Já existem mais de 500 mil refugiados na guerra promovida pelo grupo ISIS, chefiada por Abu Bakr al Baghdadi, ( considerado o sucessor de Bin laden ). Nos últimos dias, milhares de pessoas foram executadas sumariamente, por se oporem ao duro regime do ISIS, que prega um Islamismo ortodoxo, a obediência absoluta, a submissão dos outros grupos extremistas como a Al Qaeda, e a criação de um califado que se estende desde a Síria ao Iraque, além da erradicação de cristãos e israelenses.
MUITO ALÉM DE UMA GUERRA DE FACÇÕES
A fotos em um site militante mostram combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante ( ISIS ) colocando os cativos em caminhonetes antes de forçá-los a deitar de barriga para baixo em uma vala rasa com seus braços amarrados atrás das costas. As imagens finais mostram os corpos dos homens molhados em sangue depois de disparos. As imagens macabras poderiam aprofundar ainda mais as tensões sectárias enquanto centenas de xiitas acatavam uma convocação feita pelo seu líder espiritual mais reverenciado de pegar em armas contra os militantes sunitas que varreram o norte. Há algumas semanas, a cidade de Bagdá está cercada pelos extremistas, que querem levar a guerra também até as cidades mais ao sul do Iraque, onde pretendem destruir os reverenciados santuários xiitas, coisa que os Iranianos já se revoltam com essa perspectiva e se ofereceram voluntariamente para combater o ISIS, ainda que seja necessário lutar ao lado dos Estados Unidos.
Nos últimos dias, intensificam-se os esforços para combater o avanço das forças rebeldes que se instalaram no Norte do Iraque, principalmente na cidade de Mosul e na Síria. O Exército do Iraque, apoiado por unidades de combate curdas e milícias populares xiitas, montou um cordão de segurança a fim de proteger a capital Bagdá.




Os extremistas do ISIS e os grupos sunitas armados que entretanto se juntaram à insurreição foram obrigados a abrandar o ritmo perante a oposição militar em redor da capital. As Forças Armadas iraquianas garantiam que tinham recuperado a iniciativa contra os militantes, recuperando duas cidades a Norte da capital e “eliminando” 279 terroristas em 24 horas, informou o porta-voz do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, numa conferência de imprensa transmitida em directo pela televisão. No entanto, um atentado no centro de Bagdad no último domingo, mostrava que a muralha em torno do centro político maioritariamente xiita é tudo menos inexpugnável: um bombista suicida fez-se explodir, matando nove pessoas e deixando mais de 20 feridos – e a capital em ponto de ebulição.
A 50 quilómetros de distância, na localidade de Khlais, um centro de recrutamento do Exército nacional foi atingido por quatro morteiros, que fizeram seis mortos: três soldados e três voluntários que se apresentavam para o combate contra os sunitas, respondendo ao apelo do clérigo xiita , o xeque Abdulmehdi al-Karbalai. Segundo a Reuters, o sermão da última sexta-feira motivou “milhares de xiitas” a procurar os centros do Exército para “pegar em armas e combater os terroristas, defender o seu país, o seu povo e os seus lugares sagrados”, conforme pediu o líder religioso.
Mais a Norte, entre Mosul e a fronteira Síria, a violência tomou conta da cidade de Tal Afar, onde convivem xiitas e sunitas mas onde a maioria é de origem turca. Os confrontos agudizaram-se quando os residentes dos bairros sunitas recorreram ao ISIS, acusando a polícia e as forças armadas xiitas de estarem a varrer as suas áreas com fogo de artilharia. Os extremistas reagiram entrando em força na cidade e deixando as tropas nacionais, em minoria, sem reacção.

Através do Twitter, os jihadistas do ISIS divulgaram uma série de fotografias que mostram esquadrões de execução em atividade, informando que tinham executado 1700 soldados do exército iraquiano. Nas imagens, cuja autenticidade foi confirmada pelo porta-voz do Exército iraquiano, general Qassim al-Moussawi, vêem-se dezenas de homens a serem conduzidos para valas comuns onde depois terão sido fusilados. As legendas das imagens informam que os mortos eram desertores do Exército do Iraque, que foram capturados pelos insurrectos - segundo o general al-Moussawi, as fotografias foram tiradas na província de Salahuddin, onde ocorreram violentos combates. Os mortos, diz a BBC, serão soldados que se renderam aos islamistas e não desertores.
