Pessoas diabéticas, ou portadores da doença cientificamente conhecida como Diabetes Mellitus, são acometidas pela falta ou escassez da insulina, processo este que tem como resultado alterações metabólicas dos carboidratos, proteínas e gorduras, e sendo esta a principal característica da doença. A diabetes é um distúrbio metabólico gerado a partir do excesso de glicose circulante na corrente sangüínea, resultante de dois motivos: pela falta de insulina; e ainda pelo comprometimento da afinidade dos receptores celulares à insulina.

O Diabetes Mellitus pode apresentar duas formas da doença, e são classificadas da seguinte maneira: A chamada Diabetes do tipo I, ou insulino-dependente; que acomete principalmente indivíduos em faixa etárias mais jovens, e o Diabetes tipo II, ou não insulino-dependente; que geralmente apresenta-se em indivíduos que já ultrapassaram a idade dos 40 anos. Em ambos os casos, os pacientes devem ter certos cuidados especiais, cuidados estes que envolvem acima de tudo mudanças no estilo de vida, enfatizando o que diz respeito à alimentação e exercícios físicos direcionados a saúde.
A glicose é o mais potente estimulante da insulina, que age em resposta a sua concentração na corrente sangüínea. Resposta que é apresentada em duas fases: A fase inicial se dá pela insulina estocada no pâncreas, ocorrendo rapidamente como combatente ao aumento glicêmico; e a fase seguinte, onde apresenta-se liberação de novas dosagens de insulina dependente do nível de glicose. Ambas fases tem objetivo aumentar o metabolismo da glicose para assim transportá-la para o interior das células receptoras e ao final do processo utilizar como fonte para gerar energia ou armazenar como glicogênio ou gordura. A insulina age de diferentes maneiras em sistemas diferentes do organismo; por exemplo: No fígado age como anabólico para síntese e armazenamento de glicose, síntese de proteínas e triglicerídeos e formação de VLDL; no sistema muscular, com o auxílio do aumento do transporte de aminoácidos promove síntese protéica. No tecido adiposo, através da inibição do metabolismo das gorduras, promove o armazenamento dos triglicéris nos adipócitos.
Os programas de treinamento físicos trazem grandes benefícios para esta população, desde que bem direcionados; devem englobar treinamentos aeróbicos e também os trabalhos contra resistência (musculação). Estudos recentes afirmam que o treinamento melhora a tolerância à glicose e/ou a sensibilidade à insulina em indivíduos diabéticos e não diabéticos, exercendo assim um papel preventivo. Atividades anaeróbias, como o treinamento de força em musculação por exemplo, além de promover resistência muscular, maximizam a utilização da glicose pelo organismo. Pelo aspecto fisiológico, atividades aeróbias apresentam-se mais efetivas para aumento de sensibilidade à insulina, mas o ideal é a combinação dos dois tipos de trabalho, para uma resposta eficaz na redução da ação da insulina ao longo da idade. Durante o realização de exercícios físicos a utilização da glicose aumenta em torno de 7 a 20 vezes, proporcionalmente a intensidade do mesmo, sendo responsável por cerca de 25-40% do total de combustível requerido. Em grande quantidade de insulina o músculo treinado aumenta a capacidade de metabolizar glicose, e pequenas quantidades\intensidades de exercícios são suficientes para diminuição da glicemia. Pessoas
portadoras do Diabetes tipo II, tem seus níveis de glicose reduzidos progressivamente pelo exercício em função
da sua utilização como combustível muscular, além de elevar significativamente o VO2Máx (parâmetro para
