Iraque pede ajuda aos Estados Unidos para conter os rebeldes
A fotos em um site militante mostram combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante ( ISIS ) colocando os cativos em caminhonetes antes de forçá-los a deitar de barriga para baixo em uma vala rasa com seus braços amarrados atrás das costas. As imagens finais mostram os corpos dos homens molhados em sangue depois de disparos.
As imagens macabras poderiam aprofundar ainda mais as tensões sectárias enquanto centenas de xiitas acatavam uma convocação feita pelo seu líder espiritual mais reverenciado de pegar em armas contra os militantes sunitas que varreram o norte. O ISIS prometeu levar sua batalha a Bagdá e a cidades mais ao sul que abrigam reverenciados santuários xiitas.
Intensificam-se os esforços para travar o avanço das forças rebeldes que se instalaram no Norte do Iraque e numa rápida progressão têm vindo a conquistar terreno em direcção a Bagdad. O Exército do Iraque, apoiado por unidades de combate curdas e milícias populares xiitas, montou um cordão de segurança em torno da capital.
As movimentações das tropas nacionais parecem, para já, ter surtido algum efeito no que diz respeito à protecção de Bagdad. Os extremistas do ISIS e os grupos sunitas armados que entretanto se juntaram à insurreição foram obrigados a abrandar o ritmo perante a oposição militar em redor da capital. As Forças Armadas iraquianas garantiam ontem que tinham recuperado a iniciativa contra os militantes, recuperando duas cidades a Norte da capital e “eliminando” 279 terroristas em 24 horas, informou o porta-voz do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, numa conferência de imprensa transmitida em directo pela televisão.
No entanto, um atentado no centro de Bagdad no domingo de manhã mostrava que a muralha em torno do centro político maioritariamente xiita é tudo menos inexpugnável: um bombista suicida fez-se explodir, matando nove pessoas e deixando mais de 20 feridos – e a capital em ponto de ebulição.
A 50 quilómetros de distância, na localidade de Khlais, um centro de recrutamento do Exército nacional foi atingido por quatro morteiros, que fizeram seis mortos: três soldados e três voluntários que se apresentavam para o combate contra os sunitas, respondendo ao apelo do clérigo xiita , o xeque Abdulmehdi al-Karbalai. Segundo a Reuters, o sermão da última sexta-feira motivou “milhares de xiitas” a procurar os centros do Exército para “pegar em armas e combater os terroristas, defender o seu país, o seu povo e os seus lugares sagrados”, conforme pediu o líder religioso.
Mais a Norte, entre Mossul e a fronteira síria, a violência tomou conta da cidade de Tal Afar, onde convivem xiitas e sunitas mas onde a maioria é de origem turca. Os confrontos agudizaram-se quando os residentes dos bairros sunitas recorreram ao ISIS, acusando a polícia e as forças armadas xiitas de estarem a varrer as suas áreas com fogo de artilharia. Os extremistas reagiram entrando em força na cidade e deixando as tropas nacionais, em minoria, sem reacção.
Através do Twitter, os jihadistas do ISIS divulgaram uma série de fotografias que mostram esquadrões de execução em actividade, informando que tinham executado 1700 soldados do exército iraquiano. Nas imagens, cuja autenticidade foi confirmada pelo porta-voz do Exército iraquiano, general Qassim al-Moussawi, vêem-se dezenas de homens a serem conduzidos para valas comuns onde depois terão sido fusilados. As legendas das imagens informam que os mortos eram desertores do Exército do Iraque, que foram capturados pelos insurrectos - segundo o general al-Moussawi, as fotografias foram tiradas na província de Salahuddin, onde ocorreram violentos combates. Os mortos, diz a BBC, serão soldados que se renderam aos islamistas e não desertores.
“Este é o destino dos xiitas que [o primeiro-ministro] Nouri al-Maliki mandou combater os sunitas”, lê-se numa das legendas. Outra mensagem esclarece que a execução dos soldados iraquianos foi uma acção de retaliação e vingança pela morte do comandante extremista Abdul-Rahman al-Beilawy, que esteve envolvido na captura de Tikrit e Mossul, a segunda maior cidade do país. As duas mantêm-se sob o controlo dos extremistas.
A verificar-se, de forma independente, a sua autenticidade, este não será o único crime de guerra cometido nos últimos dias no Iraque, advertiu a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, referindo-se a relatos já confirmados de outras atrocidades.
A agência da ONU para os Refugiados, e a Organização Internacional para as Migrações, voltaram a alertar para a periclitante situação humanitária em que se encontram os mais de 500 mil iraquianos que abandonaram a cidade de Mossul e outras localidades tomadas pelo ISIS e se estão a encaminhar para a região do Curdistão. Um responsável municipal de Erbil, Rizgar Mustafa, dizia ontem à radio Voice of America que mais de 110 mil pessoas tinham procurado refúgio na cidade, e “esse número deverá aumentar nos próximos dias”.
IRAQUE SOLICITA AJUDA DOS ESTADOS UNIDOS PARA CONTER OS REBELDES
Obama descarta envio de tropas ao Iraque, mas diz estudar ajuda
Presidente dos EUA disse estar avaliando todas as opções.
Para ele, ações devem ser acompanhadas de esforços locais.
Da Reuters
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, descartou nesta sexta-feira (13) enviar tropas norte-americanas para o combate no Iraque, mas afirmou estar avaliando todas as opções para auxiliar o país a lidar com os insurgentes jihadistas.
"Não enviaremos tropas americanas novamente para combater no Iraque, mas pedi a minha equipe de segurança nacional que prepare uma série de opções que possam ajudar as forças de segurança iraquianas", disse Obama. O governo do primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki pediu que os Estados Unidos forneçam ajuda militar para conter o avanço do Estado Islâmico do Iraque e do Levante ( ISIS ), um grupo extremista sunita.
No entanto, em breves declarações à imprensa na Casa Branca, Obama advertiu ao governo de Bagdá que ele mesmo foi o responsável pelo desastre ao não conseguir evitar as divisões entre os campos sunitas e xiitas do país.
"Os Estados Unidos não vão se envolver em uma ação militar na ausência de um plano político dos iraquianos que nos dê alguma garantia de que eles estão dispostos a trabalhar juntos", disse.
"Não vamos nos permitir ser arrastados de volta para uma situação na qual, enquanto estamos lá, estamos abafando as coisas, e depois de enormes sacrifícios feitos por nós, assim que saímos, subitamente as pessoas acabam agindo de maneiras que não são favoráveis para a estabilidade no longo prazo do país".
Os Estados Unidos retiraram as suas últimas tropas do Iraque em 2011, oito anos depois de derrubar o então ditador Saddam Hussein, mas Obama disse estar estudando opções para aumentar o apoio contínuo ao exército iraquiano.
O presidente acrescentou, no entanto, que "qualquer ação que tomemos para fornecer assistência às forças de segurança iraquianas deve ser acompanhada por um esforço sério e sincero dos líderes iraquianos para deixar de lado as diferenças sectárias".
Obama ainda disse que será preciso vários dias para avaliar as opções sobre como os norte-americanos poderão ajudar o Iraque a lidar com os insurgentes. "Ninguém tem interesse em ver os terroristas ganharem uma posição no interior do Iraque e ninguém vai se beneficiar de ver o Iraque no caos", disse. "Então os Estados Unidos vão fazer a sua parte, mas entendo que, em última instância, cabe aos iraquianos como uma nação soberana resolver os seus problemas".
Fonte: Último Segundo e G1