A pessoa jamais deveria fazer reflexão, só serve para torná-la infeliz, sem fazê-la melhorar ou torná-la mais sábia; faz com que lamente os bens passados e a impeça de gozar o presente; Apresenta-lhe o futuro feliz, a fim de, pela imaginação, seduzi-la e atormentá-la pelos desejos, mostrando-lhe também o futuro infeliz a fim de, antecipadamente fazê-la sentir. As pessoas que vivem numa ignorância racional, limitam sua curiosidade à extensão dos ensinamentos que receberam, nunca vão além das limitações adquiridas pelas imposições sociais, que são paradoxalmente tiranas e de falso pudor, nunca buscam inovações ou criatividade. Por exemplo: A sociedade impõe um homem “honesto”, sim e daí? De que serve na sociedade um só honesto mas sem talento? Apenas um fardo inútil, uma carga no mundo, etc... determinado apenas a cumprir o processo de procriação da espécie; por isso, quando refletimos, não nos contentamos com aqueles que têm a sina apenas da manutenção da espécie.
A extrema desigualdade na maneira de viver; O excesso de ociosidade de um; O excesso de trabalho de outra; A facilidade de irritar-se e de satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade; Os alimentos muito sofisticados e que determinam tantas indigestões; As tristezas; As situações frustres; O esgotamento mental; São todos indícios de que a maioria dos nossos males são obra nossa, e que teríamos evitado se tivéssemos conservado a maneira simples, e prescrita pela natureza.
O cavalo, o gato, o touro, o próprio asno têm, na maioria, uma constituição mais robusta, mais vigor, força e coragem quando na floresta do que em nossas casas; perdem a metade dessas vantagens tornando-se domésticos e pode-se mesmo dizer, que todos os nossos cuidados para tratar bem e alimentar esses animais, só conseguem enfraquecê-los e torná-les: os menos resistentes. Acontece o mesmo com as pessoas. Tornando-se sociável e escravo dos dogmas moralistas do comportamento, acaba por debilitar ao mesmo tempo a força, e a coragem de enfrentar o novo, e os anseios de um porvir ainda não vivido, e como já dizia o velho Freud, "Em algum lugar na criança, em algum lugar no adulto, há um núcleo duro irredutível, obstinado de razão biológica, que a cultura não pode alcançar e que se reserva o direito, e o exercerá mais cedo ou mais tarde ( gosto dessa parte), de julgar a cultura, de resistir, de revisá-la".
Por: Haroldo Ribeiro - Médico e Músico.