Calçadão do Crato nos anos 80
O INFARTO
Certo dia, o jogo de buraco corria solto na casa do Luís. De repente, ele começou a suar muito e com uma dor no peito, correndo para o braço esquerdo. Alguém, de pronto, ligou para o Dr. Raimundo Bezerra. Do outro lado da linha veio a ordem:
- Leva rápido para a Casa de Saúde que ele está tendo um infarto!
O João de Borba Maranhão, imediatamente se prontificou:
- Eu levo o Luís!
Mais do que de repente, os jogadores carregaram o Luís e o instalaram no banco traseiro do carro, onde ele ficou deitado.
Foi aí que ele pode comprovar a mania da família por carro velho. Era uma batedeira total. Parecia que não tinha amortecedor e nenhum parafuso. Apesar de toda a dor, só pensando em morrer, o Luís notou que o carro estava com o freio de mão puxado até o último ponto. O motor zunia e o carro não desenvolvia. O Luís com uma dor terrível, que não o deixava falar. Só conseguia pensar:
- Porra, vou morrer por causa de um freio de mão! Puta que pariu! Que sorte essa minha! Nessa velocidade, quando chegar ao Hospital, eu já estarei morto!
Quando conseguiu estacionar na emergência da Casa de Saúde do Dr.Raimundo, a fumaceira tomou conta de todo o carro. Então, o João de Borba, na maior calma do mundo, exclamou:
- Ih! É por isso que o carro não desenvolvia! Eu doido para chegar rápido e o carro não andava! Deixei o freio de mão ligado!
O TÉCNICO
Certo dia, o jogo de buraco corria solto na casa do Luís. De repente, ele começou a suar muito e com uma dor no peito, correndo para o braço esquerdo. Alguém, de pronto, ligou para o Dr. Raimundo Bezerra. Do outro lado da linha veio a ordem:
- Leva rápido para a Casa de Saúde que ele está tendo um infarto!
O João de Borba Maranhão, imediatamente se prontificou:
- Eu levo o Luís!
Mais do que de repente, os jogadores carregaram o Luís e o instalaram no banco traseiro do carro, onde ele ficou deitado.
Foi aí que ele pode comprovar a mania da família por carro velho. Era uma batedeira total. Parecia que não tinha amortecedor e nenhum parafuso. Apesar de toda a dor, só pensando em morrer, o Luís notou que o carro estava com o freio de mão puxado até o último ponto. O motor zunia e o carro não desenvolvia. O Luís com uma dor terrível, que não o deixava falar. Só conseguia pensar:
- Porra, vou morrer por causa de um freio de mão! Puta que pariu! Que sorte essa minha! Nessa velocidade, quando chegar ao Hospital, eu já estarei morto!
Quando conseguiu estacionar na emergência da Casa de Saúde do Dr.Raimundo, a fumaceira tomou conta de todo o carro. Então, o João de Borba, na maior calma do mundo, exclamou:
- Ih! É por isso que o carro não desenvolvia! Eu doido para chegar rápido e o carro não andava! Deixei o freio de mão ligado!
O TÉCNICO
Três clubes se destacavam no futebol do Crato. O Sport - o melhor - mais organizado e de maior torcida. Provavelmente devido às cores das camisas rubro-negras, como as do Flamengo. O Atlético, com as camisas mais para laranja do que vermelho. E o Cariri, de camisas brancas com duas listras separadas na diagonal, em preto e vermelho. Dos três, o mais modesto.
A Diretoria do Cariri decidiu convencer o Dr. Luís de Borba Maranhão de que ele era um excelente técnico de futebol. Na verdade, estavam de olho era no dinheiro dele. O certo é que ele pegou a corda e a sua estréia foi num clássico contra o Sport. O jogo foi no campo do adversário, no Bairro Barro Vermelho. O campo era de terra, o alambrado era um único arame que cercava as quatro linhas, e o fechamento do estádio era com palha. Joguei algumas vezes nesse campo, em torneio de times de garotos. A bola era oficial, de “pito”, como se chamava, e todos jogavam descalços.
Com o patrocínio do Dr. Maranhão, o Cariri lançou um atacante, Meinha, que tinha fama de goleador.
O Luís se colocou ao lado do novo técnico, para observar suas instruções. O jogo disputadíssimo, mas com maior pressão por parte do Sport. Quase ao final do jogo, córner contra o rubro negro. A bola é lançada para o tumulto da pequena área. E o Meinha, entra de peixinho e, com a cabeça, empurra a bola para o fundo das redes do Sport. O técnico virou-se para o Luís e disse:
- Essa jogada eu combinei para lançar na cabeça do Meinha!
Ao final da partida, com a vitória do Cariri, o novo técnico foi carregado nos ombros pelos jogadores e Diretoria. Afinal de contas, era o grande patrocinador da Equipe...
Clube Atlético Cratense. O primeiro, em pé, da esquerda para a direita, é o Alagoano, cunhado do Luís. Foi quem me levou para assistir ao meu primeiro jogo de futebol. O segundo, agachado, da esquerda para a direita, é o Ossian Alencar Araripe, que chegou a ser prefeito do Crato e Deputado Federal. Era o craque do time e da seleção cratense.
