Midas era um rei que adorava Dioniso, o deus do vinho, nos mistérios de quem lhe instruíra o poeta Orfeu. Devido a isso, achava-se portador de alguma sabedoria. Num certo tempo, trazido por camponeses do reinado, veio ao palácio Sileno, sátiro velho e bêbado, amigo do seu deus de devoção.

Daí, o desejo se concretizou, motivo de euforia do soberano satisfeito, que viajou de volta aos seus domínios cheio da calorosa empolgação que nele despertara o atributo adquirido. Tocasse em pedras, gravetos, espigas de milho, o que fosse, transformava-os em ouro puro. No palácio, bem na chegada, tocou nos pilares, portões, móveis, e tudo reluzia de causar espanto aos súditos boquiabertos. Contudo, quando sentado à mesa, na hora da refeição, assustou-se por conta dos primeiros percalços da habilidade adquirida, porquanto ao pegar e levar à boca os alimentos, tão só mastigava peças ríspidas do metal precioso em que se transformavam pelo mínimo contato das suas mãos. Mesmo os dentes ofereciam igual resultado aonde penetrassem. Na verdade, por isso, uma aflição descomunal abalava o reino e o ânimo de Midas quando, descuidoso, abraçou o filho querido, virando-o de repente em estátua dourada. No auge do desespero devido a tudo à função, o rei buscou outra vez as posses do deus Dioniso, a qualquer custo; reclamava cancelar o dom e reaver o estado de pessoa comum que perdera. Após observar tais resultados práticos da lição da cobiça na vida do devoto, o deus acatou a postulação e ensinou que ele procurasse o rio Pactolo e ali banhasse o corpo durante longas horas. Em consequência, as águas corriam rebrilhantes, recamando de pepitas de ouro margens e barrancos. Exausto, triste, Midas perfez o caminho de casa, a lembrar saudoso da família e dos transtornos que causara. Ao recolher-se nos cômodos reais, inobstante, vejam o que sobreveio: Vivinho da silva, o filho, sorrindo, correu-lhe ao encontro, proporcionando o mais extremoso dos abraços ao velho pai realizado.
Por: Emerson Monteiro
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