“Este é o destino dos xiitas que [o primeiro-ministro] Nouri al-Maliki mandou combater os sunitas”, lê-se numa das legendas. Outra mensagem esclarece que a execução dos soldados iraquianos foi uma acção de retaliação e vingança pela morte do comandante extremista Abdul-Rahman al-Beilawy, que esteve envolvido na captura de Tikrit e Mossul, a segunda maior cidade do país. As duas mantêm-se sob o controlo dos extremistas.
A verificar-se, de forma independente, a sua autenticidade, este não será o único crime de guerra cometido nos últimos dias no Iraque, advertiu a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, referindo-se a relatos já confirmados de outras atrocidades.
A agência da ONU para os Refugiados, e a Organização Internacional para as Migrações, voltaram a alertar para a periclitante situação humanitária em que se encontram os mais de 500 mil iraquianos que abandonaram a cidade de Mossul e outras localidades tomadas pelo ISIS e se estão a encaminhar para a região do Curdistão. Um responsável municipal de Erbil, Rizgar Mustafa, dizia ontem à radio Voice of America que mais de 110 mil pessoas tinham procurado refúgio na cidade, e “esse número deverá aumentar nos próximos dias”.
IRAQUE SOLICITA AJUDA DOS ESTADOS UNIDOS PARA CONTER OS REBELDES
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama descarta o envio de tropas ao Iraque, mas já enviou cerca de 300 emissários que trabalharão em serviços de inteligência, além de drones que sobrevoam o espaço aéreo Iraqueano 24 horas por dia. Nada menos do 9 navios, incluindo 7 porta-aviões com milhares de soldados prontos para a batalha também já se encontram no Golfo Pérsico aguardando apenas as órdens de Washington, mas Obama disse estar avaliando todas as opções a fim de combater o grupo terrorista. Para ele, ações devem ser acompanhadas de esforços locais e por um governo de coalisão. Os Estados Unidos não pretendem retornar à guerra do Iraque, onde gastou mais de 25 bilhões de dólares com armas e o treinamento do exército Iraqueano, e ao que parece, foi tudo em vão, além da perda de milhares de vidas americanas.
No entanto, em breves declarações à imprensa na Casa Branca, Obama advertiu ao governo de Bagdá que ele mesmo foi o responsável pelo desastre ao não conseguir evitar as divisões entre os campos sunitas e xiitas do país. "Os Estados Unidos não vão se envolver em uma ação militar na ausência de um plano político dos iraquianos que nos dê alguma garantia de que eles estão dispostos a trabalhar juntos", disse. "Não vamos nos permitir ser arrastados de volta para uma situação na qual, enquanto estamos lá, estamos abafando as coisas, e depois de enormes sacrifícios feitos por nós, assim que saímos, subitamente as pessoas acabam agindo de maneiras que não são favoráveis para a estabilidade no longo prazo do país".
Os Estados Unidos retiraram as suas últimas tropas do Iraque em 2011, oito anos depois de derrubar o então ditador Saddam Hussein. O presidente Norte-Americano acrescentou, no entanto, que "qualquer ação que tomemos para fornecer assistência às forças de segurança iraquianas deve ser acompanhada por um esforço sério e sincero dos líderes iraquianos para deixar de lado as diferenças sectárias".
Obama ainda disse que será preciso vários dias para avaliar as opções sobre como os norte-americanos poderão ajudar o Iraque a lidar com os insurgentes. "Ninguém tem interesse em ver os terroristas ganharem uma posição no interior do Iraque e ninguém vai se beneficiar de ver o Iraque no caos", disse. "Então os Estados Unidos vão fazer a sua parte, mas entendo que, em última instância, cabe aos iraquianos como uma nação soberana resolver os seus problemas".
Com informações adicionais da AP, Reuters