D.E - Olha, Dihelson, foi enviado um projeto inicialmente por Rosemberg Cariry, há muito tempo atrás para a construção do Parque Histórico do Caldeirão. Esse projeto estava na Secult, e foi reenviado recentemente por Wilton Dedê, e eles ( secult ) olharam, e disseram que estavam pré-dispostos a fazer uma parceria com o município, conceder uma verba para o projeto. Então, na SEINFRA ( Secretaria da Infra-Estrutura ), os nossos técnicos reformularam todo o projeto, cujo valor inicial era de mais de 1 milhão de reais, o que inviabilizava a sua execução, porque o incentivo esperado era de somente 300 mil reais, e hoje é de 360 mil, dos quais, 60 mil seria a contrapartida da prefeitura. E com esse valor, nós conseguimos construir um projeto que atende a restauração da Capela, a criação de um Museu do Caldeirão, com auditório, com todo o aparato que necessita-se para receber os turistas, bem como para restaurar a casa do morador, que foi uma das casas erguidas pelo próprio Beato Zé Lourenço, bem como "melhorar um pouco" as ruínas, até porque as ruínas por serem patrimônio histórico, já não poderemos mexer muito. No local, estivemos com alguns professores da URCA, que fizeram todo o mapeamento com GPS de ruínas, e já foram demarcados alguns locais também.
B.C - Qual o próximo passo?D.E - O nosso próximo passo é fazer um seminário mostrando esse projeto para as pessoas, entrar com a URCA ( Universidade Regional do Cariri ), com geólogos, arqueólogos, fazer um estudo aprofundado, para que nós não possamos errar nesse processo, e fazer tudo de acordo com a Lei do Patrimônio.
B.C - O Projeto então, já está aprovado ?D.E - Sim. O projeto já está aprovado lá no COPAC, que é a coordenação da SECULT que cuida do patrimônio. O Secretário Otávio, já esteve aqui, e trouxe outras pessoas importantes, ao projeto e só estamos aguardando passar a quadra invernosa, para começar a construção, e pretendemos realizar esse projeto até setembro, a fim de que seja inaugurado na missa que acontece todo ano, e já fazendo a divulgação da romaria, bem como um trabalho paralelo a isso, que Eu e o Cacá Araújo nos concentramos para realizar, que seria um grande espetáculo cênico dedicado ao lançamento. Esse é o nosso propósito. Estamos lutando para que seja ainda nesse ano. Se não for possível em razão do curto prazo, lutaremos para que nos próximos anos aconteça esse espetáculo e seja um motivo para que as pessoas possam vir assistir, e possam conhecer a história, além de trabalhar com os universitários de pesquisa de todo o país, além dos estudantes de nossa própria região para que conheçam essa história que é tão importante quanto a do Padre Cícero e a de Antonio Conselheiro em Canudos.
B.C - O que você acha dessa porção da nossa história enterrada naquele caldeirão ?Olha, indiscutivelmente, é uma história riquíssima, e é polêmica também, onde nesse seminário nós iremos trabalhar mais esse lado, pois isso é um resgate histórico e que não pode se perder, porque aquilo ali é um marco muito forte na história da nossa cidade, e que pouquíssimas pessoas conhecem.
B.C - Aonde será realizado o seminário sobre o caldeirão ?D.E - Nós queremos realizar no próprio local, inclusive estou preparando o material, vou convidar as pessoas, inclusive o Governador, para vir fazer a assinatura da ordem de serviço, já que é uma parceria com o governo do estado, e também com a presença do idealizador do projeto, o próprio Rosemberg Cariry. Pretendemos ao fim de tudo, fazer um trabalho de continuidade com a própria comunidade, de tudo que o beato fazia, da preservação do meio ambiente, com o plantio para a subsistência, o engenho, a fiagem, a criação de animais, enfim, todas aquelas coisas que nós esperamos revitalizar, fazer voltar, até porque se analisarmos pela perspectiva da história, o Caldeirão foi um exemplo de modelo social que deu certo, das pessoas viverem em comunidade de forma igualitária, e por isso mesmo, já estava ameaçando os grandes líderes políticos, que não viam com bons olhos todo aquele movimento. Há até uma passagem que foi registrada na qual, um fazendeiro precisou de homens para limpar a fazenda dele, e de um dia para o outro ele ( O Beato ), teria enviado cerca de 400 homens, e em apenas hum dia, a fazenda foi limpa. Essa é uma demonstração do respeito e da admiração que todos tinham pelo beato Zé lourenço.
B.C - Mas havia também a parte da fé...Claro. Existia a parte da fé, esse fanatismo que a gente não pode negar, mas estavam construindo algo de útil, e inclusive vale ressaltar que as pessoas que conheceram de perto toda a história, que vivenciaram, já estão morrendo, e é nosso propósito fazer um vídeo, uma exibição, que faz parte do projeto inicial de Rosemberg também, de fazer um acompanhamento de todos os trabalhos, desde o primeiro tijolo que for colocado no local, até o final do projeto.
B.C - O Cineasta Rosemberg Cariry está acompanhando esse trabalho, mesmo de longe ?D. E - Eu tive mais contato com Wilton Dedê, mas já estamos estreitando os contatos também com Rosemberg, inclusive eu estarei viajando nesse final de semana, e levarei o projeto na sua forma atual, a fim de mostrar como ficou aqui, e não só com o Rosemberg, mas gostaríamos de compartilhar o projeto com as Universidades, com os profissionais de Arquitetura, com os Arqueólogos, porque é um local tombado, então a gente tem que ter essa preocupação, e nós precisaremos acompanhar semanalmente esse projeto. Eu, particularmente, estarei lá toda semana para acompanhar as obras, até porque, um tijolo se colocado de forma errada já descaracteriza todo o resto, e nós queremos que os visitantes ao chegarem ao local depois de pronto, sintam a história do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, que remetam ao passado, e tentem imaginar o que foi aquilo ali através do que eles estarão vendo...casas feitas de pedra... aquilo ali é algo simplesmente fabuloso!
B.C - Existe algum projeto no sentido de melhorar o acesso ao local ?Olha, existem 2 possibilidades que estaremos trabalhando. Uma delas é melhorar a via de acesso já existente, porque nós queremos sobretudo, incentivar o turismo, então precisamos dar acesso às pessoas, fazer com que as pessoas cheguem até lá. A outra possibilidade é de construir outra estrada a partir da cidade de Nova Olinda, porque aí faria parte do roteiro turístico das duas cidades. Mas essas questões ainda estão sendo estudadas! O projeto atual contempla a restauração da estrada atual, mas surgiram outras idéias, e ainda discutiremos com o prefeito Samuel Araripe, e com todos os técnicos, a fim de ver o que realmente poderá ser escolhido de melhor para aquele local.
* * *
Mais Informação: O que foi o Caldeirão:O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos messiânicos que surgiu nas terras no Crato, Ceará. A comunidade era liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido por beato José Lourenço.
No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na Religião.
História
Sítio Baixa Dantas
José Lourenço trabalhava com sua família em latifúndios no sertão da Paraíba. Decidiu migrar para Juazeiro do Norte, onde conheceu Padre Cícero e ganhou sua simpatia e confiança. Em Juazeiro conseguiu arrendar um lote de terra no sitio Baixa Dantas, no município do Crato. Com bastante esforço de José Lourenço e os demais romeiros, em pouco tempo a terra prosperou, e eles produziram bastante cereais e frutas. Diferente das fazendas vizinhas, na comunidade toda a produção era dividida igualmente.

