
Avenida Rio Branco, nesta sexta feira, às 21h30min. O povo não vai para casa, fica bebericando, conversando, paquerando, esperando, comendo churrasquinho nas calçadas. Saio apressado de uma reunião política e pego um táxi. Jardim Botânico, passando pelo agito da Lapa, Largo do Machado, Laranjeiras, Cosme Velho, Túnel Rebouças e estou em casa.
O táxi veio rápido. O trânsito ainda pesado, mas fluindo bem. O taxista. Um homem magro, cabelos rastafári, negro, um jeito agradável de conversar e ouvir. E aí começo uma entrevista.
Você gosta de música? Eu sou músico. Adivinhei, de cara senti a persona do músico, o quê tocas? Sou baixista. Gosta de rock, blues, reggae, mas curte samba, forró, do tipo pé de serra, não do eletrônico. Por que não o eletrônico? Não dizem nada, é mera repetição. Escuta um disco recém lançado e se imagina que é uma música do ano passado. Gosto do Seu Luiz Gonzaga, do Seu Dominguinhos. Mas este pagode? É a mesma coisa. Só que tem uma, foi este pagode ruim, sem boa letra e nem novidade musical que fez a moçada voltar a gostar do samba. Hoje muito jovem gosta de Almir Guineto, Zeca Pagodinho e veio por este pagode ruim. Igual a música baiana, não tem quem agüente mais. Aquela conquista do frevo de guitarra com as letras do Moraes Moreira era muita doideira. Depois passou da conta. E Funk? Não tenho nada contra, mas não ouço. Mas tem um bocado de coisa aí que é Funk, muita gente não sabe e é coisa boa.
Comecei na música com 20 anos. Foi um caminho estranho. Tava numa dureza total. Sem grana alguma. Um amigo tinha uma banda e me convidou para assistir ao ensaio. Eu conhecia quase todas as músicas, muito mais que o vocalista da banda. Aí quase cantei a noite toda, o vocalista até foi embora. Então ganhei duzentos paus pela noite, aquilo caiu do céu. Fiquei tocando em Madureira uma vez por semana. Depois saiu o baixista e trouxemos uma mulher. Ela transou com todo mundo, mas não tocou nenhuma noite. Então eu fui nesta. Com a cara e a coragem. Depois a banda acabou e outro grupo me chamou. Cheguei lá e o vocalista, toca um lá menor aí. E aí o que faço? Arrastei os dedos junto com o guitarrista, segui as posições e aprendi. Nunca estudei e nunca tive alguém para me dar lições.
Um tempo depois uma banda de Jacarepaguá Sigma 3 me chamou. Vivi como músico mesmo. Toda a noite tocava quatro horas numa casa noturna. Depois tocava duas horas numa e mais duas noutra. Sempre em Jacarepaguá? Não. Em lugares distantes, na Barra, no Recreio, Campo Grande, Bangu. Às vezes levava muito tempo entre um lugar e outro. Começava num restaurante, passava para uma boate e terminava numa festa na casa de alguém. Fui para o Espírito Santo e toquei com uma banda de lá. Hoje toco na Lapa com a Sandra Grego e os Troianos. Gravou? Gravei em banda. Mas ainda tenho um projeto de gravar um CD só meu. Instrumental? Não. Voz.
E o sucesso, como é que você resolve isso? Ih! Eu sou músico, sou artista, não é disso que estou necessitando. Eu faço o que gosto, por isso mesmo é que tenho o táxi para o meu sustento. Para ter independência. E esta questão de crítica, de ser medíocre? Não é por aí, isso não muda nada, nem ser chamado de gênio muda nada. Até atrapalha, um pessoal lá no Espírito Santo me elogiava, fiquei sem iniciativa. Mas e se aparece um caro bom, arrasando, você não fica com inveja, com ciúmes de artista? Não, aí é que fico com vontade de fazer o que ele faz. Aquilo faz é me estimular.
