
Basta vasculhar o noticiário desta semana para perceber a alta importância da verdade estatística no nosso dia-a-dia. O Ministério da Saúde divulgou, em pesquisa realizada em 2008, que quase 50 milhões de brasileiros ( entre 15 e 64 anos) vivem com companheiros e que o índice de relações casuais , nas relações fixas, é de 21% entre os homens e 11% entre as mulheres. Estes índices, se comparados a 2004 , quase que dobraram. Já nos Estados Unidos, estudo recente divulgado pela Universidade da Pensilvânia, demonstrou que o patamar de felicidade dos homens e mulheres despencou nas últimas décadas, mas que o “bem-estar” subjetivo do sexo feminino foi o que mais caiu, principalmente se comparado com níveis de 1970. Difícil resistir à tentação de não refletir sobre estes números, vivendo numa época em que a matemática tem se tornado mais importante do que a história e a filosofia. Apenas 25 % das pessoas adultas no Brasil vivem com companheiros fixos, esta taxa parece demonstrar a tendência mundial de as pessoas cada vez mais se afastarem dos relacionamentos estáveis. As construtoras ( embasadas em pesquisas) andam construindo apartamentos cada vez menores para inquilinos solitários e com filho único ou sem filhos. Homens e mulheres têm priorizado a vida profissional e vão substituindo as complicações da vida a dois por viagens, empregos, estabilidade. O Ministério da Saúde descobriu ainda o que todos já sabíamos. O outro e a outra cada vez fazem mais parte indissociável da família brasileira. E o sexo casual, que anteriormente parecia ser um monopólio do sexo masculino, já é exercitado plenamente pelas mulheres -- dentro ou fora do casamento. Adúlteras célebres como a Luíza do “Primo Basílio”, Ana Karenina de Tolstoi e Madame de Bovary de Flaubert hoje já não dariam motivo para romances. Para desespero dos moralistas, a traição, sempre exorcizada com muita hipocrisia, historicamente fez parte das juras de altar e, mais que isso, vem se tornando quase um sacramento.
Os números da pesquisa dos EUA , um país que é quase uma cifra, demonstram, por outro lado, que o nível de felicidade de homens e principalmente das mulheres vem despencando nas últimas quatro décadas. Por quê ? Bem, caro leitor, cada um tem lá suas explicações , permitam-me, neste período junino, pôr meu amendoim neste pé-de-moleque. A solidão, a fuga dos relacionamentos, o individualismo exacerbado, a meu ver, têm muito a ver com isso. A felicidade pressupõe troca , cumplicidade, mutualidade. A casualidade dos relacionamentos, com toda sua carga superficial, pode ter o poder de solucionar nossos desejos mais prementes , mas nos trazem uma satisfação fugaz e transitória: o etéreo dificilmente leva ao eterno. O mesmo acontece com os bens de consumo que são os ícones da nossa sociedade moderna: caiam nossos corpos, mas não preenchem nossa alma. E as mulheres, as mais atingidas pelo poder toxicomônico do consumo, são as mais susceptíveis. As lutas feministas lhes abriram fronteiras profissionais e humanas incomparáveis. Como Napoleão chegaram triunfantemente em Moscou e agora se perguntam: são só esses os espólios da guerra? O gelo as aguarda do outro lado dos muros.
É preciso perceber a relatividade de todos esses índices. A garrafa de vinho pode estar 50% vazia ou 50% cheia e ambas assertivas são verdadeiras. “Meio triste” e “meio alegre” são denominações iguais de um mesmo grau de bem-estar. O computador computa quase que tudo só não computa a dor. Cada percentagem, caprichosamente, mascara uma vida que palpita escondida atrás de cada algarismo. E eu vou terminar este texto antes que você leitor, num sábado, conclua que ele 0% proveitoso , 100% chato e impróprio , pois, percentualmente, para o consumo.
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