Aparentemente simples,
no entanto esse sentimento exige humildade. A gente vive um contexto atual de
tanta competição; riquezas desfilando nas cidades e vilas em naves fulgurantes;
pessoas bonitas apresentadas nas telas de tevê qual saídas de ateliês mágicos direto
dos braços da deusa Primavera; cifras bilionárias divulgadas na mídia,
pertencentes a donos privilegiados de países fartos; construções faraônicas
espalhadas ao vento das notícias; bailes encantadores de casais acima do solo; o
que precisa de relativa humildade a fim de adotar as limitações naturais dos
pequenos seres que restamos ingratos.
Contudo é preciso
acreditar que se possui o mínimo de glamour,
alimentar pingos de felicidade na constância das fraquezas dos tempos bicudos.
Gostar do próprio
cheiro, por exemplo, reclama paciência quando as prateleiras dos shoppings oferecem dezenas de marcas dos
desodorantes em perfumaria inigualável que rebrilha nas estantes, à espera de
mãos apressadas que queiram abafar o quanto antes aquele tradicional odor de
bicho selvagem dos humanos.
Nisso, a velocidade
das máquinas de chegar, na intenção de mudar o rumo dos acontecimentos
individuais, mostram tantos meios de transformar a vida monótona em particulares
sabores sofisticados, nas casas de pasto e seus cardápios maravilhosos.
Amar a si mesmo, sem
ser egoísta; possuir autoestima e apreciar o si mesmo sem fugir das condições
naturais da existência; aceitar as fragmentações do espaço nos infinitos pedaços
de insatisfação que fomentam o lucro acelerado. Descobrir mistério no olhar de dentro
do sonho e poder praticar ensinos que a história ensina, passo a passo, livre
de hipocrisia galopante. Domar o desejo de reformar só a fisionomia qual quem
deseja nova personalidade ao repintar a casa, e sofre por isso.
Gostar de si e praticar,
no dia a dia, o prato cheio das imperfeições que ainda carrega, sem,
entretanto, judiar o freguês, expondo-o ao ridículo de se achar feio, velho,
carrancudo, rabugento, fedorento, desdentado, fora de circulação. Gostar o
máximo de autenticidade da casca rara em que transportamos as esperanças de
realizar a todo preço, independente das opiniões alheias, o projeto de futuro
que somos.
Aprimorar o território
em que ora nos conduzimos ao Paraíso, estrada inesgotável das oportunidades,
quando tudo lembra bem o filósofo grego Heráclito a dizer: Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio! A água sempre será outra,
e o banhista nunca será igual.