O FISCAL
A Prefeitura do Crato cobrava de comerciantes, profissionais liberais etc, o imposto da placa de identificação, exposta na fachada. Era uma taxa por metro quadrado de placa. Existia um fiscal pouco inteligente que, uma vez por ano fiscalizava se a placa era a mesma ou tinha sido mudada. Estava o Luís na sua Imobiliária Santa Marta, quando chegou o tal fiscal:
- “O senhor mudou a placa?”
- “Mudei sim. Era de madeira e agora é esta aí, de acrílico e iluminada”
- “Ela é maior do que a outra?”
- “Não sei. Pode medir.”
Feita a medida, o fiscal observou que a nova placa era maior. Então, saiu-se com esta:
- Esta placa é maior. O senhor tem o direito de pagar mais um tanto.”
- “Tenho o direito, é?”
- “Sim, senhor. Tem o direito”
- “Pois, se eu tenho este direito, eu prefiro não ter este direito!!!”
A BRIGA
O comentário na Praça era a surra que um soldado da polícia tinha dado num dos Teles. Por pura maldade, covardia mesmo. Quase que mata o pobre do rapaz. Acontece que o agredido tinha um irmão lutador de judô: Alberto Teles. Houve, casualmente, o encontro do Alberto com o tal soldado, na Santos Dumont, próximo ao Cine Moderno e do calçadão que passa ao lado da Imobiliária do Luís. O Alberto foi reclamar ao soldado pela arbitrariedade cometida. O soldado, ao ver aquela pessoa franzina, já se encheu de coragem e partiu para a agressão. De repente sofreu um golpe que o arremessou pelos ares, indo estatelar-se no calçamento. De imediato sacou da arma e, antes de empunhá-la, o Alberto deu-lhe uma pernada, jogando a arma para longe. O soldado, covarde como era, puxou uma peixeira enorme. Alberto, então, entrou na relojoaria do Geraldo Formiga, que só tinha uma porta.
Enquanto isso, alguém chegou na Imobiliária do Luís chamando:
- “Luis, Luís, vem cá depressa. Vem ver uma briga aqui na esquina, entre o Alberto Teles e um soldado!”
Quando o Luís chegou ao local, só ouviu um barulho dentro da relojoaria. Quando menos esperou, o soldado foi saindo, literalmente, voando pela porta e esparramando-se no calçamento. Foi se levantando e gritando:
- “Não deixem esse homem me matar!!!”
ZÉ ARROCHADINHO
Luís Sarmento foi outro dos freqüentadores da Praça Siqueira Campos. O seu expediente era pela manhã, horário no qual os aposentados ficavam apreciando as meninas irem para o colégio. Era um homem muito alto, que estava sempre transpirando muito. Por causa da sua altura, quebrou as duas pernas. Numa viagem a Recife, de ônibus, uma freada brusca e o aperto entre os bancos fez com que ele quebrasse as duas pernas de uma só vez. Devido a esse acidente, ficou com o caminhar irregular. Falava também com dificuldade, pois nunca se adaptou às duas dentaduras que usava. Era um contador de piadas, sempre inéditas. Certa vez contou a seguinte:
Existia um dançarino de samba famoso, que se chamava “Zé Arrochadinho”. Não era o samba dos morros cariocas, que se espalhou por todo o país. Mas era, como se chamavam, desde o século XIX, as festas rurais, animadas por sanfoneiros. Anos depois, passaram a se chamar forrós. O Zé Arrochadino tinha um desafeto gratuito. Certo dia, chegou e avisou para a mulher:
- “Mulher, vai haver um samba ali e eu quero ir. É dos bons, do jeito que eu gosto! Eu quero que você arrume a melhor roupa que eu tiver aí!. É muito bom. É aqui perto!”
- “Tu não larga essa mania de ir pra samba!”
- “Este eu não quero perder de jeito nenhum!. Tenho dois motivos para ir: primeiro porque o samba vai ser bom; segundo, porque estou com um palpite que o Zé Arrochadinho vai, e eu vou matá-lo.”
- “E por que você vai matar o Zé Arrochadinho? Este cristão algum dia lhe fez mal?”
- “Simplesmente porque não vou com os cornos dele! Eu não simpatizo mesmo com aquele caboclo. Uma vez ele disse que suor de negra não fede, o que fede é suor de negro! Desde este tempo que eu fiquei invocado com ele!”
- “Pois agora eu estou é gostando desse Arrochadinho! E pra que a melhor roupa?”
- “Porque eu quero chegar é bonito!”
Foi só chegar no samba e já avistou o Zé Arrochadinho, dançando com uma negra. Não houve nem discussão. Foi logo enfiando a peixeira no desafeto. Foi aquele alvoroço! Fugiu e desapareceu. A casa de samba fechou. Após três semanas resolveu reabrir, encerrando o luto. Quando menos se esperou, estava lá o assassino, dançando tranqüilamente. O policial, que estava de espreita, bateu no seu ombro e disse:
- “Teje preso!”
- “Espere, não vai me dizer que ainda é por causa daquela história antiiiiiiga do Zé Arrochadinho!”
Por: Ivens Mourão
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