Para simplificar a questão partidária: eu não sou filiado ao PT. Mas poderia ter sido chamado de subversivo, apanhado, preso e processado porque lutei contra o regime militar. Poderia ter pegue em armas, caído numa aventura inútil quando em 1969, no momento em que entrava na faculdade, vi minha geração sendo perseguida. Um Decreto próprio para ameaçar estudantes e um Ato Institucional geral para ameaçar a todos. Aliás naquele ano, não fazia nem dois anos que fora treinado pelo próprio exército brasileiro em atos de guerilha, quando cursava o Tiro de Guerra aí no Crato. Por isso andei muito perto de ter sido morto. Se tivesse naquelas organizações que discutiam a possiblidade da luta armada alguém mais próximo, em que tivesse mais afinidade pessoal, certamente teria embarcado na aventura.
De Fortaleza para o Rio e sempre exerci medicina no limite da questão política por trás da saúde pública. Trabalhei muitos anos em favelas aqui no Rio, fiz tese de mestrado sobre tuberculose nesta população com a finalidade de examinar a iniquidade da saúde pública brasileira. Sempre trabalhei com a crítica feroz aos sistemas sociais que deterioram a vida humana para que estes sistemas pudessem ser superados. Depois fui para administração pública, me expus sempre que necessário, nunca deixei de manifestar-me mesmo quando minha opinião tinha pouco peso no que se decidiu. Nunca fui aderente às causas vitoriosas apenas porque o são. Jamais fiz luta política que não tivesse por destino o povo brasileiro em sua amplitude. Resultado, com frequência, dada a natureza histórica do meu tempo, fui derrotado, mas como disse Darcy Ribeiro, "mas não queria me encontrar na posição daqueles que me derrotaram".
Esta longa introdução é para tornar mais claro os debates do qual participo nos quatro blogs aí do Cariri para os quais faço postagem. Quando o Valdetário explicitou aquela história, poderia ocorrer que uma outra disputa que desconheço tivesse por trás dos comentários. Na verdade fui o primeiro a comentar a postagem do Valdetário. Até esperei um pouco da argumentação dos sucessivos comentários para não abrasar ainda mais o debate. Na verdade o querido Armando Rafael com quem costumo trocar palavras sobre o mundo, fez um comentário sobre o Udenismo na mesma postagem. Depois o Antonio escreveu aquele texto sobre os velhos udenistas do Crato.
Nesta altura, como me expliquei no início do texto, me achei em condições de abordar o embate ideológico que não se encontra tão longe assim. A UDN deixou de existir em 1965 com o AI 2 e a matriz social e econômica por trás dos conflitos ideológicos ainda se sustenta. Por isso não é incomum que valores que acompanham o país desde os idos da revolução de 30 ainda estejam presentes na atualidade. Isso é o processo histórico em lenta superação. Por vezes ocorrem rupturas e nos damos conta que algo já não é como antigamente.
Afinal entendo que não sendo parte direta da vida do Antonio, sai do Crato em 1968 (apenas 3 anos do fim da UDN), me inscrevo no seu respeito e amizade até pela identidade que ele tem com os meus antepassados. Mas quero garantir a todos, sem querer ser enxerido, mesmo não sendo corpo móvel neste território do Crato, sou parte desta vida como ela é da minha.
Por último o meu desejo era fazer como os outros que estimulam a presença do Antonio no debate. Mas quando o Armando preferiu dar um tempo nas postagens eu fiquei fazendo uma série de postagens pedindo para que ele não parasse. Afinal o contraditório sustenta a realidade. Fiquei fazendo isso várias vezes, até que o Carlos Rafael ou Salatiel, ponderaram que o Armando desejava ficar calado. Isso temos que respeitar. Até fiquei um pouco envergonhado com o que poderia ser uma forçada de mão sobre o Armando e isso ele não precisava, nunca precisou e nem precisará.