Artista plástico Luís Massai Karimai, ao lado de uma de suas obras, no Espaço Lá na Praça, em Crato - FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS - Integrante do Théâtre du Soleil de Paris, Maurice Durozier trocou experiências e incentivou os futuros atores.
Barbalha - Os alunos da Escola de Artes Reitora Violeta Arraes, em Barbalha, tiveram a oportunidade de participar, neste fim de semana, de um momento que consideram ímpar para o aprendizado. O ator e diretor francês Maurice Durozier, integrante do Théâtre du Soleil de Paris, retorna ao Cariri para ministrar oficina para os estudantes. Há alguns anos, ele veio a convite da ex-secretária de Cultura do Estado, Violeta Arraes, sua amiga, e agora ministra palestra na escola que a homenageou com o nome, a convite da Universidade Regional do Cariri (Urca), e do diretor da Fundação Araripe, Pierre Gervaiseau.
Os alunos do curso de Licenciatura em Teatro estiveram reunidos no anexo III do campus de Barbalha. Alguns exercício e dicas importantes foram repassadas pelo ator veterano e um dos maiores nomes das artes dramáticas da França. Da primeira vez em que Maurice Durozier esteve no Cariri, ministrou oficina para os alunos da Escola do Belmonte, em Crato. Para ele, um dos momentos importantes de sua vida, porque não esqueceu a região do Cariri, de uma natureza e um pôr do sol que, para ele, são inesquecíveis. Este é um reencontro que, segundo o ator, pretende promover no próximo ano, a depender de sua agenda, para passar mais de sua experiência para os alunos da região. O ator veio ao Ceará este ano aproveitando o período de férias, mas não se importa de ter trocado o descanso pelo trabalho.
"Estou muito feliz por ter vindo a Barbalha repassar um pouco de minha experiência", diz ele, ao ressaltar que esse momento, na verdade, foi um pouco imprevisto. O ator também ministrou oficina em Fortaleza, no Theatro José de Alencar, com apresentação de filmes e um pouco da história do Théâtre du Soleil.
Experiências dísparesDuas experiências diferenciadas, vividas pelo ator, foram apresentadas aos participantes, trazendo aos alunos questões como a da liberdade de participação das mulheres nas artes dramáticas, principalmente na França e em Cabul (capital do Afeganistão), com a proibição ao extremo por conta da cultura local. "Uma mulher que vai ao teatro em Cabul corre perigo de morte", diz Maurice, que também repassa um pouco de sua experiência de diretor.
Emoção como base para o trabalho do ator. Esse foi o ponto de partida para desenvolver o breve diálogo, que somou muito para os iniciantes na área. Ele espera que os alunos tenham entendido o recado e aproveitou para dar um conselho.
"Acreditar na arte e na força do teatro". Maurice Durozier acrescenta que o caminho para o artista, em qualquer parte do mundo, é muito difícil e cheio de obstáculos, principalmente, na confrontação com o material. "Mas, quando se tem paixão, pode-se seguir o caminho", reforça o ator.
O professor de Direção Teatral da Escola de Artes Reitora Violeta Arraes, Duílio Cunha, destaca essa oportunidade como um privilégio. Ele afirma que receber artistas ligados a cena contemporânea de um dos mais importantes movimentos do teatro mundial é marcante para a formação do ator. O aluno Uiarlei de Almeida Barros enfatizou a importância do contato por aprender algo novo com a oficina.
"O que ele pôde nos passar nesta oficina jamais será esquecido. São momentos que têm uma representatividade dentro do processo de formação", completa o futuro ator.
Com 56 anos, Maurice Durozier voltou ao Estado para uma nova edição da oficina "O teatro é o outro", com apoio da Cultures France, promovido pelo Ministério da Cultura brasileiro e o governo francês. As oficinas de Durozier revelam a abordagem mais dinâmica do Theâtre Du Soleil, como ressalta o próprio, tendo entre as bases os princípios de teatro coletivo com grandes grupos de pessoas, distinguindo tal direcionamento como escolhas também estéticas e políticas. A improvisação e a experimentação de estados emocionais dos atores na cena também pousam na essencial relação com o outro. Essa noção de partilhamento é prioritária para Durozier, que passa à cena teatral as minúcias que envolvem a relação plena com o outro, sejam os artistas que dividem a atuação, sejam também o próprio público espectador.
Elizângela Santos
Repórter do Jornal Diário do NordesteColaboradora do Blog do Crato