O maestro sempre foi o arauto das notícias boas. No seu uniforme com galas douradas, o rosto redondo, tinto de preto azulado fazia bonito o contraste. Comandando os seus “soldadinhos de chumbo” era a sua banda que acompanhava o pau da bandeira, abrindo a festa da padroeira, a visita ilustre, as inaugurações que beneficiariam o nosso município. Entre confetes, serpentinas e lança perfume, o som das marchinhas de carnaval eram azuladas por sua banda, arrastando-nos até a praça numa euforia que me fazem doer de saudade dos carnavais que já não voltam mais. “Alá, lá, lá, ô, ô, ô...”
Havia somente uma ocasião em que o maestro, ao invés da azul-alegria, convidava-nos musicalmente a vestir a nossa alma de luto. Seus dobrados, em tom fúnebre, cadenciados, tornavam-se solenes e lastimosos como os trajes roxos de Nossa Senhora acompanhando seu filho morto.
Ao despedir-se das solenidades, o maestro ia deixando no ar o seu rastro azul “... qual cisne brancos em noite de lua, vai navegando no mar azul...” e todos ficávamos sonhando em singrar com ele os mares do Norte a Sul. Quando criança, eu o seguia sem embaraço, tal qual os meninos do canto de fadas seguiam hipnotizados o tocador de flauta. Minha alma azulada ainda não tinha medo de sonhar, de alçar voos ao mundo da fantasia.
Hoje, embora ainda sinta a vontade de dar a mão a todos da cidade e sair cantando e dançando, mostrando o colorido do meu coração; fico no meu canto muda e só, só vendo “as bandas passarem tocando coisas de amor” e outras tantas melodias que não fazem eco no meu coração.
Onde você está Azul, só pode ser azul; eu te agradeço por ter “musipintado” a minha infância de sonhos e fantasias azuis.
Ana Lúcia Jamacaru.
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