O Crato é uma cidade do mundo. Cidade é coisa de gente. Gente é coisa do mundo. O mundo é uma areia do universo, mas gente não. Não é areia. Gente não tem medidas. Nem espaço. Não existe um dentro e um fora. Existe gente, o mais são metáforas.
E creia-me se o Crato é um ponto da areia do universo, os cratenses são outra coisa. Sem ângulos, superficialidade ou profundidade; sem verticalidades ou horizontalidades; sem pontos de fuga. Nem centímetros ou medidas de volume. Não possuímos volumes. Assim como não temos um reservatório interior para poupar vivências, menos ainda um compartimento exterior preservado para a segurança de ser no mundo.
Assim os cratenses não são o mesmo que o Crato. E logo vem a alternativa: seriam espíritos soltos do mundo? Tampouco. Estamos e não estamos no mundo, somos e não somos o mundo. Nós, os cratenses, somos e não somos nós mesmos. Não sendo o mesmo que o Crato somos, no entanto, cratenses. Entre sim e não se encontra a nossa real natureza.
Deste modo: temos e não temos medidas. Temos e não temos espaço. Mas temos tempo? O correr. Temos o correr do tempo. Não ele como uma métrica do antes, de agora ou depois. A corrida dele. Isso temos. E vamos nós. Lá vou eu.
José do Vale Pinheiro Feitosa