avaliar a capacidade cárdio-respiratória). O exercício gera benefícios no controle glicêmico não somente pelo seu efeito imediato enquanto exercitado, mas também a longo prazo pelos resultantes adaptativos gerados pelo treinamento. Em indivíduos diabéticos obesos, além de auxiliar no emagrecimento, age positivamente aumentando a quantidade de massa corporal magra (hipertrofia muscular) acarretando em aumento do metabolismo da glicose e aumento no VO2Máx. Além dos benefícios já citados anteriormente o exercício contra resistência gera ganhos de força, endurance, flexibilidade, melhoramento da composição corporal e diminui fatores de risco cárdio-vasculares. Altos volumes e moderadas intensidades por 4-6 semanas de treinamento em musculação apresentam melhoras na sensibilidade à insulina em 48% em pessoas não insulino-dependentes destreinados e não obesos. Em pessoas não diabéticas os exercícios resistidos com pesos estão associados a melhoras metabólicas e no sistema cárdio-vascular, enquanto em diabéticos tipo I, há evidências de melhoras no controle glicêmico, potencializadas se combinados com treinamento aeróbio. O treinamento contra resistência inclui modalidades de exercícios calistênicos, onde utiliza-se o peso do próprio corpo, molas, tiras de elástico ou borracha, pesos livres ou halteres e aparelhos de musculação. Por fim, os exercícios resistidos previnem a perda de massa magra, além de aumentá-la de forma a melhorar a utilização da glicose. Tendo como objetivo a força muscular (aumento da massa magra), além de obter-se melhora da captação de glicose pelo músculo e ajudar no controle de peso da pessoa diabética; diminui-se o risco de doenças coronarianas e cardiopatias em geral.

Para a prescrição de tais exercícios , sejam eles quais forem, e para quaisquer objetivos; este grupo requer cuidados especiais e somente sob orientação de uma equipe multidisciplinar baseada em exames físicos, clínicos e nutricionais pode-se minimizar os riscos impostos por tal enfermidade. Cuidados estes que devem ser observados tanto pelo profissional da área da saúde como pelo paciente, como por exemplo: evitar exercícios físicos se os níveis de glicose apresentarem-se acima de 250mg/dl e presenciar cetose, tanto quanto elevação glicêmica acima de 300mg/dl sem a presença de cetose. Músculos que forem injetados de insulina devem ser poupados dos exercícios por pelo menos 1 hora, assim como deve-se reduzir a dosagem em 30-35% de insulina de ação intermediária no dia de treino. Não realizar exercícios no período de pico da atuação da insulina. Pessoas com idades acima de 50 anos devem realizar exercícios em volume igual a 12-15 RMS com intensidades leves, tal qual exercícios que visam flexibilidade (alongamentos) serão incorporados na freqüência de 2-3 vezes semanais, por períodos de 5-10 minutos antes do aquecimeto ou ao final da sessão de treino.
Para esta população o treinamento deve ser iniciado com cargas leves (40-60%) em volumes de 6- 10 RMS, e evoluir para 10-15 RMS e 15-20 RMS durante intervalos de 1-2 semanas. Conforme a resposta do indivíduo o número de séries pode ser elevada de 1 para 2-3 e a carga para 60-80% de 1 RM. Utilizar entre 2-5 exercícios para membros superiores e 5-10 exercícios para membros inferiores, respeitando os períodos de intervalo de 15 segundos a 1 minuto para trabalhos com intensidades leves, e 2-5 minutos para treinos mais extenuantes, sendo o ideal de 48 horas de repouso entre uma e outra sessão de treino. Durante a execução dos exercícios deve-se respeitar certos parâmetros, tais como: Levantar o peso devagar utilizando a amplitude total do arco de movimento, e evitar movimentos bruscos, principalmente na região da cabeça e pescoço. Em suma, a prescrição de exercícios físicos para diabéticos é delicada e está intimamente relacionada com benefícios e riscos relevantes, sendo que os riscos podem ser minimizados com programas específicos e orientados por equipes multidisciplinares especializadas em tal área. Devem eles, acima de tudo, fornecer à pessoa a oportunidade de levar uma vida dentro dos padrões da normalidade, com características mais ativas, não consistindo tão somente como terapia efetiva.
Título original: EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA DIABÉTICOS
Roberto Pacheco da Silva
CREF - 007592-G/RS