Denizard Macedo, um cratense ilustre
José Denizard Macedo de Alcântara
(foto ao lado) nasceu
em Crato, na Praça da Sé, em 1° de setembro de 1921. Naquele dia a população cratense
festejava a data consagrada a Nossa Senhora da Penha, Rainha e Padroeira
da cidade e da Diocese. Talvez por isso seus pais fizeram-no afilhado de
Nossa Senhora da Penha. Denizard fez seus primeiros estudos na sua
cidade natal, no Externato Santa Inês e no Ginásio Diocesano do Crato.
Depois estudou no Liceu do Ceará, em Fortaleza. Obteve graduação em
Ciências Econômicas, tendo feito o doutorado nesta área.
Mas ele se destacou, principalmente, como um intelectual, como
professor em várias instituições de ensino de Fortaleza, bem como por
ser um homem de ideias firmes e transparentes. Lecionou na Escola
Preparatória de Cadetes, do Colégio Militar do Ceará, Instituto de
Educação, Faculdade Católica de Filosofia, Escola de Serviço Social e
vários educandários de segundo grau. Incursionando na política foi
eleito vereador por Fortaleza. Foi também jornalista, ensaísta,
historiador, conferencista e geógrafo. Pertenceu à Sociedade Cearense de
Geografia e História, Instituto do Ceará e Academia Cearense de Letras,
onde ocupou a cadeira de n° 34, substituindo outro cratense, J.de
Figueiredo Filho.
(Na foto abaixo, Denizard e Eliana no dia do casamento)
Denizard
Macedo foi, ainda, Secretário da Cultura do Ceará e escreveu as
seguintes obras: A Universidade na Defesa Nacional; Fundamentos da
Administração Cearense; A Conjuntura Histórico-Geográfica da
Industrialização Brasileira; Racionalização da Competência
Administrativa do Município; Geografia da América; Cultura e
Universidade; Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro; Ascensão e
Declínio do Magistério Brasileiro; Ensino de Filosofia no Ceará e
Retrato da História da Independência.
Católico sincero, possuidor de sólida formação religiosa,
Denizard era monarquista convicto, apesar da proibição da República
brasileira, a qual – durante cem anos, de 1889 a 1988 –, proibiu
qualquer divulgação pública sobre as vantagens desta forma de governo.
Para quem não sabe, os monarquistas foram os últimos anistiados
políticos desta ineficiente república brasileira. Somente com o advento
da sétima constituição republicana, a atual, promulgada em 1988,
concedeu-se liberdade aos monarquistas de exporem à luz do sol, e de
forma pública, suas pacíficas ideias.
Denizard Macedo faleceu com 63 anos de idade, mas, já em 23 de setembro
de 1979, quando tinha 58 anos, escreveu seu testamento, do qual extraio
o texto abaixo:
“Declaro
que nasci e desejo morrer no seio da Santa Igreja Católica, Apostólica e
Romana, cujo chefe visível é Sua Santidade o Papa que está em Roma, a
cujas verdades eternas e imutáveis sempre aderi com toda a força da
minha inteligência e do meu coração, na forma com que foram ensinadas
nos séculos passados, apesar dos meus incontáveis defeitos, pecados e
omissões, para os quais espero Misericórdia da Divina Justiça, quando
comparecer perante meu Deus, meu Criador e meu Supremo Juiz, para o que
rogo a intercessão de Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, meu salvador,
de Sua Mãe Santíssima e de todos os Santos Anjos da Corte Celeste,
especialmente meu Anjo da Guarda e do Glorioso Arcanjo Miguel, padroeiro
de todos os soldados cristãos.
Quero
reafirmar solenemente o orgulho e a honra das posições políticas que
assumi na vida, quer como integralista que envergou sua bela e
dignificante "camisa verde", como miliciano inscrito na Ação
Integralista Brasileira, o maior movimento cívico e patriótico da nossa
Pátria, só igualado pela repulsa às invasões holandesas e à Guerra do
Paraguai. Reitero por igual minha condição de monarquista fiel, única
forma de governo inteligente e adequada para ser aceita por um bom
brasileiro.
