Uma colcha de retalhos a respeito do Fundão.
A piada. No seminário São José e depois no Diocesano trabalhou e viveu um porteiro, segundo dizem, e eu vi, era muito feio. Chamava-se Ramiro. Muitas piadas foram contadas como feitos de Ramiro. Eram piadas ingênuas em certo sentido, mas absolutamente humoradas. Certa vez um monsenhor pediu para ele ir à feira e procurar por uma pessoa do Fundão, pois deseja enviar um recado. Pouco depois chegou Ramiro com uma senhora de avantajada bunda.
O homem. Seu Jefresco, como o povo o chamava, era um ardoroso militante das reformas de base do governo Goulart. A palavra corrente era que se dizia comunista e ateu. Era uma ateu, como se dizia dos anarquistas, graças à Deus. Mesmo os que ideologicamente discordavam dele o via com carinho, pois era um tipo magro, alto, muito elegante no falar e no trato.
O sítio. Era mágico. Isso ninguém nega. Havia nele as mais lindas e frondosas árvores, do estilo mata atlântica, que essa híbrida chapada do Araripe é capaz. Pés de Jatobá, Cocais, Cedros, de troncos tão estupendos para o menino que se guardaram como a imagem das sequoias gigantes da América do Norte. Agora, algo muito especial. Os pés de Cajá, com o perfume de seus frutos se espalhando no ar que a saudade respira. Soltando no ar o canto desafinado/ Sibilando a asma de poesias confinadas, / Cheirando o perfume do cajá amordaçado, / Sentindo a correnteza das águas erosivas.
O poço do Jatobá. Na fronteira do fundão. Havia um lago encantado: o poço do Jatobá. As levas de meninos soltos, do alto do seminário e da batateira. Pulando sobre a profundidade do poço desde os galhos altos das árvores sobre o leito. Gritos, desafios, a película de água formando dobras na vertente dos seus movimentos. Os reflexos da luzes como réstias da folhagem acima. O poço do jatobá logo a seguir um rio de pedras lavadas, arrendodandas e de lisas, pequenas correntezas e o cheiro seminal dos cajás. A felicidade de achá-los espalhados no chão e desgustá-los como Zeus no Olimpo.
Doce como um eleito ao céu. Seu Jefferson talvez tenha sido o primeiro grande plantador de banana prata na cidade. Naqueles tempos três bananas dominavam o consumo da cidade do Crato: a banana maçã, a banana sapo e a casca verde. Mas no fundão nasceu as bananas pratas mais doces que provei em todos os anos após tê-las comido pela primeira vez.
Só no Crato mesmo. Segundo se dizia na redondeza, seu Jefresco em seu modo de operar o singular, construíra a mais ousada casa de taipa. Uma casa de taipa, mostrada na foto da matéria postada neste blog, era um espanto de ousadia de construção. Nunca tirei o assunto por mais análise, mas ficou-me esta lembraça de mais um recorde da cidade.
A ilha do Fundão. Terminei meus estudos na UFRJ, cujo campus havia sido tranferido para ilha do fundão, em plena Baia da Guanabara. Nunca deixei de associar, como só fazem os sonhadores, o nome dos dois lugares.