Patrimônio cultural O Cariri é área de interesse do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por apresentar rico acervos
Juazeiro do Norte. A recomendação do Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio do arquiteto Carlos Fernando de Moura Delfim, para os tombamentos estadual da Cachoeira de Missão Velha e o nacional da Colina do Horto, deverá ser posta em prática no início do próximo ano. Pelo menos essa é a intenção da 4º Superintendência Regional do Iphan, no Ceará.
A superintendente substituta do órgão, Olga Paiva, diz que, após a retomada dos trabalhos no início deste ano, os assuntos serão incluídos em pauta de trabalho, dando uma prioridade nesses estudos no Cariri. A idéia é encaminhar, além dos dois locais propostos, também aos sítios arqueológicos na região. De acordo com ela, o Cariri sempre esteve na pauta de trabalhos do Iphan, mas este ano não teve como intensificar com maior prioridade esses estudos.
No caso da Cachoeira de Missão Velha, o início dos trabalhos, conforme Olga Paiva, passa por um entendimento com o secretário de Cultura do Estado, Auto Filho, para dar encaminhamento ao processo, com a proposta apresentada por Carlos Fernando.
Estudos detalhados
Olga Paiva explica que o passo a ser seguido, requer, inicialmente, a abertura do processo e instrução, o que implica em estudos detalhados, em ambos os locais, com busca de vestígios. Ela destaca a importância dos locais e diz que, com os estudos realizados para inclusão da Colina do Horto como Geotope, percebeu a importância não só no sentido da religiosidade, por ser um local de peregrinação. A Colina faz parte de uma das formações geológicas mais antigas do Geopark Araripe, do período Pré-Cambriano, o que corresponde há cerca de 600 milhões de anos.
Já a Cachoeira de Missão Velha, atualmente, merece uma atenção especial dos poderes públicos, tanto local como estadual. É um dos cartões postais do Estado, se recuperada. O local se reveste de uma importância histórica, por, conforme pesquisadores, ter sido iniciado o processo de colonização da região, além de beleza paisagística. Do período Devoniano, esse geotope corresponde a Cachoeira do Rio Batateiras.
Os canyons chamam a atenção. Segundo o arquiteto José Sales, este conjunto, de impressionante beleza e integridade, é um Parque Municipal instituído por legislação municipal específica encaminhada pela Prefeitura de Missão Velha, e tem um programa de educação ambiental na área.
ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter
FIQUE POR DENTRO
Poder público é autor das ações patrimoniais
O tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental, quais sejam: fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas, cascatas etc. Somente é aplicado aos bens materiais de interesse para a preservação da memória coletiva. Também pode ser feito pela União, por intermédio do Iphan, pelo governo estadual, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado ou pelas administrações municipais, utilizando leis específicas.
Mais informações:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
4ª Superintendência Regional, Rua Liberato Barroso, 525, Fortaleza (CE) , (85) 3221.2180
MELHORAMENTOS
Reconhecimento vai assegurar proteção legal
Juazeiro do Norte. Nos dois locais que poderão ser priorizados a partir do início de 2009 pelo Iphan e que poderão passar a ser protegidos por lei, como áreas legalizadas como patrimônio histórico, há preocupação pelas constantes modificações, com a intervenção do homem. Esse processo se dá tanto no sentido de mudanças estruturais, sem estudos e respeito ao aspecto histórico, como pela forma desenfreada da degradação ambiental.
Em Juazeiro do Norte, há alguns meses foi retirada a pedra tosca da Rua do Horto para colocação do paralelepípedo, por meio de projeto da Prefeitura local. A justificativa foi a recuperação da rua esburacada, com danos maiores principalmente durante às chuvas, impedindo o tráfego normal na via. A comodidade venceu a memória histórica. Para Olga Paiva, como não há proteção legal para área, com ausência do tombamento, o máximo que poderia ser feito era uma orientação, no sentido de preservação daquele patrimônio.
O historiador e também pesquisador de Juazeiro e do Padre Cícero, Daniel Walker, foi um dos que defendeu a aposição de pedras de melhor qualidade, ao invés do paralelepípedo, afixadas com cimento e não com areia como aconteceu. Mas mesmo assim o calçamento continuou por décadas. São mais de dois quilômetros de subida, considerada a “via-crucis”, dos romeiros do Padre Cícero. As casas simples relembram as pequenas vilas rurais.
Exemplo de conservação
Walker há alguns anos visitou a cidade de Piranhas, em Alagoas, com monsenhor Murilo, e disse ter se admirado com o exemplo de preservação dado pela administração daquela cidade, conseguindo o tombamento pelo patrimônio histórico praticamente de todas as ruas. Ele também lembra dois calçamentos em pedra tosca das ruas de Ouro Preto, em Minas Gerais, do tempo do Império. “São calçamentos em pedra tosca de melhor qualidade, maiores do que as nossas, mas que continuam em bom estado de conservação”, destaca o historiador caririense.
Este ano foi comemorado o centenário do Casarão do Horto. A casa onde residiu o Padre Cícero era o seu refúgio para meditação. A área em volta passa por um processo de reflorestamento. Segundo a superintendente substituta, o local se reveste de um grande valor histórico. “Do ponto de vista de patrimônio imaterial está na categoria lugar. É um local sagrado pela piedade popular”, explica ela.
BELEZA
"A Colina do Horto se reveste de um valor histórico indiscutível, com paisagem e beleza"
Olga Paiva
Superintendente do Iphan
Reportagem: Elizângela Santos
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
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