A presidente da República afastada, Dilma Rousseff durante entrevista coletiva em Brasília (DF) - 14/06/2016 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Afastada
do cargo desde que o Senado determinou a abertura do processo de
impeachment, a presidente Dilma Rousseff é uma das grandes estrelas da
delação premiada do ex-deputado Pedro Corrêa. Ex-presidente do Partido
Progressista, Corrêa narra uma profusão de episódios de corrupção
envolvendo a petista que, analisados em conjunto e se confirmadas,
implodem de vez a imagem da presidente imaculada e incorruptível.
As
narrativas de Corrêa que envolvem Dilma Rousseff nas falcatruas dos
caciques do PP começam no anexo 9 da delação. A presidente é personagem
de um jantar que marca a origem das articulações do PP para entrar no
petrolão. Segundo Corrêa, em 2003, os caciques progressistas, liderados
pelo ex-deputado José Janene, já morto, organizaram o evento numa mansão
que o ex-tesoureiro do PP João Claudio Genu, atualmente preso pela
Lava-Jato em Curitiba, mantinha em um bairro nobre de Brasília. A
convidada especial da noite era ninguém menos que a ministra de Minas e
Energia, Dilma Rousseff. O governo Lula, então nos seus primeiros meses,
já discutia uma ampla reforma no setor elétrico.
Como presidente da
Comissão de Minas e Energia da Câmara, José Janene enxergava na reforma
uma oportunidade de extorquir empresários do setor. O jantar para Dilma
serviria para que o PP conseguisse a relatoria da proposta. Mas teria um
papel histórico importante na organização do petrolão. Foi naquela
noite de confraternização que Dilma Rousseff ouviria o primeiro apelo
dos corruptos do PP pela nomeação de um certo Paulo Roberto Costa para a
Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Paulinho, que viria a se
tornar um dos principais operadores da corrupção na Petrobras,
conquistou naquela noite, segundo Corrêa, o apoio da petista. "Dilma
ficou comprometida em ajudar na nomeação de Paulo Roberto", diz Corrêa.
DILMA PEDIU DINHEIRO AO PP
O
anexo 10 da delação de Pedro Corrêa também é dedicado à presidente
Dilma Rousseff. A exemplo de 2003, novamente, os corruptos do partido
confraternizam com a petista em um jantar. O ano é 2010. O grande
homenageado da noite é ninguém menos do que o diretor de Abastecimento
da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Entre comes e bebes com Paulinho e os
corruptos do PP, Dilma Rousseff, então candidata do PT à Presidência da
República, pede apoio político do partido e até apoio financeiro.
O
jantar acontece no apartamento do ex-deputado João Pizzolatti, outra
figurinha carimbada nas investigações da Operação Lava-Jato. "Dilma se
comprometeu, caso fosse eleita, a manter Paulo Roberto Costa na
Diretoria de Abastecimento, bem como a manter o Ministério das Cidades
com o PP, o que efetivamente fez. Dilma aproveitou a oportunidade para
pedir apoio, financeiro inclusive, a sua campanha", diz Corrêa.
A MÃE DO PAC E AS PROPINAS DO PAC
Entre
o segundo governo Lula e o primeiro mandato da presidente Dilma
Rousseff, o PP dividiu com o PT um lucrativo esquema de cobrança de
propinas em contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Dilma, a chefe da Casa Civil e "mãe do PAC", tinha como braço-direito no
gerenciamento do programa a ex-ministra petista Miriam Belchior.
Segundo Pedro Corrêa, no período em que Miriam ajudava Dilma a comandar o
PAC, a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades foi
entregue a uma amiga de Miriam, Inês Magalhães.
Detalhes da delação de Pedro Corrêa sobre a presidente afastada Dilma Rousseff(VEJA/VEJA)
O
esquema de corrupção operava com Inês liberando contratos para
prefeituras e outro petista, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal
Jorge Hereda, fiscalizando os recursos que eram liberados pelo banco
para tocar as obras. "Era como se fosse a raposa cuidando do
galinheiro", diz Pedro Corrêa. "O PP, durante todo o tempo que comandou o
Ministério das Cidades, quis substituir Inês Magalhães, mas nunca
conseguiu, por se tratar de pessoa ligada a Miriam Belchior. O PT fez
muito caixa através desse esquema", complementa Corrêa.
Enquanto os
petistas de confiança de Dilma Rousseff faturavam propinas nas verbas de
habitação do Ministério das Cidades, o PP roubava em contratos das
secretarias nacional de Saneamento e de Mobilidade. "Com o início do PAC
e a fartura de dinheiro, houve uma procura muito intensa das grandes e
médias cidades para conseguir obter recursos. Dependendo do tamanho do
projeto, o secretário (indicado do PP) cobrava propina para selecionar a
cidade", diz Corrêa.
Ainda segundo o delator, os empresários
corruptos e políticos do PP discutiam dentro do próprio ministério, em
Brasília, os pagamentos de propina. "Basta fazer um levantamento de
"check in" em cadastros de entradas na portaria do ministério e será
possível verificar entradas de empreiteiros e executivos de empreiteiras
para as reuniões que eram avençadas as propinas".
DILMA, GLEISI E AS PROPINAS DO PETROLÃO
Investigada
no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter recebido 1 milhão de reais
oriundos da engrenagem criminosa que se apoderou da Petrobras, a
senadora petista e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann é
personagem do anexo 62 da delação de Pedro Corrêa. Segundo o delator, na
eleição de 2010, o caixa da propina do PP na Petrobras foi usado para
abastecer a campanha de Gleisi ao Senado sem a anuência dos caciques
progressistas. Como o doleiro Alberto Youssef e outros delatores já
confessaram, o dinheiro foi repassado por um entregador do doleiro a um
operador da senadora petista em um shopping de Curitiba.
O
ex-deputado, que está preso em Curitiba, conta que o dinheiro sujo
injetado na campanha de Gleisi saiu da Diretoria de Abastecimento da
Petrobras, comandada pelo engenheiro Paulo Roberto Costa, o operador do
partido no petrolão. Quando soube que parte da propina do PP havia sido
desviada para uma campanha do PT, Pedro Corrêa foi pessoalmente cobrar
explicações de Paulo Roberto Costa e ouviu dele uma revelação explosiva:
"Ele (Costa) disse que esse gesto (o pagamento de 1 milhão em propina
para Gleisi) era para atender à candidata à Presidência Dilma Rousseff, a
qual tinha interesse na eleição de Gleisi para o Senado", diz Corrêa.
Condenado
a 20 anos e sete meses de cadeia, Pedro Corrêa negocia há um ano um
acordo de delação premiada com a Justiça. Todos os citados por Pedro
Corrêa já negaram envolvimento nos esquemas criminosos. Para obter os
benefícios da delação e reduzir sua pena, ele não pode mentir sobre suas
revelações. Para respaldar as explicações que recebeu de Costa, Corrêa
lembra que Dilma, depois de eleita presidente, escolheu justamente
Gleisi Hoffmann para comandar o mais importante ministério do governo, a
Casa Civil. A delação de Corrêa aguarda homologação do STF.