Alfredo da Rocha Viana teve papel importantíssimo na vida e carreira de seu filho Pixinguinha, contribuindo indiretamente para o reconhecimento da MPB. Funcionário dos Telégrafos e flautista por prazer, Alfredo recebia em sua casa diversos músicos que se reuniam para ouvir sua coleção antiga de choros. Foi nesse ambiente que, ao lado de seus irmãos, Pixinguinha cresceu e começou a despertar o fascínio pela música. Quando menino, ainda em Catumbi, foi logo apelidado pela avó de "Pizindum", dialeto africano que significa "menino bom". Depois foi a vez de "Bexiguinha" - em decorrência de uma varíola - e por fim, com a união dos dois, se tornou Pixinguinha. Nessa mesma época, é possível notar que seu primeiro apelido não seria apenas sinônimo de bondade, como também de talento. Aos nove anos, o menino bom aprende com o irmão o seu primeiro instrumento: o cavaquinho.
Ao sair para tocar em festas, Alfredo passa a levar o filho que já mostrava certa afeição com a flauta. Foi então que em 1911, quando a família se mudou para um casarão na rua Vista Alegre, no Rio de Janeiro, Pixinguinha teria o seu primeiro mestre, o celebre oficiclidista Irineu de Almeida. Vendo o crescimento e já apostando em seu sucesso, Alfredo encomendou da Europa uma das flautas mais caras da época. Motivado, Pixinguinha resolve mostrar a que veio e começa a tocar em bares e quermesses do bairro. É a partir daí que surge sua primeira composição, o choro "Lata de Leite". Em 1912, levado por seu irmão China (Otávio Viana), Pixinguinha consegue o seu primeiro emprego como músico profissional na choperia La Concha, na Lapa. No ano seguinte, já conhecido na região, o músico consegue entrar para a orquestra da peça "Chegou o Neves", com apenas 16 anos.
A partir daí, os convites para se apresentar em bares, cabarés e orquestras de cinema só aumentavam. Amante do Carnaval, Pixinguinha conciliava sua vida de músico profissional com a de integrante do Grupo de Caxangá, conjunto instrumental organizado por João Pernambuco, que desfilava pela avenida Rio Braco. Em 1917, gravaria na Odeon um disco com o grupo Choro Pixinguinha, na qual "Sofres Porque queres" e "Rosa", ambas de sua autoria, se tornariam grandes clássicos de sua obra. Com tamanha notoriedade, o músico recebe um convite que mudaria de vez sua vida. O gerente do Cine Palais, Isaac Frankel, sugere a criação de um conjunto musical para tocar na sala de estar de seu cinema. Nasce então os "Oito Batutas", orquestra formada por Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China, irmão de Pixinguinha (violão e canto), Nélson Alves (cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Jacob Palmieri (bandola e reco-reco) e José Alves de Lima, Zezé (bandolim e ganzá).
A "única orquestra que fala alto ao coração brasileiro", como dizia a placa colocada na porta do cinema, conquistou não só os cariocas como também os gringos. Em 1920, o conjunto se apresentou para o Rei Alberto, da Bélgica, que estava em visita ao Brasil. Na volta, Pixinguinha se torna regente da orquestra do Cine Rialto. Nessa época, em 1926, o Cine apresentava a Companhia Negra de Revista, aonde a estrela maior, Albertina da Rocha, conhecida como Beti, viria a ser sua primeira e única mulher, com a qual o músico não teve filhos, mas adotou um menino. Casado, Pixinguinha muda para o subúrbio de Ramos e passa a fazer parte da Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Em 1928, ao lado do amigo, grava uma de suas maiores composições, o choro-samba "Carinhoso". Nessa época, a gravação foi apenas instrumental, somente anos mais tarde recebeu a letra de João de Barro.
