
Nos tempos em que padre Cícero atuava, indicação do religioso tinha força de lei. Hoje, o vigor do símbolo é mais folclórico do que efetivo
Denise Rothenburg
Juazeiro do Norte — Na terra em que a figura do padre Cícero Romão Batista está em toda parte, religião e política se misturam. Não existe um candidato a governador ou senador que não passe pela estátua ou pela capela onde o Padim Ciço está enterrado. Foi o próprio padre que, em 1911, colocou política e religião sob o mesmo teto, ao se tornar o primeiro prefeito da cidade emancipada do Crato (CE).
Naquele tempo, bastava o padim apoiar e o político estava eleito. Foi assim, por exemplo, em 1921, com o deputado Floro Bartolomeu, que se lançou candidato a federal avulso, sem legenda, apenas com a chancela de padre Cícero, famoso pelas romarias que congregava no Nordeste.
“A cidade de Juazeiro só cresceu por conta da importância política de Padre Cícero. No seu tempo, ele foi consultado e ouvido pelo presidente da República. Juazeiro tinha muito mais importância nacional”, conta o deputado Manoel Salviano (PSDB-CE), que é da região do Cariri e na última semana recebeu o pré-candidato do PSDB, José Serra, para uma visita à cidade e aos militantes tucanos.
Hoje, no entanto, a população está mais ressabiada, separando mais as estações. “Hoje é assim: se vier no tempo de candidato, não vale nada”, afirma Luiz José dos Santos, 90 anos. Ele chegou a Juazeiro há 68 anos, de visita. Vinha de Pernambuco, da cidade de Belo Jardim, onde nasceu. O “padim apareceu e pediu que eu ficasse”, afirma, referindo-se a uma “visão divina”. Hoje, esse senhor é famoso pelas “rezas” que faz sobre a cabeça daqueles que o procuram na entrada da Capela do Socorro, onde está enterrado o Padim. “Em tempo de romaria, não dá para nem para falar com ele”, conta Terezinha Silva Santos, 64 anos, que não faz a menor ideia sobre a existência de eleição este ano ou mesmo quem são os candidatos.
Valor
A população da cidade hoje não se deixa levar pela mistura total de política e religião daquela época, mas muitos, na hora do voto, consideram que tipo de fiel é um candidato. “Aqui, a pessoa dá muito valor à Igreja. Eu mesmo valorizo muito um candidato que tenha fé”, comenta Maria Cilene Barbosa, trabalhadora rural aposentada, prestes a completar 79 anos. Ela ouviu falar da visita de José Serra na TV, até prestou alguma atenção, mas diz que ainda não escolheu em quem votará: “Na hora, a gente vê”, diz ela, que não está muito ligada no assunto. O artesão José Everaldo Vieira da Silva, 23 anos, vai na mesma linha: “Nem sei quando tem eleição. É este ano? Eu sei que tem Copa do Mundo”, afirma.
A mesma população que não está nem aí para a eleição, está de olho no Vaticano. O padre José Venturelli, responsável pelo horto onde fica a estátua de Padre Cícero, fez parte da comissão que, em 2006, foi a Roma colher informações sobre o processo de reabilitação de Padre Cícero, que morreu em 1934 sem saber que estava excomungado da Igreja. “Cometemos duas mancadas: a primeira foi não levar a Roma dados sobre como o estudo estava prosseguindo. E a segunda foi o vazamento de que iria chegar lá um grupo popular de pressão pela canonização. Portanto, não fomos bem recebidos”, conta Venturelli. “O Papa ainda não sabe, mas meu padrinho já é santo lá no céu. Onde o povo coloca, ninguém tira”, diz Terezinha, resumindo a visão que predomina em Juazeiro. Ali, Padre Cícero é o senhor do destino. Ali, diz a sabedoria popular, eleição, saúde, diploma, são as “graças alcançadas” com as bênçãos do padrinho.
EMPATADOS
A pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, empatou com seu maior adversário, o ex-governador José Serra (PSDB), nas intenções de voto dos eleitores, segundo pesquisa Datafolha, divulgada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo. Ambos aparecem com 37%. Na sondagem anterior, em meados de abril, a ex-ministra tinha 30% das intenções de voto e Serra, 42%. A pré-candidata do PV, Marina Silva, manteve-se estável em relação à última sondagem, com 12%. Votos nulos, em branco ou nenhum somam 5%. Os indecisos são 9%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número 12044/2010. Realizada na quinta-feira e sexta-feira com 2.660 eleitores, possui margem de erro de dois pontos percentuais.
Correio Braziliense , 23 de maio de 2010 - Denise Rothenburg - Política.