Que Nossa Senhora da Penha é padroeira de Crato todo mundo sabe! Poucos sabem, no entanto, que Crato também tem um co-padroeiro. Trata-se de São Fidelis de Sigmaringa, a quem o Frei Carlos Maria de Ferrara, dedicou também a humilde capelinha de taipa, coberta de palha, por ele construída e que deu origem à cidade de Crato. No próximo dia 24 de abril (Dia de São Fidelis de Sigmaringa) será lido um Decreto do Bispo de Crato oficializando este santo como o co-padroeiro de Crato.
Vitral existente na Catedral de Crato
À esquerda, a Mãe do Belo Amor, primeira imagem de Nossa Senhora venerada nesta cidade. à direita, São Fidelis de Sigmaringa, a quem a capelinha primeira também foi dedicada.
Quem é São Fidelis de Sigmaringa?
Damos a palavra ao jornalista Afonso de Sousa para falar sobre este santo. A conferir. “Marcos Rey (que após tornar-se frade menor capuchinho recebeu o nome de Fidelis de Sigmaringa) é modelo de leigo e advogado católico, de religioso e mártir, que foi suscitado por Deus no início do século XVII para pregar uma autêntica reforma católica na Suíça alemã, e reconduzir à verdadeira Igreja os que haviam-se deixado seduzir pela pregação de Calvino”.
Desde tenra idade, o menino Marcos Rey professava entranhada devoção à Virgem e horror ao pecado, revelando formação religiosa tão profunda que marcou toda sua vida, coroada com a palma do martírio.Inteligente e aplicado, Marcos fez com sucesso seus estudos na católica Universidade de Friburgo, na Suíça.
Bem apessoado, de elevada estatura, bela presença, semblante sério e sereno, Marcos era respeitado pelos professores e admirado pelos condiscípulos que, por sua ciência e virtude cognominaram-no de o Filósofo Cristão. Após diplomar-se em direito civil e canônico, Marcos aceitou o convite de alguns condiscípulos, entre eles o Barão de Stotzingen, para servir-lhes de companheiro e guia numa viagem cultural por várias nações da Europa. Conhecendo diversas línguas, Marcos exerceria também a função de intérprete.
Desilusão com advocacia e abandono do mundo
Finda a viagem, Marcos estabeleceu-se em Ensisheim (Alsácia), então capital dos Estados austríacos e sede de governo, para exercer a advocacia. Como em tudo brilhante, em breve adquiriu fama e clientela. O Dr. Marcos Rey, no entanto, preferia as causas dos pobres às dos ricos, para poder defendê-los gratuitamente. Em suas defesas, jamais utilizou recurso algum que pudesse tisnar a honra da parte contrária.
Certo dia, a Providência iria servir-se de um de seus sucessos para apartá-lo do mundo. Defendendo uma causa justíssima, fê-lo com tanta maestria que encerrou o caso de vez. O advogado da parte contrária esperou-o fora do edifício do fórum, dizendo-lhe: “Desse modo meu jovem colega nunca fará fortuna. Pois nós, advogados, não devemos expor todos nossos argumentos de uma só vez e encerrar os casos. Mas devemos ter uma certa prudente dissimulação para os prolongar, e com isso ir obtendo a remuneração necessária para vivermos condignamente, fruto de tantos estudos”.
A isso o Dr. Rey, que se guiava sobretudo por sua consciência e princípios religiosos, respondeu-lhe com essas palavras que, se observadas hoje em dia, cerceariam muitas injustiças: "Sempre cri que todo gasto inútil e os devidos à incompetência e descuido do advogado, são outras tantas dívidas que este contrai com seu defendido. E nem o tempo nem a experiência far-me-ão mudar de opinião. À nobreza de nossa profissão corresponde proteger o inocente, defender a viúva e o órfão oprimidos ou despojados pela violência ou pela astúcia. Nosso labor não é de mercenários. Devemos ter por glória o fazer respeitar as leis. Quem pense o contrário será indigno de exercer tão nobre profissão"
Depois de fazer os exercícios espirituais, Marcos pediu admissão no Convento capuchinho de Friburgo. Por sugestão do superior, recebeu antes a ordenação sacerdotal. Na festa de São Francisco de Assis de 1612, cantou sua Primeira Missa e recebeu o hábito capuchinho, trocando seu nome batismal pelo que o imortalizaria, Fidelis de Sigmaringa. Em breve, o fervor e o zelo do noviço chamaram a atenção dos superiores que, tendo em vista seus grandes dotes e talento, destinaram-no à pregação.
Fortaleza em face do desejado martírio
No dia 24 de abril de 1622, Frei Fidelis de Sigmaringa celebrava o Santo Sacrifício da Missa em Grusch, pregando para os soldados a respeito da blasfêmia. De repente, entrou em êxtase, revelando-lhe Deus que aquele dia seria o de sua glorificação. Após a Missa, ficou longo tempo rezando diante do altar, partindo depois para Sevis. No caminho, caiu nas mãos de soldados protestantes, dirigidos por um ministro da mesma seita. Na recusa de abraçar o calvinismo, respondeu: "Eu vim até vós para refutar vossos erros, e não para aceitá-los".
A esta resposta, um dos heréticos desferiu-lhe um golpe na cabeça, lançando-o por terra. O mártir conseguiu ainda pôr-se de joelhos e dizer: "Ó Maria, Mãe de Jesus, assisti-me neste transe!".Outro golpe lançou-o por terra. Seu crânio foi despedaçado por uma maça e seu corpo apunhalado várias vezes sem piedade. Cortaram-lhe, enfim, uma das pernas para castigá-lo por suas andanças tentando convertê-los. Contava esse herói de Jesus Cristo apenas 45 anos de idade.
O corpo de Fidelis foi levado a Weltkirchen, com exceção da cabeça e da perna esquerda, que tinham sido dele cortados pelos hereges. Estes foram para a catedral de Coire. Devido ao grande número de milagres que desde então começou a se operar pela intercessão de São Fidelis de Sigmaringa, foi ele beatificado em 1729, e canonizado 17 anos depois. Tornou-se o Santo o protomártir da Sagrada Congregação da Propaganda Fidei.
Por volta de 1740, no sopé da Chapada do Araripe, lado do Ceará -- distante 600 km do litoral nordestino -- um frade menor capuchinho, Frei Carlos Maria de Ferrara, construiu uma humilde capela (de taipa e coberta de palha) para a celebração das solenidades e ritos litúrgicos, na então Missão do Miranda (origem da cidade de Crato), capelinha destinada à evangelização dos índios Cariris. Frei Carlos de Ferrara dedicou esta humilde capela ao Deus Uno e Trino, a Nossa Senhora da Penha e, ao então Beato Fidelis de Sigmaringa. Este -- desde àquela época -- é de fato Co-padroeiro de Crato.
Por volta de 1740, no sopé da Chapada do Araripe, lado do Ceará -- distante 600 km do litoral nordestino -- um frade menor capuchinho, Frei Carlos Maria de Ferrara, construiu uma humilde capela (de taipa e coberta de palha) para a celebração das solenidades e ritos litúrgicos, na então Missão do Miranda (origem da cidade de Crato), capelinha destinada à evangelização dos índios Cariris. Frei Carlos de Ferrara dedicou esta humilde capela ao Deus Uno e Trino, a Nossa Senhora da Penha e, ao então Beato Fidelis de Sigmaringa. Este -- desde àquela época -- é de fato Co-padroeiro de Crato.
(Postado por Armando Lopes Rafael)