Há mais de três décadas, o movimento religioso, no Crato, transforma a vida dos cristãosCrato. A Diocese do Crato comemora, hoje, os 35 anos de implantação do Cursilho de Cristandade, movimento religioso que tem como objetivo proporcionar a vivência e a convivência do cristão — pelo testemunho de pessoas pré-selecionadas pela sua influência humana nos ambientes da vida —, divulgar, conscientizar e testemunhar, pelo Evangelho, os valores e a presença de Jesus Cristo nas estruturas temporais. Na Diocese do Crato foram realizados 59 cursilhos que contribuíram para a mudança de comportamento de 2.562 pessoas que participaram dos encontros nestes 35 anos. A comemoração será neste sábado, com uma concelebração de ação de graças, às 17 horas, na Sé Catedral do município.
O impacto emocional causado pelos cursilhos, ou as mensagens evangélicas, contribuíram para a fermentação de um grupo de católicos que, em sua maioria, estava afastado dos atos religiosos. São professores, jornalistas, advogados, administradores, economistas, médicos, militares, funcionários públicos, políticos ou simples donas de casa, mães de família, pessoas simples, gente que descobriu no Cursilho a força de ser Igreja.
A humanidade sofre com o desconhecimento das causas dos seus problemas. Este sofrer lhe remete a uma busca desesperada por soluções, por mitos e/ou santos que lhe propiciem curas milagrosas, bem como soluções inesperadas para problemas previsíveis. É dentro dessa concepção que surge a religião como necessidade básica para o ser humano, marcado pelo imprevisível e voltado para o sobrenatural.
TestemunhoSe para o pensador alemão Karl Max a religião é o ópio do povo, para a grande maioria deste povo, o sentimento religioso é uma questão de ética, educação, comportamento, sentido de vida. Foi o que ocorreu com o aposentado Djalma Pereira Mendes, apresentado pelos dirigentes cursilhistas como um símbolo dessa organização religiosa que foi implantada no Crato por dom Vicente Matos, em julho de 1973.
Djalma lembra que, quando foi convidado para fazer o Cursilho, relutou. Afinal, apesar de ter nascido em uma família católica, não costumava freqüentar a igreja. No domingo, ele deixava a mulher na porta do templo e seguia para o bar. Voltava para casa bêbado.
Ao aceitar o convite para fazer o Cursilho, no lugar de um amigo que havia desistido, Djalma pensou que se tratava de mais um encontro religioso. Depois de três dias de Cursilho, ouvindo mensagens, rezando e principalmente vivenciando momentos de humildade e encontro consigo mesmo, ele descobriu que a Igreja não era os padres e os bispos. A Igreja era o povo de Deus e ele fazia parte desta assembléia de homens conscientes que acabavam de descobrir, segundo afirmou, um novo Cristo.
Descobriu que “ser cristão é viver uma prática real e sincera do amor ao próximo, com a mesma intensidade com que se busca ser amado. É querer o amor de Deus, não apenas para se fartar e se garantir na eternidade. É refletir esse amor, essa bondade em atos e atitudes práticas que tragam benefícios reais que possam ir de encontro às necessidades reais do nosso semelhante”, comentou ele.
Djalma saiu do Cursilho consciente de que a mudança começaria por ele mesmo. Ainda no seminário, onde estava sendo realizado o encontro, ele apertou o crucifixo na mão e pediu ajuda para deixar de beber. Há 31 anos ele não toca num copo de bebida alcoólica. Além de deixar de beber, mudou de comportamento. “Melhorou o relacionamento com a família, é outro homem”, afirma a sua esposa, Antônia Silvestre Mendes.
Hoje, o aposentado é um assíduo freqüentador dos atos religiosos. Não perde uma missa, lê a Bíblia todos os dias. Na noite de segunda-feira, ele, a esposa e outros companheiros se reúnem para rezar o terço.
Missão
“São 35 anos de festa, alegria, carisma e fermentação evangélica”, define o dirigente cursilhista, Alexandre Costa. O Cursilho, segundo ele, é um movimento de igreja que incute nos seus militantes a consciência profunda da expressão. “O cristão é aquele que age no coração do mundo por missão e, ao mesmo tempo, aquele que age no coração da igreja por convocação”.
