Palavras não lhe foram ditas, apenas imprecauções, grunhidos de lobos ao luar. Logo um gatilho descontrolado cuspiu uma cápsula quente sobre o deltóide do gigante. Foi a senha para o descontrole mental ao efeito de crack daqueles atos celerados. Os cassetetes batiam nas pernas dele como machados nos troncos de coqueiros nas praias desmatadas em benefício dos andares prediais. Ele se ajoelhou não por prece, mas em tombo de abate. E a violência policial se mantinha não como ato institucional, mas como a loucura que só se esvai quando as força e o cansaço domina o agressor. Nisso o corpo dele estava todo lanhado, estrias se distribuíam como lagartas num chão, sangue pela boca, ouvidos e arranhões generalizados.
Arrastaram, desmaiado, o gigante para a carroceria da pick up. Saíram como vaqueiros após a bebedeira no saloon. Chegaram na delegacia como heróis. Alguns passantes da rua se detiveram pela curiosidade com aquele grande personagem carregado, semi-desperto em direção à mesa do delegado. A cena era tão diferente que o número de curiosos triplicou em questão de segundos. O sargento comandante foi apresentando as credenciais da operação:
- Aqui o safado do criminoso. Deu trabalho. Reagiu. Mas levou o dele.
O delegado esfregando as mãos de satisfação se dirigiu ao preso mutilado com a arrogância de pergunta-lhe o que tinha para dizer como se fosse esta uma pergunta irrespondível. Tudo ficou complicado quando o gigante falou:
- O pára-choque do carro de vosmicê tem o sangue da pessoa que acabou de barroar.
- Era um jumento!!? – disse o delegado.
- O morto que me deu de herança uma peia de torar a alma.
Por José do Vale Pinheiro Feitosa