Foi com a abertura da gravadora RCA Victor Talking Machine Company Brasil que Pixinguinha se tornou um dos maiores arranjadores da música popular brasileira. Entre os primeiros discos lançados pela empresa, havia dois de seus choros: "Vem cá! Não vou!" e "Urubatã". Como flautista gravou "Aguenta, seu fugêncio", "Segura ele" e "O Urubu e o Gavião", gravação considerada um dos pontos altos de sua carreira devido a sua improvisação. Mesmo com tamanho sucesso na música, Pixinguinha recebeu uma nomeação pública para o cargo de Fiscal de Limpeza Urbana, pelo então prefeito do Rio, Pedro Ernesto. Isso com a ressalva de formar uma banda com os colegas da repartição. A Banda Municipal foi criada e se apresentou em 1934, na própria posse do prefeito.
Após uma série de problemas cardíacos, Pixinguinha resolve abandonar a flauta e passa a se dedicar ao saxofone. Nesse período, a bebida passa a prejudicar também sua saúde. Com a ascensão do bolero e do samba-canção, acabou-se afastando por um breve período dos palcos. A grande volta se dá no Festival da Velha Guarda, em 1954, organizado pelo radialista Almirante. O músico, ao lado do pessoal da velha guarda, invade as rádios, televisões e praças públicas com suas apresentações. No ano seguinte, Pixinguinha lança seu primeiro long-play, o disco recebeu o nome de "Velha Guarda" e contou com a participação de seus músicos e do próprio Almirante
Em 1961, teve sua primeira parceria com o poeta e amigo Vinícius de Moraes. Os dois fizeram diversas composições para a trilha sonora do filme "Sol Sobre a Lama", de Alex Viany, lançando com letras os choros "Mundo melhor" e "Lamentos". Relembrando o por quê de seu apelido quando menino, Vinícius declarou que não havia ninguém tão bom quanto Pixinguinha, "e olha que conheço bastante gente", afirmava o poeta. A partir de 1963, a saúde do compositor volta a preocupar. Ao sofrer um enfarte, Pixinguinha passa por um período de internação. Por ironia do destino, quando o compositor se restabelece, é a vez de sua mulher passar mal e ser internada.
Não tendo a mesma sorte de Pixinguinha, que meses depois deixava o hospital, dona Beti faleceu no ano seguinte, aos 74 anos de idade. Com a perda de sua mulher, com quem conviveu por 45 anos, o músico se abateu e passou a enfrentar alguns problemas financeiros. Seis meses depois, a imprensa noticia: "O santo da MPB morreu como tinha que ser, numa igreja". Durante uma cerimônia de batismo do filho de seu amigo Euclides de Souza Lima, Pixinguinha sofre mais um enfarte e dá seu último suspiro dentro da sacristia da Igreja Nossa Senhora da Paz.
Influencia popular
No século 19, o gênero que fez a cabeça não só dos cariocas mas de toda a sociedade brasileira foi a polca. De origem dos Países Baixos, o ritmo fazia com que seus pares dançassem juntinhos ao som de uma melodia eletrizante. Difundida por todo o Rio de Janeiro, a polca acabou por influenciar o surgimento de novas expressões musicais. Foi então que, com o conjunto Pixinguinha, o músico começou a compor valsas, polcas e choros, fazendo surgir assim a originalidade da música popular brasileira. Em 1918, com o surto da gripe espanhola que se espalhava por todo o Brasil, o gerente do Cine Palais resolve inovar. Foi a partir daí que surgiu o convite para Pixinguinha formar "Os Oito Batutas", como uma tentativa de resgatar o público que havia se afastado dos cinemas devido a epidemia. Com a formação da orquestra, em 1919, Pixinguinha passou a fazer sucesso com a elite apresentando ritmos até então conhecidos somente nos subúrbios cariocas. Ainda com o conjunto, o músico ampliou ainda mais seu público passando a ser reconhecido no exterior com apresentações em Paris e na Argentina.
Durante toda sua carreira, Pixinguinha se tornou uma pessoa respeitada por todas as áreas da sociedade, inclusive na política. Em 1961, após assumir a Presidência da República, Jânio Quadros criou o Conselho Nacional de Cultura, e o nomeou como Conselheiro com nota publicada no Diário Oficial.
DIANA CARVALHO colaboração para a Livraria da Folha