José Lourenço tornou-se líder daquele povoado, e se dedicou à religião, à caridade e a servir ao próximo. Mesmo analfabeto, era ele quem dividia as tarefas e ensinava agricultura e medicina popular. Para o sítio Baixa Dantas eram enviados, por Padre Cícero, assassinos, ladrões e miseráveis, enfim, pessoas que precisavam de ajuda para trabalhar e obter sua fé. Após o surgimento da Sedição de Juazeiro, da qual José Lourenço não participou, suas terras foram invadidas por jagunços. Com o fim da revolta, José Lourenço e seus seguidores reconstruíram o povoado.

Em 1921, Delmiro Gouveia presenteou Padre Cícero com um boi, chamado Mansinho, e o entregou aos cuidados de José Lourenço. Os inimigos de Padre Cícero, se aproveitaram disso espalhando boatos de que as pessoas estariam adorando o boi como a um Deus. Por conta disso, o boi foi morto e José Lourenço foi preso a mando de Floro Bartolomeu, tendo sido solto por influência de Padre Cícero alguns dias depois.

Caldeirão de Santa Cruz do Deserto
Em 1926, o sítio Baixa Dantas foi vendido e o novo proprietário exigiu que os membros da comunidade saíssem das terras. Com isso, Padre Cícero resolveu alojar o beato e os romeiros em uma grande fazenda denominada Caldeirão dos Jesuítas, situada no Crato, onde recomeçaram o trabalho comunitário, criando uma sociedade igualitária que tinha como base a religião. Toda a produção do Caldeirão era dividida igualmente, o excedente era vendido e, com o lucro, investia-se em remédios e querosene.

No Caldeirão cada família tinha sua casa e órfãos eram afilhados do beato. Na fazenda também havia um cemitério e uma igreja, construídos pelos próprios membros. A comunidade chegou a ter mais de mil habitantes. Com a grande seca de 1932, esse número aumentou, pois lá chegaram muitos refugiados. Após a morte de Padre Cícero, muitos nordestinos passaram a considerar o beato José Lourenço como seu sucessor.

Devido a muitos grupos de pessoas começarem a ir para o Caldeirão e deixarem seus trabalhos árduos, pois viam aquela sociedade como um paraíso, os poderosos, a classe dominante, começaram a temer aquilo que consideravam ser uma má influência.
Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero que falecera em 1934, a fazenda foi invadida, destruída e os sertanejos divididos, ressurgindo novamente pela mata em uma nova comunidade, a qual, tempos depois, foi invadida novamente, mais dessa vez por terra e pelo ar, quando aconteceu um grande massacre, com oficiais 400 mortos.
José Lourenço fugiu para Pernambuco, onde morreu aos 74 anos, de peste bubônica, tendo sido levado por uma multidão para Juazeiro, onde foi enterrado no cemitério do Socorro.
Caldeirão hoje
Atualmente, 42 famílias revivem o sonho coletivo de produção idealizado por José Lourenço, num sítio denominado Assentamento 10 de Abril, a 29 km do centro do Crato. Porém sem ostentar a grandeza atingida pelo Caldeirão do beato José Lourenço.
Fonte: WikipédiaFotos: Pachelly Jamacaru
Reportagem: Dihelson Mendonça