Quem se mete a dar opinião sobre as coisas práticas da vida de uma sociedade sempre corre o risco de rasgar uma realidade, contrariar posições, até mesmo aluir pedras antes irremovíveis. Mesmo correndo este risco, pois não sei nada, absolutamente nada e nem vou no site da prefeitura para não atrapalhar o que tenho para dizer, mas acho que o Crato, Juazeiro e Barbalha têm condições de virar um jogo histórico que atrasou a região relativamente à metrópole de Fortaleza.
E estas condições começam por uma forte cultura local e 0 talento especializando-se nas escolas de arte da região. E o mais importante, não existe política, possibilidade da alma do povo do Cariri se mostrar para o mundo, dialogar com as contradições do mundo que não seja pela permanente e diária manifestação cultural. E manifestação cultura envolve finaciamento, envolve infra-estrutura e uma forte e permanente organização profissionalizada para que todos os dias, todas as noite, algo nas cidades do Cariri esteja em contato com o público. Envolve, com certeza, um programa intenso de formação de público, especialmente nas escolas públicas.
Em Paracuru, uma cidade litorânea sem qualquer oportunidade de emprego, só agora começando a receber a influência da região metropolitana, assim mesmo pelo lado perverso da deliqüência. Lá uma escola de Ballet, numa sociedade sem tradição e inclusive preconceituosa, vira uma referência de projeto bem sucedido. Flávio Sampaio, grande professor de Ballet no eixo sul-sudeste, ex-quadro do corpo de Ballet do Theatro Municipal do Rio, voltou para a sua cidade, formou uma ONG, uma Companhia de Dança, a administração municipal chegou junto e uma cadeia produtiva se monta contrariando a improbabilidade do interior cearense. Hoje a escola de dança forma professores que atuam nas escolas municipais, dos alunos de dança saem talentos que se profissionalizam. Forma-se um público de dança clássica e contemporânea entre filhos de camponese e pescadores, a cidade já participa da progamação dos festivais de dança no nordeste, a companhia de dança já disputa incentivos para excursões externas, ou seja, profissionalismo e um programa contínuo de ação.
Então a minha campanha é que os talentos profissionalizados, os produtores, os grupos organizados se juntem, não discutam o espaço das vaidades e nem as primazias pretéritas, discutam a forma de aparecer e de fato, completar a imcompleta cultura cearense. A cultura cearense não aparece na capital e a capital tem a hegemonia, mas lá o principal é vender o sol, a areia, o mar, cerveja e caranguejo. Sem contar o forró eletrônico como um consumo de estilo Axé Music. O Ceará, no século XXI, apenas será o Ceará se o interior chegar até seu coração e o único vetor capaz deste deslocamento é o Cariri. Sem o Cariri não tem Ceará, Sobral não é suficiente.
A conquista de um espaço envolve estratégias, cadeias organizativas, redes produtivas, intensa cooperação e precisa de uma idéia central do quê somos, o quê queremos e onde chegaremos. A melhor forma hoje no Cariri de se ter uma idéia central pode ser através das prefeituras de Crato, Juazeiro e Barbalha. A instituição municipal, aberta democraticamente para os atores culturais da região, organizada num plano estratégico de conquista do tempo do dia-a-dia da sociedade ampla da região, agindo no intento da hegemonia local a qual alavancará a marcha da conquista estadual.
O Dihelson aponta uma questão prática na prefeitura do Crato. O Samuel bem poderá transcender politicamente a mesmice que atrasa e rebaixa o valor político do Cariri e apostar em algo tão revolucionário que é criar uma alma organizada deste povo tão profundo em história e tão ousado em mudança, até pela precariedade da vida material. Então, algo começa pelo começo mesmo e levanto uma bandeira:
PREFEITO SAMUEL ARARIPE CHAME O DIHELSON PARA CONVERSAR. CONVOQUE O RAFAEL, INSTIGUE O ZÉ FLÁVIO, LEVANTE O SALATIEL, GRITE PELO VICELMO, PUXE A LIDERANÇA DOS BAIRROS, BATATEIRA E SEMINÁRIO. PUXE A ALMA DO CARIRI.