As emoções que transbordavam e viravam palavras, agora são pedaços de ilusão jogados ao vento dos pensamentos, no esforço sobre-humano de querer apressar o momento e resultar disso, de doer na alma, na fome intensa de viver os desejos escondidos, pois transportavam nos passos a angústia de encontrar respostas a esse enigma do seu interior, altares de sacrifícios de vaidades e evasão da sorte. Quisessem, num querer de consciência, e desvendariam todo o poder de que são portadores.
Máquinas de beneficiar horas em milagres, apenas tangem os barcos da Salvação no rumo desconhecido, e alegram os dias em festas evanescentes. Vendem os sóis, que recebem pelos instantes de paixão, e acham suficiente sobreviver aos mistérios e às ocasiões tais viajantes perdidos em mundos ignotos. Pisam a sombra das visões que nutrem e gargalham, amantes das ausências e saudosos de um passado inexistente, rastros impossíveis de saber aonde foram eles desde antes de terem sido algum dia.
Quando querem, no entanto, regressam de longe e sabem do destino procurar, e choram, e gritam, e oferecem mil sobras daquilo que ainda trazem consigo no íntimo a troco das vontades abandonadas à sorte ingrata, solitários indivíduos alimentam à força de ser cruzar a morte, de lá do abismo o silêncio, naus largadas ao trilho azul da imensidão; daí deparam com o sentido de tudo isto o que já significavam.
(Ilustração: Inferno, de Botticelli).