Em razão, principalmente, do incompreensível descaso do seu povo na hora de usar a principal e mais mortífera das armas de que dispõe um cidadão – o voto - a cidade do Crato, já há cerca de 40 anos, entrou em degradante, sofrido e lento processo de agonia em termos industriais, comerciais e, consequentemente, econômico, por conta da orfandade do seu poder político, da inexistência de uma bancada legislativa “genuína”, capaz de brigar e carrear os necessários recursos ao processo desenvolvimentista do município.
No entanto, pior do que constatar essa cruel realidade, o que dói, fere e maltrata é ver e sentir o apossar-se de parte de suas “cabeças pensantes” (autoridades), um perigoso sentimento de inércia, impotência, acomodação e marasmo (como se não houvesse mais jeito de reversão do quadro presente), traduzida na recorrente e inapropriada expressão: “o Crato tá morto”.
E aí, para se contrapor à versão popular, haja argumentos, oficiais ou não, de toda espécie, na vã tentativa de ocupar espaços, de confundir os menos desavisados; uma hora, se fala numa tal de conurbação, sem se levar em conta (propositadamente ou não) que, no caso específico, a própria se adstringe apenas e tão somente ao aspecto territorial (à junção urbanística), desprezando-se a mola mestra propulsora do desenvolvimento: o componente econômico, o temível mercado, a força motriz que faz a roda girar (sim, porque aqui, todos sabemos, os investimentos são direcionados e centrados em um só pólo, uma só das áreas envolvidas, caracterizando um autentico processo conurbatório manco ou de uma só perna, desprovido de substância, de essência; ou seja, territorialmente dá-se a dita cuja (conurbação); economicamente, o viés capacitador da eclosão de mudanças, inexiste para um dos lados; temos, pois, uma conurbação de araque, feita prá inglês ver, porquanto de uma só via, de mão única, sem retorno.
De outra parte, realça-se como potencial instrumento alavancador de benesses, uma presumível melhoria na “qualidade de vida” da população, já que receptora de possíveis benefícios que adviriam de uma cidade melhor cuidada, mais limpa, menos poluída, capaz, assim, de atrair mais gente. Meritória, a intenção, indubitavelmente. Mas, como atrair mais gente, se inexiste emprego, se a atividade produtiva colapsou-se, se o poder municipal não arrecada e, portanto, não tem como ofertar nada, se nem o IPTU é pago por todos, se a roda do progresso gira em uma só direção ??? Como vislumbrar melhoria na qualidade de vida, se apenas uma ínfima e privilegiada parte dos indivíduos detém o poder de compra, de freqüentar os poucos espaços cuidados pelo poder público, de movimentar o raquítico comércio local ???
Diante de tal quadro, ao Crato apresentar-se-iam, hoje, duas alternativas aparentemente esdrúxulas, díspares em sua essência e não consideradas há alguns anos atrás: 1) num primeiro momento, deixar de lado todo e qualquer escrúpulo e tratar de “imitar”, sim, cidades outras (e existem muitas no Brasil e no mundo), que vivem em função das romarias, da desumana exploração da fé dos paupérrimos (em termos de Nordeste) romeiros, investindo pesado na construção da já famosa estátua de Nossa Senhora de Fátima, com a contemplação em seu entorno de um bem estruturado e amplo complexo espaço comercial que, fria e profissionalmente gerido, teoricamente seria capaz de “obrar o milagre” de revitalizar nossa frágil e mambembe economia (se a “coisa” pega, vamos longe; o problema é que, embora a verba já esteja disponibilizada, nosso azar é tão grande que já pesam sobre a construtora vencedora da licitação sérias denúncias de malversação do dinheiro público, de não cumprir com o estabelecido contratualmente (foi a responsável pela reforma da Siqueira Campos), o que a inviabilizaria ou a descredenciaria para levar adiante o projeto); 2) no momento seguinte, torcer e torcer muito, fazer figa e, até (atenção católicos praticantes) rezar, apelar e implorar ao santo da preferência de cada um, para que proceda, tenha fundamento e se torne uma agradável realidade as informações de que, sob as frondosas árvores da Chapada do Araripe e seu silêncio sepulcral, repousa no subsolo uma riqueza natural, por todos desejada e dificilmente encontrada: depósitos razoáveis do “ouro negro” (petróleo), com perspectiva de viabilidade exploratória comercial; o efeito de tal descoberta, se se concretizar, tornará a cidade do Crato um pólo de atração para todo o Brasil e, aí sim, com sérios e benéficos reflexos econômicos imediatos, capazes de, definitivamente, sepultar de vez com esse engodo da conurbação (vide o exemplo da hoje progressista vizinha cidade de Mossoró (RN), que se metamorfoseou rapidamente quando viu brotar do seu árido solo, tal mineral).
Resta-nos, pois, ficar à espera de um milagre: da santa (Fátima) ou do santo (Petróleo) ou - por que não? – de ambos, porquanto emblemáticos anunciantes de uma “nova era”.
Que assim seja !!!
Autoria e postagem: José Nilton Mariano Saraiva