Protesto mais
uma vez meu integral repúdio às errôneas e maléficas doutrinas liberais
ou demoliberais, socialistas, comunistas e as chamadas
"católico-progressistas", que ensandeceram o mundo a partir da Reforma
Protestante e da Revolução Francesa, e que ora estão conduzindo o mundo,
o homem e a humanidade ao caos, à escravidão, a abismos insondáveis,
que só a Fé em Deus Todo-Poderoso podem evitar pela sua Infinita
Bondade. Lamento não dispor de uma "camisa-verde" para me amortalhar,
mas quero que, sendo possível, meu esquife seja coberto com a bandeira
do Sigma e pela bandeira do Império, que se encontra em meu gabinete
doméstico". (Datado de Fortaleza, Ceará, dia 23 de setembro de 1979).
Quando faleceu, em 12 de novembro de 1983, seu irmão, o escritor
Nertan Macedo, publicou um trabalho, posteriormente reproduzido no
jornal “O Povo”, de Fortaleza, no qual revelou fatos esclarecedores
sobre a vida de Denizard. Desse artigo retirei os textos abaixo: “Foi
com ele (Denizard) que aprendi uma lição que me tem servido bastante
pelo tempo afora: não acreditar em ideologias radicais como "molduras
perfeitas, acabadas" de certos espíritos julgados, condenados ou
exaltados, erradamente, como de Esquerda, Centro ou Direita. Pois o que
não falta na vida pública brasileira são certas figurinhas torpes que se
dizem liberais e não passam de tremendos farsantes, com esconsa vocação
para a crueldade e a ditadura, adoradoras que são do mando
incontrastável e do poder totalitário. Daí o sábio provérbio. "Se queres
conhecer o vilão, entrega-lhe o bastão”.
E continua Nertan Macedo: “Meu irmão era uma figura singular. Tinha
soberano desprezo por todo indivíduo que não era carne nem peixe, não
cheirava nem fedia. E vomitava-os à maneira paulina, ou de quantos
outros lutadores deram testemunho nesta vida. Por isso mesmo sofreu,
desde jovem, quando aderiu ao movimento integralista, por suas ideias
"fascistas e reacionárias" que, simplesmente, ele não as possuía. Era,
na verdade, um tipo que chamaríamos de raro entre os produtos da
formação ou da consciência do seu tempo. Enfim, um homem apaixonadamente
rendido aos encantos da História, da Tradição, do Sonho Cristão e de um
vago Autoritarismo - assim mesmo, tudo isso com letra maiúscula.
Entretanto, mais próximo do paternalismo alargado do "familiar" ao
"nacional", do "ciânico" ao "pátrio", do "individual" ao "comunitário".
Sua concepção política era a de lareira, a da enorme mesa familiar da
refeição em comum, das redes no alpendre em deliciosos rangeres nos seus
armadores e das infindáveis tagarelices, louvando o amor à Pátria e aos
seus Maiores” (...)

“Todavia, (Denizard) era amigo do bom senso
e, de cambulha, para tudo quanto dissesse respeito à sua terra e gente,
fielmente representadas nas figuras idealistas, rudes e até mesmo boçais
de caudilhos provincianos, mas que souberam adentrar à História. Do
tipo de
Filgueiras, Pinto Madeira ou do
Brigadeiro Leandro Bezerra
Monteiro, três gigantes do "reacionarismo" ligados ao Partido do Trono e
do Altar. Isso sem esquecer as honestas figuras de venerados cronistas
como o Barão de Studart, Paulino Nogueira, João Brígido, Théberge e
outros do mesmo naipe”
(Nertan Macedo no artigo “Um cavaleiro da Tradição”).
A cidade de Fortaleza homenageou a memória de Denizard Macedo dando seu
nome a uma rua da capital cearense e a uma escola municipal, localizada no bairro Quintino Cunha. Em Crato existe
também uma rua com o nome dele. Por sua vez, o Instituto Cultural do
Cariri denominou uma de suas cadeiras de
José Denizard Macedo de
Alcântara, cadeira esta que, mesmo sem mérito, para ela fui eleito pela
generosidade dos meus pares e venho ocupando-a até os dias atuais.
(Texto e postagem: Armando Lopes Rafael)