistas, na maioria dos casos, a Secretaria de Cultura sequer tem o cuidado de solicitar a troca de transformadores da rede elétrica dos equipamentos junto à Coelce, o que ajudaria a evitar quedas de energia no local dos espetáculos.
"Quando o teatro Salviano Arraes vinha sendo utilizado, um dos problemas enfrentados pelas companhias de teatro era a oscilação de energia. Eram as produções que se responsabilizavam pelo pedido de troca do transformador junto à Coelce. Quando não havia a troca, as quedas de energia acabam acontecendo. Isso gerava prejuízo às companhias e aborrecimento para quem reside nas proximidades. Todo mundo ficava sem energia", comenta o diretor da Companhia Brasileira de Teatro Brincante, Cacá Araújo.
Professor, dramaturgo, ator e folclorista, o artista é um dos primeiros a defender a necessidade do município assumir, em curto tempo, a recuperação dos equipamentos. "Não existem mais locais adequados em Crato para o fomento da produção artística e cultural, praticamente. Além de todos os problemas observados no teatro Salviano Arraes, o auditório da RFFSA possui espaço para cerca de 80 pessoas. O palco é de alvenaria, impróprio para diversos tipos de espetáculo. Sem falar na falta de sistema de refrigeração. O local é um forno", observa.
Há, também, inúmeras queixas em relação à falta de aplicabilidade do Plano Municipal da Cultura, efetivação do Fundo Municipal de Cultura e de reformulação do quadro de membros do Conselho Municipal de Cultura.
Mesmo com forte pressão da classe artística, nada foi resolvido. "Participei de todos os encontros e fóruns realizados nos últimos 17 anos. Claro que passos importantes já foram dados. No entanto, o grande entrave ainda reside na não efetivação do Sistema Municipal de Cultura, ainda condicionado ao plano do discurso ocasional. Nosso município não conta, há quase dois anos, com o Conselho Municipal de Cultura, o que revela a necessidade de democratização da gestão cultural", avalia Cacá Araújo.
Segundo ele, o atual modelo de gerenciamento cultural em Crato ficou defasado, o que resulta em inúmeros prejuízos à classe artística local. "É necessário que a Política Municipal de Cultura favoreça o desenvolvimento cultural, valorize os artistas locais, promova a circulação e o intercâmbio de espetáculos e institua procedimentos da economia criativa. Isso sem falar na importância da criação de um Conselho Municipal de Cultura com maior representatividade setorial e da aplicabilidade do Fundo Municipal de Cultura, além do desenvolvimento de uma Política de editais para acesso democrático aos recursos disponíveis para o setor", afirma.
A secretária de Cultura do município, Dane de Jade, confirmou a precariedade dos equipamentos culturais. Conforme disse, após um amplo diagnóstico realizado pela Secretaria, projetos foram encaminhados ao Ministério da Cultura com a finalidade de captação de recursos, por meio do Fundo Nacional de Cultura, para que as recuperações, ampliações e melhorias sejam efetivadas nestes locais.
A ação também deverá beneficiar o setor de museus do município. "A política de requalificação destes equipamentos já está sendo desenvolvida pelo município. Todos os equipamentos foram recebidos completamente desmantelados", informou.
Ela ressaltou, também, que o Sistema Municipal de Cultura, obrigatoriamente, está ligado aos sistemas Estadual e Nacional. "Nosso plano municipal já está constituído e foi encaminhado ao Ministério da Cultura, restando, apenas, sua publicação no Diário Oficial. A reformulação do Conselho Municipal de Cultura está sendo trabalhada e, quanto ao Fundo Municipal, iniciaremos, nos próximos dias, discussões em torno dos investimentos para o próximo ano. Infelizmente, os entraves ainda existem por conta do sistema não estar, ainda, vigorando em sua totalidade", concluiu.
FOTO: GESSY MAIA
Fonte: Jornal Diário do Nordeste