
Três Sodade
Cleilson Ribeiro
a primeira saudade, tinha o sonho
pendurado no cheiro do cabelo,
e um laço de fita, semeado,
num cocó enlinhado em novelo,
que nem rastro de chuva, madurava,
a cheirança da vida dilatava,
e levava o caba ao desespero.
A Segunda nasceu, um certo dia,
Na sangria dos ventos de janeiro,
Pedalava menina passarina,
Com sorriso invultado, flor de cheiro,
Por saber-se, mimosoa tocaiava,
Emboscava, feria, judiava,
E o caba matava em desespero.
A terceira saudade era de morte,
Feito corte de gume de facão,
Que pra mode sarar-se dessa sorte,
uma pá de meizinha dava não,
e da amar e querer se latejava
e a dor mais doída espocava
e cantava cigarra no verão.
da primeira saudade, trago a marca
labareda acesa no olhar
toda noite, vem ela lacerante
dissonante acorde nuclear
semear na viola uma cantiga,
que me faz um carinho de urtiga,
mode a pele em braseiro se queimar.
Da segunda saudade, trago o gosto
em um travo de beijo tão letal,
é um gole cortido no desgosto,
laminado da ponta de um punhal,
que eu sinto a cada novo dia
quando o sal que tempera a cantoria,
me dá um bote de mote tão mortal.
A terceira saudade ainda dói
e me mói o juízo, toda hora
é ingém moedô, que no meu zói
triturando, um engasgo, cantarola,
é por ela que canto o desencanto,
desembaínho, a lágrima dos pranto,
e prendo ela, pra nunca ir simbora.
Enviado para publicação por Wilson Bernardo.
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