Alexandre diz que os cursilhos fizeram um grande bem à Diocese do Crato.
Não é fácil enumerar as conversões acontecidas. O cursilhista recorda, com saudade, o entusiasmo de dom Vicente Matos nas suas mensagens de sacramento e vida cristã. Outro grande dirigente cursilhista lembrado é monsenhor Antônio Feitosa, que foi um dos profundos pregadores da palavra de Cristo.
SAIBA MAIS
História
O Movimento Cursilho de Cristandade (MCC) nasceu na Espanha, nas décadas de 30 e 40, pela iniciativa da Juventude da Ação Católica Espanhola. O nome ´Cursilho´ se deve ao fato de que foi organizada uma peregrinação de 80 mil jovens a Santiago de Compostella, jovens esses que passaram por pequenos cursos preparatórios, ou cursilhos.
Brasil
O Cursilho chegou ao Brasil em 1962, trazido por missionários espanhóis. A primeira cidade brasileira onde houve cursilhos foi Valinhos, em São Paulo. De lá, se espalhou por todo o Brasil, chegando ao Ceará em 1973. No município do Crato, o movimento foi implantado no dia 8 de julho de 1973, no Seminário São José.
ANTÔNIO VICELMO
RepórterMais informações:
Cursilho de Cristandade do Crato
(88) 3521.1805
Rua Leandro Bezerra, 307, Centro
Diocese do Crato
(88) 3523.7819
Opinião do especialista
Seguir Jesus Cristo fortalece nossas vidas
Sou de uma família cristã como tantas outras. Na infância participei da ´Pia União dos Anjos´, da Paróquia de São Vicente Ferrer, com o padre Frederico Nierhoff. Aluna do Colégio Santa Teresa de Jesus, participei da Juventude Estudantil Católica (JEC). Estas atividades da Igreja me ajudaram a ter uma formação cristã mais sólida. Na universidade e depois casada, não me afastei da Igreja, mas os cuidados com a família me ocuparam.
Ao fazer o 1º Cursilho Feminino, em janeiro de 1974, ressurgiu em mim o entusiasmo e a vontade de me dedicar mais à Igreja. Conciliei as tarefas familiares com as do seguimento de Cristo. Tomei consciência do que é ser cristã, viver conforme a vontade de Deus. É um processo contínuo, progressivo e diário, até a morte...
Com as graças divinas pude perseverar nesta missão até hoje. Foi fundamental viver segundo os ensinamentos de Cristo para educar meus filhos, relacionar-me com meu marido e as demais pessoas da minha convivência, como meus pais, irmãos, colegas de trabalho, irmãos do Cursilho e também de outras atividades sociais. Encontrei dificuldades, mas devagar, com paciência e principalmente com Deus tudo vencemos.
O Movimento de Cursilho me despertou para o mundo, não só da família, sem, no entanto, me descuidar desta. Ao contrário, procurei sempre me doar mais. Então, comecei a trabalhar como professora, voltei a estudar e concluí a faculdade. Integrei-me à política, à atividade sindical, tudo foi fruto do ser cristão.
Hoje, com os filhos já adultos, casados e ao lado de meu marido Edésio, continuamos a missão de discípulos de Cristo e, com alegria e dedicação, estamos fazendo o Reino de Deus chegar onde Ele nos indica. Conto com as graças de Deus e dos irmãos cursilhistas. Com a participação na Escola de Formação, nos Grupos Ambientais e assembléias, no início, com apoio de dom Vicente, monsenhor Feitosa e tantos outros bispos, padres, diáconos, leigos (as) chegamos aos 35 anos de caminhada.
Não somos muitos, mas não desistimos. Cada um apoiando o outro, nos fortalecemos no seguimento de Jesus, sendo “Igreja no coração do mundo e mundo no coração da Igreja”. Muitos estão em outros movimentos da Igreja, mas somos um só rebanho servindo a Deus.
ELEONÔRA DE ALBUQUERQUE *
regional@diariodonordeste.com.br
*Professora aposentada e coordenadora do Movimento de Cursilho da Diocese do Crato
Fonte: Antonio Vicelmo - Jornal Diário do Nordeste.
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