Recebo o troco e explico a entrevista. Vou postar num blog da minha terra. Ele pega um papel: olha aqui em cima, entre na Internet e tem um e-mail, manda isso para mim. Pego e entro num site e o nome Cyro Elias. Demais o papo.
Por: José do Vale Feitosa

O táxi veio rápido. O trânsito ainda pesado, mas fluindo bem. O taxista. Um homem magro, cabelos rastafári, negro, um jeito agradável de conversar e ouvir. E aí começo uma entrevista.
Você gosta de música? Eu sou músico. Adivinhei, de cara senti a persona do músico, o quê tocas? Sou baixista. Gosta de rock, blues, reggae, mas curte samba, forró, do tipo pé de serra, não do eletrônico. Por que não o eletrônico? Não dizem nada, é mera repetição. Escuta um disco recém lançado e se imagina que é uma música do ano passado. Gosto do Seu Luiz Gonzaga, do Seu Dominguinhos. Mas este pagode? É a mesma coisa. Só que tem uma, foi este pagode ruim, sem boa letra e nem novidade musical que fez a moçada voltar a gostar do samba. Hoje muito jovem gosta de Almir Guineto, Zeca Pagodinho e veio por este pagode ruim. Igual a música baiana, não tem quem agüente mais. Aquela conquista do frevo de guitarra com as letras do Moraes Moreira era muita doideira. Depois passou da conta. E Funk? Não tenho nada contra, mas não ouço. Mas tem um bocado de coisa aí que é Funk, muita gente não sabe e é coisa boa.
Comecei na música com 20 anos. Foi um caminho estranho. Tava numa dureza total. Sem grana alguma. Um amigo tinha uma banda e me convidou para assistir ao ensaio. Eu conhecia quase todas as músicas, muito mais que o vocalista da banda. Aí quase cantei a noite toda, o vocalista até foi embora. Então ganhei duzentos paus pela noite, aquilo caiu do céu. Fiquei tocando em Madureira uma vez por semana. Depois saiu o baixista e trouxemos uma mulher. Ela transou com todo mundo, mas não tocou nenhuma noite. Então eu fui nesta. Com a cara e a coragem. Depois a banda acabou e outro grupo me chamou. Cheguei lá e o vocalista, toca um lá menor aí. E aí o que faço? Arrastei os dedos junto com o guitarrista, segui as posições e aprendi. Nunca estudei e nunca tive alguém para me dar lições.
Um tempo depois uma banda de Jacarepaguá Sigma 3 me chamou. Vivi como músico mesmo. Toda a noite tocava quatro horas numa casa noturna. Depois tocava duas horas numa e mais duas noutra. Sempre em Jacarepaguá? Não. Em lugares distantes, na Barra, no Recreio, Campo Grande, Bangu. Às vezes levava muito tempo entre um lugar e outro. Começava num restaurante, passava para uma boate e terminava numa festa na casa de alguém. Fui para o Espírito Santo e toquei com uma banda de lá. Hoje toco na Lapa com a Sandra Grego e os Troianos. Gravou? Gravei em banda. Mas ainda tenho um projeto de gravar um CD só meu. Instrumental? Não. Voz.
E o sucesso, como é que você resolve isso? Ih! Eu sou músico, sou artista, não é disso que estou necessitando. Eu faço o que gosto, por isso mesmo é que tenho o táxi para o meu sustento. Para ter independência. E esta questão de crítica, de ser medíocre? Não é por aí, isso não muda nada, nem ser chamado de gênio muda nada. Até atrapalha, um pessoal lá no Espírito Santo me elogiava, fiquei sem iniciativa. Mas e se aparece um caro bom, arrasando, você não fica com inveja, com ciúmes de artista? Não, aí é que fico com vontade de fazer o que ele faz. Aquilo faz é me estimular.
Recebo o troco e explico a entrevista. Vou postar num blog da minha terra. Ele pega um papel: olha aqui em cima, entre na Internet e tem um e-mail, manda isso para mim. Pego e entro num site e o nome Cyro Elias. Demais o papo.
Por: José do Vale Feitosa
