Sempre parcial, sempre classista.
Já escrevemos e muitos já escreveram sobre o papel da mídia corporativa brasileira que age como um partido político, o Partido da Imprensa Golpista - PIG. E não é de hoje que o PIG age em nosso país. Se buscarmos tempos mais remotos, veremos que o PIG agiu para desestabilizar governos considerados "esquerdistas" como no caso do governo João Goulart.
Que a mídia corporativa é classista, despudorada e defende de forma escancarada seus interesses, todo mundo está cansado de saber. E que pratica o mais deslavado corporativismo como no caso do jornalista Boris Casoy e seu preconceito contra os garis, idem. A mídia que julga a todos se calou no caso do Bóris. Apenas um ou outro jornalista o criticou em seus sites e blogs.
Mesmo assim não é possível ficar calado. Agora com essa cobertura sobre as tragédias das chuvas. Vários brasileiros morrem ou se ficam vivos, perdem tudo o que trabalharam a vida inteira para conseguir. No entanto, as Organizações Globo como sempre, demonstraram seu caráter de classe, de elitismo e de preconceito na cobertura de duas mortes por causa das chuvas.
Duas coberturas distintas sobre duas mortes. De duas brasileiras.
A primeira, a da estudante de classe media alta, Yumi Faraci. Morta num deslizamento de terras em Angra dos Reis, na madrugada do dia 1º de janeiro de 2010. A Rede Globo se superou: matérias no Fantástico, vídeos da jovem, sua história de vida nesses 18 anos, seus gostos, seus amigos, até a família enlutada deu entrevista no horário nobre, em pleno Jornal Nacional. Seus amigos deram entrevistas e falaram que Yumi adorava cantar e que gostava à noite de ir olhar os planctons no mar. No dia seguinte, no outro jornal global, aquele da manhã, apresentados pelo "Renato e pela Renata", a apresentadora Renata fez o discurso de que a morte de Yumi comovera todo o país. Sem dúvida, a morte de uma pessoa é algo que nos faz refletir a fragilidade da vida humana e lamentar tal perda. Mas a cobertura é diferenciada conforme a posição social .O que a Rede Globo fez em outro caso é de arrepiar. No dia 05 de janeiro de 2010, a empregada doméstica Shirley da Cruz Silva deu o "azar" de cair em uma galeria pluvial em Perus, Zona Norte da cidade de São Paulo. No caso da TV, foi divulgada pelo Jornal Hoje, a foto da empregada doméstica e foi citado o que aconteceu com ela. Eu sei, não há vídeo da empregada, afinal, ela é uma empregada doméstica e provavelmente não gravava vídeos de suas canções e viagens etc etc. Mas, e a cobertura da televisão? Expuseram a foto 3X4 da moça e só. Nenhuma reportagem com a sua família, nenhum amigo dizendo os seus gostos, sonhos, planos. Nada. Nenhuma cobertura especial. Nadinha de nada. Não dá para saber pela mídia.
O que a Rede Globo concedeu à memória da vítima do bueiro foi mostrar no dia 06, no jornal local de São Paulo, em uma matéria de 44 segundos, o que aconteceu com a moça. E nenhum comentário comovido das apresentadoras, sobre mais essa perda humana. Como a família se revoltou com a prefeitura, alegando que a boca de lobo, no site G1, também das Organizações Globo, foi divulgado em uma nota, um trecho que diz: "Segundo tios e um primo da vítima contaram ao G1 nesta quarta (6), o acesso a essa galeria está aberto há mais de um ano. Procurada, a Secretaria das Subprefeituras informou que apurava o caso."
Assim ficamos sabendo da morte da estudante e da morte da empregada doméstica. Ainda não entenderam que a diferença entre a casa grande e a senzala não pode mais existir.