A imprensa tem se dedicado, nas últimas semanas , a revolver notícias que pendulam entre o Pan-Americano , o trágico acidente envolvendo o avião da TAM e as CPI´s do Apagão Aéreo. Mais recentemente saltou aos olhos de todos o caos na Saúde com a demissão voluntária, e em massa , de médicos funcionários do estado em Pernambuco e Alagoas. Vamos nos imaginar na Praça Siqueira Campos -- que o Rádio é uma espécie de Praça gigante e virtual -- e , na pele de Rui Pincel, refletir um pouco sobre estas manchetes. É possível que o leitor já nem agüente falar nestes assuntos, mas não custa nada um taquinho de paciência, prometo que acabo antes do pirão que já cheira na panela. Então deixemos de potocas e de cerca-lourenços e adentremos no currupio da história.
O terceiro lugar do Brasil no PAN encheu de orgulho o país. Nunca havíamos obtido um resultado igual. É preciso, no entanto, não esquecer que as delegações do Canadá e dos Estados Unidos não trouxeram seus atletas principais. Sequer deu notícia o nosso PAN nos países mais ricos, considerado um evento esportivo de menor importância. Fica, no entanto, a lição do que seríamos capazes se houvesse uma política pública e privada de apoio aos esportes no Brasil. Exemplo disso é Cuba que historicamente nos tem dado lições de como vencer obstáculos, inclusive fora das quadras. E as vaias do Lula e do Sérgio Cabral ? Aceitemo-las pelo espírito democrático, mas me pareceram despropositadas. Primeiro porque possivelmente foram encomendadas pelo pefelismo do César Maia e, depois, porque nossos problemas internos temos que resolver entre nós mesmos e num importante evento internacional, não tínhamos o direito de lavar nossa roupa suja no meio da Avenida Vieira Souto. Parecíamos um casal que, no desentendimento, vai trocar tapas no meio da rua.
E o caos no atendimento médico em Pernambuco e Alagoas ? A bomba estava armada e com o rastilho aceso há muito tempo. Todo o serviço de atendimento emergencial no Brasil está colapsado há muitos anos. Com o advento do SUS tivemos uma melhoria significativa no atendimento básico de Saúde. O setor secundário, o hospitalar, foi totalmente esquecido e vive em fase pré-falimentar há muitos e muitos anos. Mais de duzentos nosocômios fecharam no ano passado no país. O salário básico do médico no último concurso feito no Ceará era de irrisórios R$ 550,00. Os médicos, com salários ridículos, trabalham em serviços sem nenhuma estrutura, com terrível carga horária, exercendo uma Medicina de Guerra. A Escolha de Sofia é preciso ser feita a todo momento : salve-se quem puder ! Cansados de promessas inglórias, preferiram não mais ser cúmplices do crime : mais de duzentos profissionais pediram demissão em massa, só em Recife e mais de 150 em Alagoas.Outros estados, certamente, seguirão o exemplo. Se nossa atividade é considerada como essencial pela sociedade, por que não temos salários dignos da nossa função ? Se há dinheiro para mensalão, para sanguessugas, para corrupção de toda espécie , por que não sobra um pouco para nossa cueca ? Esta atitude desesperada há de delinear soluções. Enquanto isto o povo brasileiro, que trabalha quatro meses do ano para pagar impostos, vai morrendo nas filas e nas portas dos hospitais.
A última reflexão , antes da comidinha quente à mesa, gostaria de fazer sobre o caos aéreo. O governo tem parecido pusilânime e incompetente para resolvê-lo, possivelmente porque o setor tem muitos donos. Terminou-se por mexer com a caserna que é muito corporativa e tem sensibilidade à flor da pele. Tudo explodiu depois do acidente da Gol em setembro passado que foi apenas a ponta do iceberg: certamente a questão dos controladores já vinha se arrastando sem solução. No Brasil só depois do ladrão saltar pela janela é que se fecha a porta. A repercussão do problema, também, deve-se à privilegiada classe que se encontra prejudicada. Se a questão fosse nas rodoviárias do país a cobertura jornalística seria mínima. Simplesmente porque sofrimento em pobre, na visão da nossa elite, é como coceira em macaco, uma coisa natural, comum, normal. O acidente da TAM , agora em julho, deixou o país em polvorosa. Quase duzentos brasileiros , num átimo, vendo carbonizados suas vidas , seus sonhos e ilusões. Mas se a gente reparar bem com nós também é assim, estamos sempre embarcados na nave da vida, vezes em vôo de cruzeiro, vezes com muitas turbulências mas sempre em direção a um paredão que se encontra logo a nossa frente. Próximo ou distante ? Como o nevoeiro é denso , nunca sabemos bem onde ele se encontra, por isto é mesmo é preciso curtir a viagem sem ansiedade e sem olhar para muito para frente.Bom Apetite cambada !
J. Flávio Vieira