As três prefeituras do Crajubar – Crato, Juazeiro e Barbalha –

A última redemocratização do Brasil ampliou a liberdade de expressão. Por isso é comum ouvir-se dos cidadãos e cidadãs esta pergunta: para que servem os vereadores? Teoricamente eles deveriam elaborar leis e fiscalizar o poder Executivo. Na prática, eles se reúnem duas vezes por semana (em Barbalha a reunião só acontece uma vez na semana: às segundas-feiras. Se o mês tiver cinco segundas-feiras, na última não há reunião). Aberto o expediente do dia lê-se a ata da reunião anterior, correspondências, avisos, comunicações e pareceres. A segunda parte é a chamada Ordem do Dia, quando os vereadores fazem pronunciamentos, geralmente pedindo ao prefeito – através de requerimentos – melhoramentos para suas bases: calçamento, estradas, ampliação de escolas etc. Ou então apresentam projetos dando (ou mudando) o nome de ruas e de obras públicas, concedendo títulos de cidadania, dentre outros.
Na época da Monarquia, os vereadores não recebiam remuneração e eram geralmente os homens mais respeitados e de mais destaque nos seus respectivos municípios. Investidos como vereadores eram responsáveis pela fiscalização da coleta dos impostos, por regular o exercício de profissões e ofícios, cuidar da preservação do patrimônio público, criar e gerenciar prisões etc. Naquela época o vereador mais votado assumia a presidência da câmara e governava seu município, visto que até então não havia a figura do "prefeito". Com o golpe militar de 15 de novembro de 1889 – que instaurou a atual República – as câmaras municipais foram dissolvidas e os “presidentes dos estados” (hoje governadores) nomeavam os membros do “conselho de intendência”. Em 1905 criou-se a figura do "intendente" (atualmente chamado prefeito) que permaneceu até 1930. Com o início da ditadura de Getúlio Vargas (que durou 15 anos) criou-se as prefeituras, às quais foram atribuídas as funções executivas nos municípios. A partir daí as câmaras municipais passaram a ser o que são hoje....

história política bem “republicana”
Acima, óleo sobre tela do pintor F. Matos retratando a grande concentração pública de 7 de setembro de 1910, quando o cratense padre Alencar Peixoto proclamou a independência de Juazeiro do Norte.
Juazeiro do Norte vai completar cem anos de vida política daqui a seis meses. Mas já possui uma boa tradição “republicana” nessa área. O historiador Daniel Walker sintetizou bem a história prefeitos juazeirenses. A ver: “Na verdade, a história política de Juazeiro sempre foi bastante conturbada. Senão, vejamos. Em 1911, o primeiro prefeito (nomeado, Padre Cícero) foi deposto (naquele tempo não se falava na palavra cassado) em menos de quatro meses de mandato. Houve o caso de um (José André de Figueiredo) que foi nomeado, mas não assumiu, e outro (José Ferreira de Menezes), que ganhou a eleição, mas também não assumiu. E a história registra ainda um fato pitoresco, para não dizer grotesco e seboso, em que um candidato (Alfeu Ribeiro Aboim) foi eleito por um partido e tão logo foi eleito se filiou ao partido derrotado e, por isso, recebeu de um correligionário decepcionado um banho de fezes (de fezes mesmo!) quando andava numa rua da cidade. E mais: durante a sua centenária história política Juazeiro sofreu intervenção 15 vezes. Um deles (José Geraldo da Cruz) foi interventor em três ocasiões. O último caso de intervenção ocorreu em 1975 quando o prefeito eleito (Mozart Cardoso de Alencar) foi deposto, ficando em seu lugar o interventor Erivano Cruz. Portanto, o que está acontecendo agora não é surpresa para quem conhece a história de Juazeiro. É uma pena dizer isto no ano do centenário, mas a história política de Juazeiro é uma novela! Qual será o próximo capítulo?”
Curtas
1 -- Foi concluída a obra de instalação de iluminação no desvio da rodovia CE-293. Esse desvio retirou o trânsito do centro de Missão Velha levando os veículos a trafegarem por fora daquela cidade.
2 -- Fechou por diminuição de freqüência o Restaurante Popular de Juazeiro do Norte. O reajuste no preço da refeição em 100% (de R$ 1,00 para R$ 2,00) teria sido a causa do afastamento da clientela.
3 -- Iniciadas as obras de recuperação das pinturas existentes no forro da Catedral de Crato, bem como instalação dos suportes para telões. Estes possibilitarão os fiéis acompanharem – nas laterais da igreja – as solenidades religiosas que superlotam o templo dedicado a Nossa Senhora da Penha.
4 -- Tem cheiro de Juazeiro do Norte no ar! Está na coluna de Donizete Arruda, no último número do “Jornal do Cariri”: “Cinco partidos – PDT, PSB, PV, PMDB e PCdoB – se rebelaram contra a administração do prefeito de Barbalha, José Leite (PT) - foto ao lado - A tensão se ampliou e atingiu até o PT do prefeito, já que o próprio presidente do PT barbalhense, Antônio Hélder, sustenta quer irá trabalhar para demitir os parentes do prefeito José Leite.” Ora, ninguém acredita que um contingente tão considerável venha a ficar sem emprego.
Crato: memória iconográfica
1 -- Na foto acima, monsenhor Antonio Alexandrino de Alencar e a irmã deste, Matilde. Ele foi vigário de Crato entre fevereiro de 1892 e maio de 1900. Presidiu a Segunda Comissão designada por dom Joaquim José Vieira, bispo do Ceará, para apurar o fenômeno que passou à história como o Milagre da Hóstia, protagonizado pela Beata Maria de Araújo. Esta foi transferida para a Casa de Caridade de Crato, por determinação do bispo. Maria de Araújo, obedecendo ao Monsenhor Alexandrino, ficava com a boca aberta durante 15 minutos, após receber a comunhão. E antes disso levava uns “bolos” de palmatória nas mãos, para dizer a razão da hóstia virar sangue. No livro “Juazeiro e o Pe. Cícero”, escrito por Floro Bartolomeu, consta o seguinte: “Mons. Antônio Alexandrino de Alencar quando, desgostoso, teve de retirar-se da Diocese do Ceará para a do Piauí, onde faleceu, foi propositadamente a Juazeiro e, do altar da igreja, com lágrimas nos olhos, em altas vozes, pediu perdão ao povo pelas injustiças por ele cometidas na direção do Inquérito, contra o padre e as demais pessoas acusadas, alegando ter assim procedido em obediência às ordens recebidas”.
(Foto: Arquivo de Almina Arraes de Alencar Pinheiro)
2 -- Nas fotos abaixo vemos aspectos de Crato na década 20 do século passado. Uma cidade bonita, com praças bem cuidadas, prédios aristocráticos e uma população bem vestida. Reproduzimos uma reportagem publicada na revista “Eu Sei Tudo”, Magazine Mensal Illustrado, de propriedade da Companhia Editora Americana, do Rio de Janeiro, Volume VII, junho, 1923, 124p.
(as fotos, abaixo postadas foram gentilmente remetidas por Renato Casimiro).
Abaixo, a Praça da Sé, na década 20 passada, vendo-se atrás os casarões coloniais da Rua Miguel Limaverde demolidos na administração do prefeito Walter Peixoto na década 80

