"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...”
(do soneto Via Láctea, de Olavo Bilac)
No
dia 7 de abril de 2011, há exatos 8 anos, publiquei o artiguete abaixo,
sobre a enxurrada de títulos de “Doutor Honoris Causa” que eram
entregues ao ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
*** *** ***
“Permita-me quebrar um pouco deste enlevo – pelo menos nesta única
ocasião – para tratar de um assunto que traz discrepância e dissensão: a
concessão de sucessivos títulos de Doutor Honoris Causa, por diversas
universidades públicas (daqui e d’além mar), ao ex-presidente da
República Luiz Inácio da Silva. A priori, lembro que tão logo foi
eleito, em 2002, Presidente da República Federativa do Brasil, a
Universidade Regional do Cariri – por iniciativa da então reitora Violeta Arraes – concedeu o título de Doutor Honoris Causa
ao ex-presidente Lula. Talvez por ser uma universidade pequena, de
pouca projeção, Lula nunca se dignou vir receber a homenagem.
Diferentemente do que fez com outras universidades mais famosas que lhe
concederam idêntica honraria...
(abro
aqui um parêntesis, nesta transcrição de oito anos atrás: assolado por
uma série de denúncias de corrupção, Lula veio percorrer – em 2017 – o
Nordeste, numa daquelas “caravanas petistas”. E recebeu 15 anos depois,
por oportunismo político, numa solenidade mais política do que
acadêmica, o título concedido pela URCA. E o recebeu em cima de um
palanque, no pátio externo do Centro de Convenções do Cariri).
Reconheço que ao discordar dessas concessões terei o repúdio dos
admiradores (alguns reles bajuladores) do ex-presidente, um homem de
inegável inteligência que chegou ao mais alto posto da República. Não
faltarão os que me tacharão de invejoso, preconceituoso, como sói
acontecer com qualquer crítica – por mais justa que seja – feita ao
político Luiz Inácio da Silva.
Faço minhas as palavras do ilustre professor Délcio Vieira Salomon, da
Universidade Federal de Viçosa (MG) quando protestou por idêntica
honraria concedida a Lula, por aquela instituição:
“A bajulação política não só banalizou a outorga do título “doctor
honoris causa”. Transformou em princípio pedagógico e ético o que antes
era comportamento repudiável. Que fique bem claro: historicamente um
Doutor honoris causa (ou Doctor honoris causa) recebe o mesmo tratamento
e privilégios que aqueles que obtiveram um doutorado acadêmico de forma
convencional e é conferido a pessoas eminentes, que não necessariamente
sejam portadoras de um diploma universitário, mas que se tenham
destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras,
promoção da paz, de causas humanitárias, etc.), por sua boa reputação,
virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou
instituições. Sublinhe-se: transcendam e não atinjam, por demagogia ou
por efeito de marketing, patamar do elogio gratuito”.
“Afinal para quem acompanhou o governo Lula como observador, sem
implicações interesseiras, sabe muito bem que aquilo que o Conselho
Universitário da UFV chama de “defesa das causas sociais” é, no frigir
dos ovos, nada mais que pura e deslavada demagogia. Quando este país
aplicar honesta apuração das contas do governo passado, verá,
lamentavelmente, que gastos públicos com bolsa família, bolsa escola e
programas equivalentes a constituir “defesa de causas sociais” não
passam de engodo já varrido para debaixo do tapete, do mesmo modo que se
varreu o mensalão e quejandos malabarismos, a despistar a
transparência, que nunca houve nos dois governos Lula Inácio da Silva”.
Esta a minha opinião, na qualidade de simples e anônimo cidadão, no
tocante ao seriado de títulos de Doutor Honoris Causa que pipocam, de
forma orquestrada e unicamente com motivação política, ora concedidos ao
Sr. Luiz Inácio Lula...
Texto: Armando Lopes Rafael, publicado em 7 de abril de 2011.