
CRATO, QUEM CHORA POR TI?
Fui desperto do meu sono bem cedo na manhã de sexta feira (dia 28) por uma ligação telefônica de uma amiga do Crato que me deu a noticia da tragédia. Dizia com voz nervosa: Nilo, o Crato veio abaixo. Meu primeiro pensamento foi uma antiga fantasia/brincadeira sobre a “Pedra da Batateira”. Continuando relatou-me em poucas palavras o “desastre”. Corri para o note book e acessei os blogs e páginas de amigos. Fiquei paralisado a princípio pelas fortes imagens e indaguei se havia perdas humanas. Até o presente não! Menos mal. Faço um corte e retorno na dobra do tempo à Rua da Pedra Lavrada. A casa de minha vó Doninha, que ainda está no mesmo lugar, fica numa esquina e o fim da pequena rua descamba no Rio Grangeiro. O “espetáculo” proporcionado pela cheia do rio carregando tudo excitava a fantasia de meninos e e emninas daquela época e nos propiciava momentos de deleite. O rio corria solto, livre de amarras e obedecendo a sua sinuosidade. Arrastando tudo que encontrava no seu leito. Do fim da calçada, sentados, olhávamos a outra margem distante do lado do Seminário. Ríamos a beça....com tudo que o rio carregava...mas ia embora...
Nos invernos mais bravios chegava a água chegava até a casa de D. Almina.
Corto e retorno a “modernidade”. Sou fã de arquitetura e urbanismo, meu professor de Francês durante cinco anos na Alliance Française é arquiteto e Professor Doutror do Curso de Arquitetura e Urbanismo UFPE. Leio muito sobre o assunto e troco muitas idéias com ele e outros colegas. Isso não faz de mim um “expert”, mas me abre a mente para o exercício da crítica e reconhecer determinadas aberrações e inconseqüências, desleixos e falta de visão de planejamento urbano. Refiro-me aqui a minha cidade natal.
Ninguém é responsável por chuvas, e catástrofes da natureza. Nem o Prefeito, nem os Secretários, nem os Garis,e muito menos nós Cratenses, o povo! Uso, até sem licença do autor, mas como forma de ilustrar o que vou discorrer a seguir, um artigo recente de Pompeu de Toledo. Diz ele: “...( ) Duas hipóteses benignas, existentes desde que a mente humana tomou forma, conduzem a um enigma, sempre que ocorrem desastres naturais como o que assolou a Região Serrana do Rio de Janeiro. A primeira hipótese é de que Deus, Ser superior que é, dotado dos mesmos atributos de delicadeza, generosidade e correção que, somados, resultam naquilo que os homens entendem por “bondade”. Se Deus existe, e se é bom, como explicar castigo infligido a nova Friburgo, Teresópolis,, Petrópolis, São Paulo, Haiti e o CRATO? (Crato é introdução minha no texto).
O Filósofo VOLTAIRE no séc. XVIII, impressionado com a destruição de Lisboa, escreveu refutando a tese de VINGANÇA DIVINA: “Lisboa, que não existe mais, teria mais vícios/Que Londres, Paris, mergulhados nas delícias? / Lisboa está em ruínas, enquanto se dança em Paris”.
Parte do Crato está o caos enquanto se dança aqui em Petrolina, Fortaleza e Recife. Não são avisos do Céu, embora existam avisos. Li o artigo do Emerson Monteiro e de outros companheiros que só me fazem recordar que esses “avisos” da natureza já vinham sendo dados há anos, repetidos a intervalos. “Li o artigo de um arquiteto do Crato discorrendo sobre a “urbanização” do Canal do Rio Grangeiro”, obra pensada para “ordenar”, “domar” e construir vias de tráfego nas margens tomadas ao pequeno, mas indômito rio Cratense que diz: “Quero o meu leito de volta e levo tudo que encontrar a frente”! Quero minha sinuosidade natural e meu espaço para correr livremente, eu não sou uma reta! Eu sou um RIO!
Cratenses, meus amigos. Quando li e vi as fotos nos blogs e vejo essa gente que se desloca de Fortaleza e vem “sobrevoar” o desastre me dá ânsias de vômito!
Caras falsamente compungidas, dedos apontados, bonés ridículos sobre a cabeça: “INDEFESA CIVIL” numa pantominia grotescaa. Depois vão se “reunir” para as medidas de EMERGÊNCIA. BALELA! Reunir pra traçar ações de emergência? A Defesa Civil já devia estar equipada, com voluntários em numero suficiente, treinados e capacitados. O Corpo de Bombeiros já sabe o que fazer, a Polícia também! Botar seus homens na rua para garantir a integridade patrimonial e evitando saques da malandragem local ou a atraída das cidades encostadas ao Crato. Ao Senhor representante do Governo do Estado, ao Senhor Prefeito e demais autoridades em “visita” ao Crato. Não queremos espetáculos, e fotos dos senhores com cara de quem está preocupado com alguma coisa que não seja as vossas reeleições. Nós queremos ações ESTRUTURANTES e ESTRUTORADORAS PERMANENTES, planos concretos de recuperação, verbas definidas e REQUALIFICAÃO DO CANAL E DAS ENCOSTAS dos morros, do trânsito urbano, reordenação e planejamento estratégico da indefectível invasão das motocicletas e moto taxis(fenômeno urbano recente mas que se deixado sem controle (como já está) produzirá mais e mais acidentes com mortes ou incapacitações onerando sobremaneira o sistema de saúde, sem falar nas perdas de vidas). Ou vai prevalecer a velha prática de só aparecer em época de eleições e catástrofes? Excelente exemplo nos deixou o Governo Federal passado com sua fanfarronice e mentiras, além de equívocos e blagues diplomáticos que hoje, pouco a pouco, cérebros com mais de dois neurônios começam a entender a triste peça mambembe encenada por Lula e seus acumpliciados.
Só para refrescar a memória, somos hoje o 73° País na última medição do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) atrás de Países como diz TOLEDO, “pobretões” da Europa e Latino América tipo: Romênia, Sérvia, Bulgária, muito atrás do Chile, Argentina, Uruguai, México, Costa Rica e até do Peru. Cito TOLEDO: “( )...sorte nossa que na apuração do IDH , além do PIB per capita, escolaridade e da expectativa de vida...não entra o índice das casas que desabam dos morros...e nem das cheias previsíveis e do completo abandono e descaso da administração da cidade do Crato. Senhor Prefeito e Secretários! Os senhores não fazem chover nem são responsáveis diretos pela catástrofe e o caos de nossa cidade. Mas são responsáveis por tudo o que não fizeram ou deixaram de fazer. Uma pergunta que não quer calar: Existe uma Câmara de Vereadores no Crato?
Nilo Sérgio Duarte Monteiro
Cratense da gema. Nascido na Praça da Sé
E estou de frente pra serra. Parti, mas nunca sai do meu Crato Amado.